Amaral, Augusto Donato (1932)
AMARAL, Augusto Donato (1932). Depoimento de Um Jornalista Que Cegou. Recordações do Passado.
Autor: Donato do Amaral, Augusto
Ano de elaboração (caso não coincida com ano de publicação)
Ano de publicação/impressão: 1932
Título completo da obra: O Depoimento dum Jornalista que Cegou
Tema principal: Jornalistas e Vida Profissional
Local de edição: Lisboa Editora (ou tipografia, caso não exista editora): Sociedade Industrial de Tipografia
Número de páginas: 64 Páginas
Cota na Biblioteca Nacional e eventualmente noutras bibliotecas públicas
Biblioteca: Biblioteca Nacional Cotas: L 24219//13P
Esboço biográfico sobre o autor ou autores (nascimento, morte, profissão, etc.)
Jornalista, começou a sua carreira no Diário de Lisboa e prosseguiu-a n’A Época e no República.
Índice da obra
[Não tem índice]
Prólogo………………………………………………2
Diário de Lisboa………………………………………………….6
O Rebate………………………………………………………..….7
A Época…………………………………………………………… 9
República…………………………………………………………10
A propósito duma campanha difamatória …………….13
Eu e o Sr. Eduardo Schwalbach ……………………….13
Depois de cego……………………………………………….19
O Século………………………………………………………..24
Bilhetes, cartas e telegramas…………………………… 26
A moral de certos homens da finança……………………27
Um concurso sem efeito…………………………………….. 31
Faculdade de Direito…………………………………………. 33
As assuntos coloniais………………………….……….36
Um grande português…………………………….……42
Palavras de Reconhecimento…………………………44
Dr. Mário Moutinho……………………………………..45
Professor Inocêncio Camacho Rodrigues………..….46
Dr. José Bernardino Gonçalves Teixeira……………..47
Professor Henrique Joaquim de Vilhena………….…48
Erratas……………………………………………….…..49
Padre Francisco Maria da Silva………………………50
Uma grande alma………………………………………51
O instituto lusitano………………………………………52
Dois advogados…………………………………….….54
Dr. José de Abreu……………………………………..55
Jornalistas……………………………………………..56
Cristão sim, católico não……………………………….57
Nasci predestinado………………………………………61
Resumo da obra (linhas mestras)
A presente obra serve para, como o próprio autor refere, “justificar, pela última vez, os propósitos e as intenções de uma campanha derrotista, em que andou envolvido o nome do autor destas páginas” (página 2).
Este foi, alegadamente, alvo de difamações por parte dos seus colegas jornalistas. Como defesa e numa tentativa de apurar a verdade, ele publica o texto aqui resumido. Para uma melhor compreensão, escreve: “Pretendo, como principal visado, destruir a mentirosa e insubsistente campanha difamatória com que fui alvejado por certos sindicalistas, que em tempo competente, deslealmente, me recusaram o direito de defesa” (página 4).
Ao longo da obra, o mesmo refere quais os jornais onde trabalhou e conta alguns dos acontecimentos, citados nas linhas que se seguem. Esta é a obra que põe um fim na sua vida jornalística.
Primeiramente refere o “Diário de Lisboa”, jornal onde começou o seu trabalho como jornalista, ao longo de três anos. Logo aí surgem complicações, mais nomeadamente com o Sr. Álvaro de Andrade, ex-chefe da Redacção, e associados, que através do jornal teriam decidido insultar Augusto Amaral.
Contudo o Dr. Joaquim Manso desfez o equívoco.
Posteriormente, trabalhou n’O Rebate, durante cinco anos. Considerava-o um jornal de “completo desinteresse” (página 8), visto ser pertencente ao partido mais forte da República, e estar, por isso, muitas vezes com grandes dificuldades financeiras, uma vez que as assinaturas dos associados não podiam ser de elevado custo. Contudo, refere ter saudades de “tão bela camaradagem” (página 9).
A Época (que mudou o seu nome para A Voz) é o jornal que se lhe segue. É anunciado como sendo um jornal adepto do catolicismo. No que se refere a este jornal, o autor afirma que apesar das ideias do jornal serem opostas às dele, sempre se manteve fiel às suas liberdades “para o desempenho do serviço a meu cargo e a mais franca camaradagem” (página 9).
“A República” foi mais um dos jornais onde Augusto prestou os seus serviços, mesmo que somente por alguns meses. Este tinha uma grande simpatia pelo seu fundador, António José de Almeida, que teve um papel importante na sua educação política. Neste jornal o autor afirma o seu trabalho como um bom exemplo, através da citação “No República trabalhei, sem nunca ter havido, como nunca podia haver, contra o meu procedimento, a menor reclamação” (página 11).
É apenas no capítulo seguinte que o jornalista se refere à “campanha difamatória”, como ele próprio a intitula na página 13 da corrente obra. A personagem que mais fere a sua susceptibilidade é Eduardo Schwalbach, na altura director do “Diário de Notícias”. Chega até a escrever um manifesto, o «Desafronta», contra Schwalbach.
Neste capítulo transcreve a carta cujo destino seria a publicação no jornal acima referido, porém o seu desejo foi-lhe negado. Aí refere também uma das acusações a que foi sujeito: a de falso jornalista, as outras permaneceram ocultas por serem “nomes feios e sujos” (página 18).
