Tendências da pesquisa em Jornalismo

Tendências da pesquisa em Jornalismo em Portugal: 1974-2010 [1]

Jorge Pedro Sousa e Ana Lúcia Prado

Universidade Fernando Pessoa e Centro de Investigação Media e Jornalismo

Sumário

Este trabalho procura desenhar as tendências dos estudos jornalísticos em Portugal entre 1974 e a actualidade. Incide na leitura e análise dos livros consagrados à pesquisa sobre jornalismo que, durante esse tempo, foram publicados no país, por autores portugueses. Conclui-se que a natureza ensaística anterior a 1974 dos estudos jornalísticos portugueses foi substituída por uma perspectiva “científica”, marcada, no entanto, pelo hibridismo teórico e metodológico. Todavia, podem definir-se nove campos, ou tendências, de pesquisa sobre jornalismo em Portugal: 1) Teoria do jornalismo; 2) Produção jornalística; 3) Sociologia dos jornalistas; 4) Jornalismo, política e democracia; 5) Análise das mensagens jornalísticas; 6) História do jornalismo; 7) Economia e gestão dos media jornalísticos; 8) Direito, ética e deontologia do jornalismo; e 9) Jornalismo de proximidade, sendo mais relevantes as linhas sobre história do jornalismo, análise de mensagens jornalísticas e produção jornalística. Podem somar-se, ainda, as reflexões ensaísticas sobre a praxis profissional dos jornalistas, resultantes, por exemplo, do trabalho dos provedores dos leitores.

Resumen

Este trabajo pretende diseñar las tendencias de los estudios periodísticos en Portugal entre 1974 y el presente. Se centra en la lectura y análisis de los libros dedicados a la investigación sobre el periodismo que durante ese tiempo se han publicado en el país por autores portugueses. Se concluye que la naturaleza ensayística de los estudios periodísticos portugueses de antes de 1974 ha sido sustituida por un punto de vista “científico”, marcado, sin embargo, por hibridismo teórico y metodológico. Todavía, se pueden definir nueve campos, o tendencias, en la investigación portuguesa sobre el periodismo: 1) Teoría del periodismo; 2) Producción periodística; 3) Sociología de los periodistas; 4) Periodismo, política y democracia; 5) Análisis de las mensajes periodísticas; 6) Historia del periodismo; 7) Economía y gestión de los medios periodísticos; 8) Derecho, ética y deontología del periodismo; y 9) Periodismo de proximidad, siendo las más relevantes las líneas de investigación de la historia del periodismo, análisis de mensajes periodísticas y producción de información en periodismo. Se pueden incluir también las reflexiones sobre la praxis profesional de los periodistas, resultado, por ejemplo, del trabajo de los proveedores de los lectores.

Abstract

This work seeks to draw the trends in Journalism Studies in Portugal between 1974 and the present time. It focuses on reading and reviewing Portuguese books, written by Portuguese authors, devoted to the research on journalism during that time. We conclude that, prior to 1974, essays were the main result of Portuguese journalism studies, but in more recent years essays were replaced by a “scientific” approach, marked, however, for theoretical and methodological hybridity. Nine trends can be identified on Portuguese journalism studies: 1) Journalism theory; 2) Journalistic production; 3) Sociology of journalists; 4) Journalism, politics and democracy; 5) Analysis of journalistic messages; 6) History of journalism; 7) Journalistic media economics and management; 8) Journalism law and ethics; and 9) Proximity journalism. The most relevant of these research trends are: journalism history; journalistic messages analysis; and the processes of journalism production. We can include another field of research: newspaper’s ombudsmen views on journalists’ professional practices.

Currículo dos autores

Jorge Pedro Sousa é jornalista, livre-docente (agregado) em Jornalismo pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Portugal) e doutor e pós-doutor em Jornalismo pela Universidade de Santiago de Compostela (Espanha). Trabalha como pesquisador e professor da graduação e da pós-graduação na Universidade Fernando Pessoa (Portugal) e é membro do Centro de Investigação Media e Jornalismo (Portugal).

Ana Lúcia Prado é jornalista, mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (Brasil) e doutoranda em Jornalismo na Universidade Fernando Pessoa (Portugal). É professora-adjunta II e pesquisadora na Universidade da Amazônia, em Belém-Pará (Brasil).

Introdução

Estudos conduzidos por Sousa et al. (2007) acerca da pesquisa e da reflexão sobre jornalismo em Portugal até 1974 mostram que o país tem uma longa tradição de investigações no campo do jornalismo, remontando a 1644 o seu primeiro indício – um trabalho de Luís Marinho de Azevedo sobre verdade e mentira nos jornais. Esses estudos, maioritariamente constituídos por ensaios, até 1974, foram dedicados, especialmente, a três campos: a discussão sobre opinião pública e liberdade de imprensa; a historiografia do jornalismo e dos jornalistas (incluindo várias biografias); e as reflexões sobre a profissão e livros de memórias. (SOUSA et al., 2007) Podem citar-se como exemplos, pelo seu pioneirismo ou consistência científica:

1) No campo da história do jornalismo, o livro História da Imprensa Periódica Portuguesa, de 1965 (reeditado em 1989), que ainda hoje é a principal referência historiográfica do Jornalismo português no período da Monarquia;

2) No campo da sociologia dos media e do jornalismo, os trabalhos de José Júlio Gonçalves, um autor que não suscita unanimidade e que foi votado ao ostracismo, mas cuja aplicação pioneira, em Portugal, de um viés sociológico e antropológico aos Estudos Jornalísticos deveria ser reconhecida. Dele, pode citar-se, por exemplo, a obra Sociologia da Informação, de 1962.

3) Quanto às discussões sobre opinião pública e liberdade de imprensa, que, segundo Sousa et al. (2007), datam dos tempos da Revolução Liberal de 1820, o conhecimento produzido oscilou entre a reflexão filosófica e o enquadramento jurídico da questão. Podem referir-se, a título de exemplo, a obra de Marcelo Caetano (1965) intitulada A Opinião Pública no Estado Moderno e os trabalhos de Alberto Arons de Carvalho Da Liberdade de Imprensa (1971), escrito em parceria com Monteiro Cardoso, e A Censura e as Leis de Imprensa (1973).

Apesar de essas serem as principais áreas dos estudos jornalísticos no país, há exemplos de pesquisas noutros âmbitos. Por exemplo, uma das primeiras, quiçá a primeira, análise do discurso jornalístico feita em Portugal e publicada em livro foi da autoria de Jacinto Baptista, incidindo sobre Um Jornal na Revolução: “O Mundo” de 5 de Outubro de 1910 (1966).

De qualquer modo, só se pode falar, com propriedade, de uma área disciplinar consagrada aos estudos jornalísticos em Portugal a partir do momento em o campo se institucionalizou academicamente e a pesquisa, abandonando a sua natureza ocasional e predominantemente memorialista ou ensaística, se tornou sistemática e científica[2]. Coincide esse momento com a fundação, no país, de cursos de Comunicação Social e com a criação de centros de pesquisa associados a esses mesmos cursos. São os casos, nomeadamente, da primeira graduação em Comunicação Social, que data de 1979, e foi implementada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e do Centro de Estudos de Comunicação e Linguagens, que data de 1983 e surgiu ligado a este curso. Nos anos 80 e 90, os mestrados em Comunicação, com ramos ou disciplinas ligadas ao jornalismo, e mais tarde os mestrados e doutoramentos em jornalismo, tornaram mais consistente essa evolução. O pioneirismo, diga-se, pertenceu uma vez mais à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e ao papel liderante do professor Nelson Traquina, principal impulsionador dos estudos jornalísticos no país.

A pesquisa de Sousa et al. (2007) pára em 1974, ano da Revolução que introduziu a democracia em Portugal. Mas o que sucedeu depois, em matéria de estudos jornalísticos, em Portugal? Quais as tendências da pesquisa em jornalismo realizada no país? Quais os temas que motivaram a actividade dos pesquisadores? Este trabalho tem por objectivo contribuir para dar resposta a essas questões, que, ao mesmo tempo, delimitam o objecto da investigação – o levantamento das principais linhas de pesquisa em Jornalismo seguidas em Portugal.

Tendo em consideração que o objectivo do trabalho é (apenas) o de identificar as grandes tendências da pesquisa em Jornalismo produzida em território português, e considerando-se, a priori, que essa identificação de tendências pode ser observada através da leitura da literatura científica produzida pelos pesquisadores do campo, adoptou-se uma metodologia circunstancialista e qualitativa, culturológica, assente na leitura flutuante de obras representativas da investigação em jornalismo realizada em Portugal, com o objectivo de apurar as linhas de pesquisa seguidas pelos pesquisadores. Não se trata, portanto, de uma pesquisa com preocupações de exaustividade. Não é um inventário de toda a literatura científica sobre jornalismo publicada em Portugal, embora tenha cuidados de sistematicidade.

Limitou-se a pesquisa aos livros. Não se contemplaram, portanto, revistas (com excepção de dois números paradigmáticos da Revista de Comunicação e Linguagens), artigos, comunicações em congressos e teses e dissertações, por considerar-se que, para avaliação das grandes tendências de pesquisa, os livros – especialmente quando sujeitos a processos arbitrais de escolha – constituem uma amostra relevante e conveniente. Conveniente, desde logo, pela sua acessibilidade e pela consequente possibilidade de obtenção e delimitação fácil de um corpus de análise; relevante porque, normalmente, no campo dos estudos jornalísticos, os resultados das pesquisas de maior envergadura – e, portanto, mais representativas da investigação que se faz com profundidade e sistematicidade – tendem a ser publicitados em livros. Nesse campo científico, os artigos e as comunicações em congressos, pelo contrário, propendem apenas a dar conta de fenómenos parcelares que tomam parte de pesquisas mais abrangentes, consistentes e, consequentemente, também mais relevantes. Em acréscimo, as revistas científicas (como é o caso da marcante Media e Jornalismo, do Centro de Investigação Media e Jornalismo), apesar da sua importância para a publicitação arbitrada de resultados de pesquisas, têm uma matriz de participação internacional que as afasta do objectivo central deste trabalho: mapear as tendências da pesquisa em Jornalismo em Portugal. Por seu turno, as teses e dissertações mais valorizadas, depois de defendidas, tendem a ser publicadas em livros. Consequentemente, através dos livros deverá ser possível determinar as tendências gerais da pesquisa jornalística desenvolvida no âmbito de mestrados e doutoramentos, ainda que, em termos estritamente estatísticos, a amostra escolhida possa não ser representativa de toda a investigação que, em Portugal, toma o jornalismo por objecto. Foram escolhidos para integrar o estudo dois tipos de livros:

1) Obras que podem ser consideradas emblemáticas pelo seu pioneirismo ou interesse;

2) Obras integrantes das duas mais antigas colecções bibliográficas dedicadas ao campo – a da editora Minerva, a mais antiga; e a da editora Livros Horizonte, da responsabilidade do Centro de Investigação Media e Jornalismo.

Cabe reforçar aqui a opção metodológica pela escolha dos livros sobre Jornalismo lançados por essas duas editoras (relembre-se que não se incluíram nesta análise livros sobre outros temas da Comunicação igualmente publicados por essas editoras). As duas em conjunto detêm, até ao momento, 58 títulos (Tabela 1) dedicados à produção de trabalhos direccionados ao Jornalismo, um dado que coincidirá com o amadurecimento dos estudos nesse campo em Portugal, a partir da década de 1990, pelo que a sua análise dará, certamente, uma ideia das tendências temáticas dos estudos jornalísticos portugueses.

TABELA 1 – Livros publicados pelas editoras Livros Horizonte e Minerva

referentes especificamente à pesquisa em Jornalismo em Portugal

Tendo em conta que o trabalho procura determinar as tendências da pesquisa em Jornalismo em Portugal, um outro padrão de selecção norteou a selecção dos livros sobre os quais incidiu a pesquisa: as obras deveriam ser editadas em Portugal e reportar trabalhos desenvolvidos no país, por autores portugueses, sobre fenómenos jornalísticos portugueses. Logo, não foram abrangidos pela pesquisa livros que predominantemente dessem conta de realidades jornalísticas externas ao país, excepto se numa perspectiva comparativista, nem livros publicados fora de Portugal, mais direccionados, portanto, para outras comunidades científicas que não a portuguesa.

1. Os Estudos Jornalísticos no Portugal pós-revolucionário

A abertura trazida pela revolução de 25 de Abril de 1974 permitiu, logo em 1976, o lançamento da obra A Revolução Russa na Imprensa Portuguesa da Época, de César de Oliveira. Trata-se de uma análise crítica do discurso, ideologicamente enquadrada (pró-marxista), que, no entanto, tem o mérito de resgatar os enquadramentos dados pelos periódicos portugueses à revolução soviética de Outubro de 1917, mostrando que oscilaram entre a condenação e a exaltação.

Uma outra análise da imprensa, de pendor sociológico, está patente no trabalho de Nelson Traquina e Warren K. Agee (s/d) intitulado O Quarto Poder Frustrado: Os Meios de Comunicação no Portugal Pós-Revolucionário. É uma investigação onde se descreve, com suporte estatístico e jurídico, o estado os meios de comunicação social em Portugal entre o final dos anos 70 e o início dos anos 80. Os autores advogam, no livro, a desgovernamentalização do sector, uma maior democraticidade e transparência nos processos de licenciamento de novos veículos e uma renovação nos conteúdos, com mais reportagem de investigação e mais informação regional e local, condições necessárias, segundo eles, para que o jornalismo português se emancipasse, abandonando a sua desinteressante situação de “quarto poder frustrado”.