Além disso, “tem a vaidade de convidar o Sr. Schwalbach e esses seus amigos a que venham com um júri de homens de letras competentes” (página 19) para que se realize um exame.
No capítulo “Depois de cego”, refere mais alguns dos seus difamadores, mas também personalidades que o ajudaram a manter a calma e a defender-se com dignidade. Diz que “estes senhores [os difamadores] (…) são os que pensam totalmente que a sua suprema razão de existência é o dinheiro, e o resto, para eles nada vale” (página 21).
Não foram só os jornalistas do “Diário de Notícias” que o atacaram, os do jornal “O Século” também participaram na “campanha” o que levou o jornalista a responder por um delito de abuso de liberdade de imprensa.
Aquando do capítulo “A moral de certos homens da finança”, Augusto Amaral conta-nos como foi descriminado pelas suas ideologias liberais no momento em que concorreu a um cargo no Banco Nacional Ultramarino e finaliza o seu depoimento com a seguinte frase: “Como o leitor sabe, há verdades que eles não querem que se digam, e ainda hoje vociferam contra mim, por não terem razão para desmentir o que era incontestável” (página 30).
No capítulo seguinte, diz-nos como um concurso ao qual concorreu, ficando em primeiro lugar, foi anulado pelo Governo, “com alegação de que não existe verba para pagar aos funcionários nomeados” (página 32).
O autor refere, ainda, como participou numa “guerrilha” contra o Governo quando este decidiu despedir alguns dos professores da Faculdade de Direito. O jornalista afirma ter saído vitorioso e deixa a crítica: “ O Estado Português, é triste dizê-lo, mas pelo menos eu sinto pesar em confessá-lo: Portugal é dos países que gastam menos em matéria de ensino. São as estatísticas que temos visto que nos levam a falar claro” (página 33).
No capítulo “Os Assuntos Coloniais”, o autor refere a importância que atribui aos problemas coloniais e a ajuda que iria ser prestada pelo comandante João Belo, ministro das colónias na época, se a relação com questões direccionadas para as finanças não perturbassem tanto o país. Inclusive o autor refere: “sempre que aparece uma iniciativa a que seria justo dar-se todo o concurso e auxilio, acaba sempre por desfalecer ante a dificuldade do apoio financeiro” (página 37).
No capítulo seguinte, Augusto Donato do Amaral, faz uma breve ênfase á vida de Freire de Andrade como um grande português. Defende-o, entre outras palavras, como “sendo convictamente monárquico, foi ministro da Republica e sobraçando, com brilho, a pasta das Colónias, no ministério presidido pelo sr. Dr. Afonso Costa, demonstrou sempre que era, acima de tudo, um português de lei.” (pagina 42).
Segue-se então o capitulo intitulado de “Palavras de Reconhecimento”, onde faz inicialmente um pequeno discurso agradecendo a boa vontade de inúmeras pessoas importantes na sua vida, tal como Alberto da Cunha Rocha Saraiva, João Alves Barata, entre outros, seguindo-se uma serie de agradecimentos individualizados onde expõe em concreto as virtudes das pessoas citadas. Sendo elas, Dr. Mário Moutinho, como sendo um sábio, fiel e amigo oftalmologista; Professor Inocêncio Camacho Rodrigues, “verdadeiro democrata e livre pensador” (página 46), como sendo uma verdadeira figura idealista; Dr. Bernardino Gonçalves Teixeira, como sendo um homem de alta mentalidade, capaz de por de parte os preconceitos; Professor Henrique Joaquim de Vilhena, antigo reitor da Universidade de Coimbra e ainda uma figura importante da nobre Faculdade de Medicina de Lisboa; Padre Francisco Maria da Silva, definido pelo autor como – “Amigo dos pobrezinhos, como poucos, distribui largamente todos os seus haveres por todos aqueles infortunados, a quem a desventura colocou inferiormente” (página 50); Alexandre Ferreira, como um político de uma honestidade inconfundível; José Pedro Moreira, director do Instituto Lusitano, que acolheu e deu de novo carinho ao autor quando este se encontrava em baixa devido á sua agravada doença; Sr. Dr. Luciano Barata e Dr. João Pimenta de Castro, como dois excelentes advogados e amigos que o ajudaram; e finalmente, Dr. José de Abreu, secretario geral do Tribunal de Justiça, como sendo uma pessoa inconfundível pela sua honestidade e sobretudo, pela sua bondade.
No capítulo seguinte, “Jornalistas”, o autor presta, segundo ele, uma merecida homenagem a jornalistas de nome como Joaquim Manso, Manuel de Brito Camacho; “estes jornalistas (…) seriam incapazes, em qualquer altura, de cometer uma afronta, fosse contra quem fosse” (pág. 56)
E finaliza a sua obra dizendo estar consciente da sua “actual” incapacidade jornalística uma vez que já se encontrava com bastante idade e a visão começava a falhar. Com rendimentos reduzidos, viu-se a dar aulas de explicações, uma vez que não tinha o diploma que o autorizaria a ser professor.
Por fim, faz mais uma alusão as pessoas que ele não esqueceu nem esquece pelo apoio que lhe prestaram, em contraste com os que o autor ajudou e em troca lhe deram “aquilo a que se pode chamar a mais feroz das perseguições” (pág. 64).
Autor (nome completo): Joana Alexandra Ferreira Pinto Barreto
E-mail: joana.barreto@hotmail.com