Em temos de investigação, a tradição historiográfica da pesquisa em Jornalismo também se manteve no Portugal pós-revolucionário, mas com monografias de âmbito regional, como é o caso do trabalho de Gil do Monte (1978) sobre o jornalismo eborense. Fora isso, em termos de pesquisa aplicada, não haverá exemplos relevantes de produtividade científica sobre Jornalismo em Portugal até à segunda metade dos anos oitenta, apesar de existirem outras obras sobre jornalismo e comunicação social publicadas nessa altura, casos, por exemplo, de vários manuais (por exemplo: Crato, 1983; Pereira, 1981) e de livros de pendor pedagógico (nomeadamente as colectâneas de textos organizadas por Rodrigues, Dionísio e Neves, 1981 – 1983, importantes para difundir, no país, autores centrais da hermenêutica do jornalismo e da comunicação social).

2. Dois números da Revista de Comunicação e Linguagens

Só a partir de meados da década de oitenta do século passado é que os estudos jornalísticos em Portugal entraram num tempo de contínua e relevante produtividade. Um dos sintomas foi a publicação, em 1988, de um número dedicado ao jornalismo da Revista de Comunicação e Linguagens, do Centro de Estudos de Comunicação e Linguagens da Universidade Nova de Lisboa, organizado pelo grande impulsionador dos estudos jornalísticos portugueses, Nelson Traquina.

Esse número da Revista de Comunicação e Linguagens, intitulado Jornalismos, permite mapear com algum rigor o tipo de pesquisa que se fazia, então, em Portugal. Ao tempo, contribuiu, igualmente, para dar a conhecer à comunidade académica portuguesa um conjunto de autores anglófonos relevantes no campo da aplicação da sociologia da cultura e das profissões ao estudo do jornalismo, o que desde logo é visível no artigo do próprio organizador, sobre “As notícias”. Mas nessa revista também é importante destacar, desse mesmo autor, a análise estrutural do discurso que as agências noticiosas internacionais produziram sobre Portugal em 1975; o ensaio de Adriano Duarte Rodrigues, o instituidor do primeiro curso de graduação em Comunicação Social em Portugal (o já referido curso da Universidade Nova de Lisboa), sobre a pragmática do acontecimento; e a investigação de Mário Mesquita, outro dos pioneiros dos estudos jornalísticos portugueses, sobre a luta do campo jornalístico pela sua autonomia no ambiente politicamente conturbado do período pós-revolucionário de 1974-1975, ele que escreveu com José Rebelo a análise O 25 de Abril nos Media Internacionais (1994). Alguns outros textos do número 8 da Revista de Comunicação e Linguagens são interessantes por exemplificarem mais algumas das linhas de pesquisa que se iam consolidando em Portugal no campo dos media e do jornalismo. O então jovem professor Francisco Rui Cádima, que se converteria num dos investigadores portugueses em Comunicação mais relevantes da actualidade, escreve um ensaio de pendor culturológico e crítico sobre a informação televisiva; Paquete de Oliveira, nome relevante da sociologia profissional dos jornalistas, escreve, baseado na sua tese doutoral[3], sobre a composição sociológica desse grupo profissional[4]; Pedro Jorge Braumann, pioneiro português dos estudos sobre gestão e economia dos media, estuda a economia e as finanças da imprensa, numa linha também seguida por Josel Hasse Ferreira, mas segundo um enquadramento mais prospectivo e ensaístico; José Rebelo faz uma análise predominantemente de pendor crítico ao discurso da imprensa sobre a greve geral de 28 de Março de 1988; e João Pissarra Esteves publicita um ensaio sobre as dinâmicas da comunicação social regional e local em Portugal. Assim sendo, pode dizer-se que, no final dos anos 80, a pesquisa portuguesa no campo do jornalismo se centrava em temas como:

1. A análise do discurso e na respectiva interpretação de resultados à luz da sociologia do jornalismo, seguindo orientações simultaneamente culturológicas e críticas;

2. A sociologia profissional dos jornalistas;

3. A economia e gestão dos media jornalísticos;

4. A análise (jurídica, económica, historiográfica, sociológica...) do importante sector da comunicação social regional e local portuguesa.

Esse mesmo número de 1988 da Revista de Comunicação e Linguagens sobre os Jornalismos autoriza que se fale da prossecução de duas formas de pesquisa em jornalismo em Portugal nessa época: o ensaio baseado na “macro-observação” da realidade, já com longa tradição no país; e a investigação de base empírica, principalmente alicerçada nos estudos do discurso jornalístico, o que, não sendo uma novidade, assoma pela primeira vez como uma tendência sólida.

No ano 2000, Nelson Traquina organizou um novo número da Revista de Comunicação e Linguagens, significativamente intitulado Jornalismo 2000. A comparação entre o número de 1988 e o número de 2000 dessa revista traz elementos importantes para se compreender a evolução dos estudos jornalísticos portugueses.

Nelson Traquina, no artigo “Jornalismo 2000: o estudo das notícias no fim do século XX”, faz um balanço da produção científica, sobretudo de matriz anglófona e sociológica, sobre o campo; é dele, também, uma análise do discurso da imprensa portuguesa sobre a Sida. Mário Mesquita, por seu turno, analisa, em jeito de ensaio, o jornalismo quer enquanto profissão “na era da comunicação transnacional” quer enquanto tema cinematográfico. Também sob a forma de ensaio, surge o texto de João Carlos Correia sobre “O poder do jornalismo e a mediatização do espaço público”, onde o autor aflora a questão do jornalismo público. Na mesma linha, mas aplicado à informação televisiva, o de Francisco Rui Cádima sobre “jornalismo virtual”. Finalmente, são de salientar dois textos sobre ciberjornalismo, o primeiro de Hélder Bastos, pioneiro, em Portugal, na investigação sobre essa forma de jornalismo, que tem o mérito adicional de recorrer a inquéritos; e o segundo de Anabela de Sousa Lopes, que se interroga, ecoando as preocupações da altura, sobre se as “notícias na Internet” seriam “um novo jornalismo”. Pode concluir-se, assim, que, em 2000, a análise do discurso jornalístico, quantitativa e qualitativa, culturológica e crítica, se mantinha como uma importante tendência da pesquisa em Jornalismo em Portugal, tal como ocorria com a sociologia e a antropologia profissional dos jornalistas, com a novidade do recurso ao inquérito como método de pesquisa[5]. A reflexão ensaística continuava forte, conforme se constata pelos trabalhos de Cádima e de Correia. De qualquer modo, comparando-se o conjunto de textos de 1988 com o conjunto de textos de 2000, a principal novidade parece ser a adição da investigação sobre jornalismo na Internet às tendências consolidadas dos estudos jornalísticos portugueses.

3. Obras paradigmáticas

Para além das citadas, quais as obras, publicadas em livro, que dão pistas para se percepcionarem as tendências da pesquisa em jornalismo (e exclusivamente em jornalismo, não em “comunicação”) em Portugal nos últimos 36 anos?

1. Produção de informação jornalística

No campo da sociologia do jornalismo, aplicada à produção de informação, merece destaque, desde logo, o importante trabalho de

Rogério Santos sobre A Negociação entre Jornalistas e Fontes de Informação, dado à estampa em 1997. Foi uma obra pioneira nos

estudos jornalísticos no país, quer pela aplicação cruzada da observação etnográfica, da análise do discurso e da entrevista num

tipo de investigação de que Portugal andava arredado, quer pela relevante e sistemática revisão bibliográfica a que recorre, quer

ainda porque o autor chega à conclusão de que a interacção entre jornalistas e fontes de informação é complexa e pautada pela

negociação, não se podendo, portanto, encarar os jornalistas como agentes passivos nessa relação e meros receptáculos das

informações dadas por fontes interessadas. O tema e o design das pesquisas de Rogério Santos são, de resto, seguidas noutras

obras paradigmáticas do mesmo autor, como Jornalistas e Fontes de Informação (2004) e A Fonte Não Quis Revelar (2006).

Em 1998, foi dado à estampa o livro Fotojornalismo Performativo: O Serviço de Fotonotícia da Agência Lusa de Informação,

resultante da tese de doutoramento de Jorge Pedro Sousa, defendida no ano anterior, e uma das primeiras realizadas por

portugueses no campo específico do jornalismo. Tem por motivo especial de interesse seguir uma estratégia de pesquisa similar à

de Rogério Santos, já que o autor cruza a observação participante com a análise do discurso, a entrevista e o inquérito. O autor

conclui que as fotonotícias são o resultado de um processo complexo de fabrico em que interferem variáveis como as influências

pessoais dos intervenientes no processo jornalístico; as rotinas; os constrangimentos organizacionais e sociais; a ideologia, a

cultura e a história; os dispositivos técnicos usados; e ainda o ambiente em que as notícias são fabricadas.

Também transvazando do campo dos estudos da produção de mensagens jornalísticas para a análise dessas mensagens, surgiu o

livro de Rui Marques (2005) sobre o agendamento do tema “Timor-Leste” nos meios jornalísticos portugueses, desde a invisibilidade

(1975-1989) à visibilidade (1989-1999...).

Hélder Bastos publicou, em 2000, o livro Jornalismo Electrónico: Internet e Reconfigurações de Práticas nas Redacções, no qual dá

conta da forma como a Internet alterou a produção de informação no Jornal de Notícias. Foi o primeiro sintoma do desvio da

investigação sobre jornalismo para a esfera do digital. Nesse mesmo campo, inscreve-se também, por exemplo, a obra de João

Canavilhas (2007) sobre o modelo jornalístico a seguir (“pirâmide deitada”) no jornalismo na Web: Webnoticia: Propuesta de Modelo

Periodístico para la WWW.

2. Análises das mensagens

Embora as investigações referidas no ponto anterior também recorram à análise do discurso, há obras que se destacam pela sua

centralidade na análise de mensagens jornalísticas, desde um ponto de vista crítico e/ou culturológico. São os casos, por exemplo,

dos trabalhos de Isabel Férin da Cunha (1996; 2004) sobre identidades e representações jornalísticas das minorias (Os Africanos na

Imprensa Portuguesa e Imigração e Minorias Étnicas nos Media em 2003: Imprensa e Televisão); ou a monumental análise do

discurso da imprensa sobre as crianças, conduzida por Cristina Ponte (2005). Sobre o discurso relacionado com a cobertura da

Sida, dois trabalhos são de relevar: Notícias e Silêncios, também de Cristina Ponte (2004), e o exaustivo A Problemática da Sida

como Notícia, de Traquina, Torres da Silva e Calado (2007), este último também relevante pela interpretação do discurso

jornalístico na linha das ideias de Traquina sobre a teoria do jornalismo.

Felisbela Lopes (1999), por seu turno, em O Telejornal e o Serviço Público, descreve as macro-estruturas de conteúdos dos

telejornais, interpretando-os à luz do conceito de serviço público e das teorias do jornalismo. A análise de conteúdo de notícias de

abertura de telejornais também é explorada no trabalho de Nuno Goulart Brandão (2002), sobre O Espectáculo das Notícias,

continuada em Prime Time: Do que Falam as Notícias nos Telejornais (2005) e na colectânea de artigos As Notícias nos Telejornais

(2010), onde o autor aborda, concomitantemente, a problemática do serviço público de televisão.

José Rebelo (2000), em O Discurso do Jornal, imprime uma orientação marcadamente culturológica e retórica à análise da imprensa

e enumera várias estratégias enunciativas jornalísticas: citação, modalização, dictização, argumentação, pressuposição,

implicitação, denegação, exortação e referencialização. Uma obra particularmente interessante nesse campo é a de Pedro Diniz de

Sousa (2003), que estuda A Dramatização da Imprensa no PREC, livro no qual revê as estratégias retóricas da imprensa combativa

durante o período pós-revolucionário. É uma obra cujo foco, embora discursivo, faz a ponte com a historiografia do jornalismo.

Diferente, por se centrar na estilística, retórica e linguística dos títulos da imprensa, é a obra Foi Você que Pediu um Bom Título, de

Dinis Manuel Alves (2003), um livro a meio caminho entre a análise culturológica do discurso e o manual de jornalismo.

Também de pontes, mas entre o jornalismo, a análise do discurso e a ciência política, deve falar-se quando se refere o importante

contributo de Nilza Mouzinho de Sena (2002) para o estudo dos debates políticos televisivos enquanto fenómenos discursivos e a

investigação de Bruno Paixão (2010) sobre O Escândalo Político em Portugal, que ainda tem o mérito de ter indiscutível interesse

historiográfico, já que se debruça sobre os períodos 1991-1993 e 2002-2004.

Centradas numa das problemáticas mais relevantes do nosso tempo – o ambiente – duas obras de análise do discurso merecem

destaque: Ambiente no Ecrã (Schmidt, 2003), pela exaustividade no estudo da forma como o telejornalismo português aborda as

questões ambientais, e A Quercus nas Notícias (Rosa, 2006), que, recorrendo, como enquadramento interpretativo, às teorias da

interacção entre as fontes e os jornalistas, documenta, com base no discurso da mídia, a forma como a principal organização não

governamental ambientalista portuguesa – a Quercus – conseguiu guindar-se à categoria de fonte jornalística autorizada, embora

não oficial.

Num registo diferente, documentando a investigação portuguesa sobre jornalismo na Internet, surgem as obras de análise dos sites

de jornais de António José Lopes da Silva (2006), sobre Os Diários Generalistas Portugueses em Papel e Online, e de Fernando

Zamith (2008), sobre Ciberjornalismo: As Potencialidades da Internet nos Sites Noticiosos Portugueses. Ambas demonstram que os

meios online portugueses estavam, à época, longe de aproveitarem as potencialidades trazidas pela Internet ao jornalismo.

3. Sociologia dos jornalistas

Vários livros podem ser categorizados como tratando, essencialmente, de uma sociologia dos jornalistas, mas também neste campo

deve ser reconhecido o trabalho fundamental de Traquina (2004) sobre A Tribo Jornalística: Uma Comunidade Transnacional. Nesse

livro, a partir da análise de notícias sobre Sida em cinco jornais de quatro países diferentes e de amostras representativas das

comunidades jornalísticas de cinco países ocidentais, o autor conclui que os jornalistas constituem uma comunidade transnacional

que partilha uma cultura profissional – a tribo jornalística.

Sara Meireles Graça (2007), em Os Jornalistas Portugueses: Dos Problemas da Inserção aos Novos Dilemas Profissionais, debruça-

se sobre os resultados do II Inquérito Nacional aos Jornalistas Portugueses e adiciona-lhe dados mais recentes, em particular da

actuação dos jornalistas em cibermeios, demonstrando que estes têm apresentado uma atitude relativamente passiva face à

arbitrariedade nos processos de recrutamento e à indefinição da sua função num mundo globalizado pela Internet e submetido aos

ditames do mercado, o que constitui, segundo a autora, uma séria ameaça à sua identidade profissional.

No campo da sociologia dos jornalistas, há trabalhos que fazem a ponte com a história do jornalismo. Por exemplo, Joaquim Fidalgo

(2008), em O Jornalista em Construção, realiza uma notável revisão bibliográfica para traçar uma história sociológica da

institucionalização da profissão de jornalista, mostrando que a autonomização, legitimação e profissionalização dos jornalistas

resultou de um processo de confrontação com outros ofícios da comunicação, sendo marcado pela controvérsia e feito de avanços

e recuos, tensões e negociações. A investigação de Rosa Maria Sobreira (2003) sobre a definição do jornalismo enquanto profissão

em Portugal, no período 1933-1974 relembra, precisamente, as controvérsias que nortearam esse processo e as discussões teóricas

estabelecidas entre os que perspectivavam o jornalismo como uma profissão técnica, passível de ser ensinada e aprendida, grupo

maioritariamente constituído pelos repórteres profissionais, e os que viam o jornalismo como uma arte que dependia dos dotes

expressivos pessoais, tema também apresentado e discutido por Sousa et al. (2008c), na sua revisão bibliográfica da teorização do

jornalismo em Portugal até 1974.

Também nesse espaço da sociologia histórica da profissão de jornalista encontram-se os estudos da profissão em períodos

determinados. Neste campo, as obras etnográficas de Fernando Correia e Carla Baptista (2007; 2010), sobre os jornalistas dos

anos sessenta, baseadas em entrevistas, trazem ao de cima dados fundamentais para a compreensão da evolução do jornalismo em

Portugal.

4. Economia do jornalismo e gestão dos meios jornalísticos

Embora deva ser relevado o pioneirismo de Pedro Jorge Braumann neste campo dos estudos jornalísticos portugueses, o

protagonista nas investigações sobre economia e gestão dos meios jornalísticos em Portugal tem sido João Paulo Faustino, que se

afirmou na cena académica com o seu importante livro A Imprensa em Portugal: Transformações e Tendências (2004), no qual faz

um pormenorizado estudo do mercado dos jornais e revistas em Portugal, e no mega-estudo por si coordenado sobre o sector

mediático português Tendências e Prospectiva dos Media: Inovação, Gestão, Emprego e Mercado (2010). Dentro da mesma linha,

mas remetido à análise mercadológica da comunicação social regional e local, avulta a obra de Feliciano Barreiras Duarte (2005)

sobre Informação de Proximidade: Jornais e Rádios.

A economia política do jornalismo, cruzada com a sociologia profissional dos jornalistas, foi a matriz orientadora do trabalho de

Fernando Correia (1997) sobre Os Jornalistas e as Notícias. Nele, o autor procura desvelar as problemáticas relações entre a

estrutura de propriedade dos meios jornalísticos, a autonomia dos jornalistas, a ética profissional e a democracia, em jeito de

ensaio, mas recorrendo, igualmente, a vários dados empíricos. Ainda do mesmo autor, destaca-se um trabalho mais recente,

intitulado Jornalismo, Grupos Económicos e Democracia, de 2006, que pretende ser uma "introdução crítica" sobre os

constrangimentos mercadológicos às organizações mediáticas. Nele, Correia alerta para a concentração da propriedade dentro do

sistema mediático e suas implicações para a democracia, tendo como palco de análise a esfera da produção jornalísticas, tensa e

complexa devido às interacções entre jornalistas, empresários, políticos, publicitários e público.

5. Direito, ética e deontologia do jornalismo e reflexões sobre a praxis profissional

O fim da ditadura do Estado Novo e o desaparecimento dos serviços de censura trouxe menos interesse por uma questão que

desde o vintismo agitava as discussões em Portugal: a liberdade de imprensa. De alguma forma, o debate trasladou-se para o

campo da ética e da deontologia dos jornalistas e para as questões normativas relacionadas com o exercício do jornalismo. Duas

obras demonstram o caminho trilhado pelos investigadores portugueses nessa matéria. A primeira, sobre A Deontologia dos

Jornalistas Portugueses, é de Sara Pina (1997, com segunda edição em 2000), e analisa as transformações do Código Deontológico

dos jornalistas portugueses; a segunda é de Alberto Arons de Carvalho, António Monteiro Cardoso e João Pedro Figueiredo (2003,

com segunda edição em 2005) e debruça-se sobre o Direito da Comunicação Social, apresentando e discutindo a legislação.

6. Teorizações globais do jornalismo

Três nomes podem ser citados entre os autores portugueses que se têm dedicado à teoria do jornalismo em geral: Nelson Traquina,

o pioneiro e principal nome dos estudos jornalísticos em Portugal; Jorge Pedro Sousa; e Cristina Ponte.

A obra central na teorização portuguesa do jornalismo é o livro de Nelson Traquina (2002) intitulado Jornalismos. Embora, como é

seu hábito, o autor faça nele uma extensa revisão de literatura usando predominantemente autores anglófonos, os principais

contributos do livro radicam: (1) na sistematização das teorias da notícia, dentro da óptica categorial de Traquina (teorias do

espelho, da acção pessoal, organizacional, da acção política, construtivista, estruturalista e interaccionista); (2) na visão da

cultura profissional enquanto matriz identitária transnacional dos jornalistas; e (3) no contributo para o estudo da noticiabilidade e

do que é notícia, em conexão com os três tipos de critérios de valor-notícia que o autor inventaria: critérios substantivos de

selecção, critérios contextuais de selecção e valores-notícia de construção.

Jorge Pedro Sousa (2000), em As Notícias e os Seus Efeitos, procura associar as teorias da produção noticiosa às teorias dos

efeitos da comunicação social e retoma a ideia que presidiu à sua tese de doutoramento (o já referido livro Fotojornalismo

Performativo): as notícias são o resultado de um processo em que interferem várias forças em constante interacção: pessoais,

organizacionais, sociais, culturais, históricas e tecnológicas. Importante também desse autor é a revisão bibliográfica sobre a

teorização do jornalismo em Portugal até 1974 (SOUSA et al., 2008c).

De Cristina Ponte (2004) avulta o livro Leituras das Notícias, no qual a autora revê e sistematiza a obra de um variadíssimo número

de autores de orientação eminentemente crítica sobre o discurso jornalístico e sustenta que o discurso jornalístico possui uma

natureza narratológica.

Ainda no campo da teoria do jornalismo, mas centrada no acontecimento enquanto fenómeno jornalístico, pode citar-se a obra de

Isabel Babo-Lança A Configuração dos Acontecimentos Públicos (2006). Trata-se, aliás, de uma obra que lança pontes entre a

teoria do jornalismo e a história do jornalismo, já que se debruça sobre casos de conflito do Portugal pós-revolucionário: a tomada

de poder do jornal República pela extrema-esquerda, contra a quase totalidade dos jornalistas, moderados; e as manifestações nos

Açores, em 1975.

Interessante também enquanto revisão teórica e crítica, embora limitado a um tema específico, é o livro resultante da parceria

luso-brasileira formada por António Teixeira de Barros e Jorge Pedro Sousa (2010) sobre Jornalismo e Ambiente: Análise de

Investigações Realizadas no Brasil e em Portugal.

Ainda no campo das revisões de literatura sobre temas específicos dentro da teoria do jornalismo, merece relevo a teorização sobre

jornalismo de guerra, desde uma perspectiva construtivista, feita por José Rodrigues dos Santos (2002), em A Verdade da Guerra,

em que o autor, essencialmente, e contra as posições da sociologia realista, defende a ideia de que o jornalismo não consegue

relatar “a verdade”, mas apenas verdades subjectivas.

7. História do jornalismo

A pesquisa sobre história do jornalismo continuou uma fértil área em Portugal após 1974. Encontram-se trabalhos generalistas,

como os de Jorge Pedro Sousa (2004; 2008a; 2008b), e obras de estudo aprofundado sobre determinadas épocas, como as de José

Manuel Tengarrinha (1993; 2006), sobre a imprensa periódica portuguesa no período monárquico. Deste autor, Da Liberdade

Mitificada à Liberdade Subvertida aborda a censura durante o vintismo, e Imprensa e Opinião Pública em Portugal reúne diversos

artigos sobre a imprensa periódica portuguesa, com ênfase para o século XIX. Também sobre a censura em Portugal, deve ser

destacado o monumental trabalho de Graça Franco (1993) intitulado A Censura à Imprensa (1820-1974).

Destaque, ainda, para A Génese do Jornalismo Lusófono e as Relações de Manuel Severim de Faria, obra coordenada por Jorge

Pedro Sousa (2006), que analisa o discurso, a forma e o impacto de uma publicação ocasional com características de jornal do

século XVII. Eurico Dias (2006) também realizou um importante trabalho de resgate histórico, ao transcrever o primeiro periódico

português, a Gazeta “da Restauração” (século XVII), enquadrando a publicação e construindo os seus índices.

Vários investigadores têm-se debruçado sobre a imprensa no século XIX. José Augusto Santos Alves, por exemplo, escreveu “O

Português” e o Discurso do Saber/Poder (1990), bem como Ideologia e Política na Imprensa do Exílio (1992) e Nas Origens do

Periodismo Moderno, obra em que discute o conteúdo e o impacto dos artigos de opinião oitocentistas intitulados Cartas a Orestes

(2009). Maria Manuela Tavares Ribeiro investigou sobre A Imprensa e as Revoluções Europeias de 1848 (1989). João Pedro Rosa

Ferreira (1992) debruçou-se sobre um objecto luso-brasileiro: o Correio Braziliense, em O Jornalismo na Emigração.

Por seu turno, a tese de Ana Cabrera (2006), intitulada “Marcelo Caetano: O Poder e a Imprensa”, documenta as relações entre o

poder político e o jornalismo no final do Estado Novo.

8. Jornalismo, (ciência) política e democracia

O campo da investigação sobre jornalismo, política e democracia tem-se revelado bastante fecundo em Portugal, com obras como

as de João Carlos Correia (1998; 2004) sobre Jornalismo e Espaço Público e Comunicação e Cidadania: A Fragmentação do Espaço

Público nas Sociedades Pluralistas, de natureza ensaística, nas quais se cruza um olhar macro-sociológico com a reflexão filosófica,

na tradição habermasiana, e onde se discutem conceitos centrais sobre os efeitos sociais do jornalismo nas sociedades

democráticas ocidentais contemporâneas.

De uma natureza mais empírica, já que recorrem quer à etnografia, quer à análise do discurso, quantitativa e qualitativa, e a

entrevistas, adquirem, igualmente, particular destaque, neste campo, os trabalhos de Estrela Serrano (2002; 2006) sobre As

Presidências Abertas de Mário Soares e Jornalismo Político em Portugal: A Cobertura das Eleições Presidenciais na Imprensa e na

Televisão.

Numa dimensão menos centrada no jornalismo, e já fazendo a ponte com as questões da identidade, pode citar-se a importante

obra de Maria João Silveirinha (2004) sobre Identidades, Media e Política: O Espaço Comunicacional nas Democracias Liberais.

9. Jornalismo de proximidade

A imprensa regional e local é bastante pujante em Portugal, pelo que as preocupações académicas também descobriram nela um

filão de investigação. O mais importante livro nesta matéria é o de Carlos Camponez (2002), intitulado Jornalismo de Proximidade.

Com abundantes dados empíricos, o autor mostra o papel relevante dos meios jornalísticos regionais e locais para alimentar a

circulação de informação indispensável à vida cidadã portuguesa à escala comunitária.

10. Outras obras

Entre obras diversas que devem ser invocadas pela sua relevância para os estudos jornalísticos portugueses, como as colectâneas

de textos de provedores dos leitores (como Nós, os Leitores, de José Carlos Abrantes, 2008), há uma que é fundamental: O Quarto

Equívoco, de Mário Mesquita (2003). Trata-se de uma colectânea de ensaios sobre diversos tópicos relacionados com o jornalismo,

de que emerge uma conclusão fundamental: nos media jornalísticos cruzam-se e concentram-se vários poderes (políticos,

financeiros, comerciais, tecnológicos, corporativos), mas há que contar, igualmente, com o poder dos jornalistas em busca da

autonomia do seu campo profissional. Dessa realidade emerge um sector socialmente poderoso, bem caracterizado por “quarto

poder”, mas que, por vezes, actua de forma decepcionante, podendo apelidar-se de “quarto equívoco”.

4. Anatomia dos livros sobre Jornalismo das editoras Livros Horizonte e Minerva

Como já referido anteriormente, o objectivo deste trabalho é identificar as principais tendências da pesquisa em Jornalismo cujo locus de produção é Portugal. Neste ponto, parte-se para a análise temática as duas principais colecções publicadas em forma de livros (Livros Horizonte e Minerva), nas quais se encontra a parte mais significativa desses estudos.

TABELA 2 – Categorias temáticas dos livros referentes à pesquisa em

Jornalismo em Portugal publicados pelas editoras Livres Horizonte e Minerva.

Os dados da tabela 2 mostram que a temática na qual se pode englobar o maior número de títulos é a de “História do Jornalismo”, com 19,1%, seguida pela de “Análise de Mensagens”, com 17,1%. Em terceira posição, aparece a categoria “Outras Obras”, com 15,5%. Nesta última categoria, alocam-se os livros de natureza ensaística e reflexiva que abordam, basicamente, desde uma perspectiva sobretudo ética, as relações entre público e imprensa e o papel dos provedores de leitores. Seguem-se, em representatividade, as categorias “Produção de Informação Jornalística” (12,1%); três categorias com 8,6% das obras (“Direito, Ética e Deontologia”, “Jornalismo, Política e Democracia” e “Teoria do Jornalismo” em geral); e “Sociologia dos Jornalistas” (6,9% das obras). Excluindo “Economia e Gestão dos Meios Jornalísticos”, categoria na qual não foram contabilizadas quaisquer obras, “Jornalismo de Proximidade” surge como o campo de investigação menos relevante (6,9% das obras) entre os que foram definidos acima. Tendo estas informações em consideração, percebe-se que a pesquisa sobre Jornalismo em Portugal é diversificada, embora assente dominantemente, nos campos (1) da história do jornalismo, tema tradicional da investigação portuguesa, (2) da análise das mensagens jornalísticas e (3) dos processos de produção de informação jornalística. Os dados documentam diferenças em relação aos filões de pesquisa e reflexão sobre jornalismo explorados até 1974.

Na categoria “Produção de Informação Jornalística” encontraram-se 12,1% do total de livros. Essas obras versam de temas que perpassam a relação entre jornalistas e fontes (Santos, 1997 e 2006), jornalismo e internet (Bastos, 2000), até trabalhos como Infografia da Imprensa, de Susana Ribeiro, publicado em 2008. Além da discutir o papel da infografia nos jornais impressos, animações para formato digital, etc. – tema que só recentemente tem ganho espaços nas discussões no âmbito académico – a autora também faz uma recuperação histórica do uso dessa ferramenta visual no jornalismo português, lançando pontes para a história do jornalismo.

No levantamento efectuado para este estudo não se encontraram, nas colecções das editoras Minerva e Livros Horizonte, trabalhos dedicados à “Economia do Jornalismo e Gestão do Meios Jornalísticos”. Não se quer afirmar aqui que não existem trabalhos nessa linha de investigação. Este artigo já referenciou anteriormente os trabalhos de Pedro Jorge Braumann, de Fernando Correia, de Feliciano Barreiras Duarte e de João Paulo Faustino, mas que não foram editados pelas editoras aqui em causa. No entanto, a ausência de estudos englobáveis nessa categoria nas duas mais significativas colecções de livros do campo da pesquisa em Jornalismo em Portugal pode significar a existência de carências investigativas na linha da gestão dos media jornalísticos, campo que mereceria ser explorado mais exaustivamente em Portugal, até porque o jornalismo, tal como é conhecido, está a passar por enormes transformações na organização das empresas jornalísticas e nos modelos de distribuição da informação.

A primeira colecção analisada foi a “Media e Jornalismo”, da editora Livros Horizonte, fruto da parceria entre esta editora e o Centro de Investigação Media e Jornalismo – CIMJ. A estratégia de publicitação das obras dessa colecção pressupõe que antes de serem enviadas para a edição, os livros são submetidos a um comité científico que aprecia a qualidade e a pertinência da obra.

É de salientar que várias obras dessa colecção foram deixadas de fora, pois embora abordassem, de certa forma, a temática do Jornalismo, não o têm como objecto principal ou não se detêm sobre o fenómeno em território português. É o caso do livro Comunicação e Sociedade, organizado por João Pissarra Esteves (2002). O trabalho é uma reunião de relevantes artigos de autores de grande importância para os estudos de jornalismo, como Robert Park, Gaye Tuchman, Harold Laswell e o próprio João Pissarra Esteves. O mérito deste trabalho é abordar de forma abrangente assuntos tais como: jornalismo enquanto forma de conhecimento, efeitos dos media, função da comunicação na sociedade, entre outros. Contudo, como o livro não se enquadra nos critérios de categorização propostos neste artigo, cabe apenas referenciá-lo com uma contribuição para aqueles que pretendem compreender a sociologia da comunicação.

Ao voltar-se para a análise dos livros que compõem o leque de trabalhos sobre Jornalismo da colecção Media e Jornalismo da Horizonte há a predominância de títulos nas temáticas “Análise de Mensagens”, “Jornalismo, (Ciência) Política e Democracia” e “Outras Obras”, com 18,7% cada.

Um dado curioso é que na categoria de “Outras Obras” se encontra um interessante trabalho de investigação sobre a relação entre leitores e jornais. É o estudo de Marisa Torres da Silva, intitulado A Voz dos Leitores na Imprensa. A autora procurar perceber como a opinião do leitor se constrói a partir da secção de cartas e se de facto se pode considerar esse espaço de interlocução como possibilidade de construção de debate crítico. Marisa Torres da Silva parte do referencial teórico da constituição da esfera pública, passa pelos critérios de selectividade das cartas que chegam à redacção do jornal Público e faz uma análise de conteúdo à correspondência do leitor. No final, a autora conclui que, apesar de se constituir como forma de fomentar as trocas entre a imprensa e o público leitor e com isso potencializar as vozes que podem se expressar no jornal, a publicação dessas cartas obedece a critérios editoriais específicos.

A editora Minerva, de Coimbra, edita livros sobre jornalismo repartidos por várias colecções, sendo de relevar a colecção Comunicação, dirigida por Mário Mesquita, que possui uma série especificamente dedicada ao Jornalismo. As investigações no campo do Jornalismo distribuem-se por essas três séries e surgem, por vezes, livros que se enquadram em mais do que uma das categorias elencadas neste artigo, conforme ocorre, aliás, também com a colecção da editora Livros Horizonte. Contudo, para fins de sistematização, procurou-se identificar uma categoria central para cada obra.

Sem dúvida, o aspecto historiográfico chama a atenção. São ao todo nove títulos que a MinervaCoimbra editou cujo foco principal é a “História do Jornalismo”. Nesse sentido, algumas obras apresentam um diferencial importante, pois se propõem a recuperar outros aspectos da história jornalística para além dos jornais impressos. Dois livros merecem destaque. O primeiro é a obra de Jorge Pedro Sousa (2004) intitulado Forças por Trás da Câmara, que além de recuperar a história do fotojornalismo, a relaciona com a Teoria da Notícia. O segundo trabalho em destaque é o livro A Rádio em Portugal e o Declínio do Regime Salazar e Caetano (1958-1974), de Dina Cristo (2005). Nesse estudo, que transcende as fronteiras do jornalismo apesar de ter sido considerado na análise, a autora percorre as relações entre a rádio e o regime ditatorial ao longo de 16 anos e analisa a programação e os conteúdos informativos, o papel da censura e o papel da rádio na consolidação e posterior derrocada do Estado Novo.

Na categoria “Direito, Ética e Deontologia do Jornalismo e Reflexões sobre a Praxis Profissional”, pode destacar-se o livro No Reino do Anonimato, do jornalista José Pedro Castanheira, lançado em 2004. O autor interroga-se sobre o que de novo traz o jornalismo online em termos técnico e, sobretudo, em questões relacionadas com a deontologia, tendo como pano de fundo o caso da constituição da Fundação Jorge Álvares, que ocorreu praticamente ao mesmo tempo da transferência da gestão de Macau de Portugal para a China. Nesse cenário, Castanheira acompanhou a cobertura do jornal Expresso, bem como os comentários dos leitores sobre o caso e as implicações éticas, bem como a liberdade de expressão, a censura e o anonimato, a partir do aprimoramento das ferramentas técnicas que permitiram a identificação de usuários.

Conclusões

Em primeiro lugar, é visível que, no espaço de 36 anos, os Estudos Jornalísticos em Portugal se tornaram crescentemente sistemáticos, rigorosos e científicos, convergindo, nas temáticas e nas perspectivas epistemológicas e metodológicas, com o resto do mundo. Houve, identicamente, uma explosão no número de trabalhos que se podem inscrever nesse campo. Neste âmbito, pode reconhecer-se o pioneirismo de Nelson Traquina nos estudos jornalísticos portugueses, bem acompanhado por pesquisadores como António Fidalgo e por uma nova geração de investigadores onde pontificam autores como, entre outros, Cristina Ponte, Isabel Férin da Cunha, Rogério Santos e João Carlos Correia. Traquina operou, efectivamente, uma ruptura com as linhas de pesquisa e reflexão sobre jornalismo seguidas até então em Portugal. A natureza ensaística clássica dos estudos jornalísticos portugueses foi substituída, em grande medida pela sua acção, por uma visão sociológica. No entanto, o recorte sociológico que Traquina imprimiu aos estudos jornalísticos portugueses, de matriz construcionista, obscureceu outras abordagens sociológicas do jornalismo, como as realistas.

Em segundo lugar, pode afirmar-se que o actual campo dos estudos jornalísticos portugueses cruza diferentes influências epistemológicas, o que, em parte, deriva da proveniência diversificada dos académicos fundadores das Ciências da Comunicação em Portugal – filosofia, humanidades e ciências sociais e humanas – e da multiplicidade de tradições que fazem das Ciências da Comunicação um campo complexo, intrincado e diversificado. O hibridismo teórico e metodológico é, assim, um elemento importante da caracterização dos estudos jornalísticos portugueses, o que dificulta a categorização de muitas pesquisas, conforme se pode notar pelas obras aqui citadas.

Em terceiro lugar, é possível acentuar que, na linha do que sucede noutros países (cf. ZELIZER, 2004), as pesquisas portuguesas em Jornalismo, apesar do hibridismo hermenêutico, epistemológico e metodológico de várias delas, se centram nos seguintes campos, que muitas vezes se apresentam, também eles, intrincada e complexamente cruzados: 1) Teoria do jornalismo em geral, com predomínio da sociologia e da antropologia do jornalismo; 2) Produção jornalística; 3) Sociologia dos jornalistas e do jornalismo enquanto profissão; 4) Jornalismo, (ciência) política e democracia, o que engloba o campo do jornalismo cívico, público ou dos cidadãos; 5) Linguística e análise do discurso jornalístico, com enquadramentos culturológicos e críticos; 6) História do jornalismo; 7) Economia e gestão dos media jornalísticos; 8) Direito, ética e deontologia do jornalismo; e 9) Jornalismo de proximidade, sendo mais relevantes as linhas sobre história do jornalismo, análise de mensagens jornalísticas e produção jornalística. A estas tradições da pesquisa e reflexão sobre jornalismo podem associar-se as reflexões ensaísticas sobre a praxis profissional dos jornalistas, resultantes, em particular, do trabalho dos provedores dos leitores.

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[1] Pesquisa apoiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e com co-financiamento da União Europeia através do QREN, programa COMPETE, fundos FEDER. Projecto PTDC / CCI-JOR/100266/2008 e FCOMP-010124-FEDER-009078.

[2] Não se pretende dizer com isto que não existiram estudos sobre jornalismo com recorte científico antes de 1974. As obras citadas anteriormente demonstram-no.

[3] É a primeira tese doutoral sobre Jornalismo da “nova vaga” dos Estudos Jornalísticos em Portugal, intitulando-se Formas de “censura oculta” na imprensa escrita em Portugal no Pós-25 de Abril (1974-1987).

[4] Fica-se nomeadamente a saber que, ao tempo, apenas 15,2% dos profissionais tinham um curso superior, sendo que somente 4% possuíam formação superior em Jornalismo/Comunicação Social.

[5] A aplicação de inquéritos para definição do perfil sociográfico dos jornalistas portugueses não era, contudo, uma novidade. O Sindicato dos Jornalistas promoveu, em 1990, um primeiro inquérito nacional aos jornalistas, a que se seguiu um outro, em 1997, coordenado por José Luís Garcia.

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O projecto de Teorização do Jornalismo em Portugal: Das Origens a Abril de 1974 é realizado com o apoio financeiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, através de fundos estruturais da União Europeia, designadamente do FEDER, e de fundos nacionais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.