Gonçalves, J. (1964)
GONÇALVES, José Júlio (1964). A Informação em Angola. Elementos para o Seu Estudo.
Autor: Gonçalves, José Júlio
Ano de elaboração (caso não coincida com ano de publicação): 1964
Ano de publicação/impressão: 1964
Título completo da obra: A informação em Angola
Tema principal: História do Jornalismo
Local de edição: Lisboa
Editora (ou tipografia, caso não exista editora): ISCSPU
Número de páginas: 95
Cota na Biblioteca Nacional e eventualmente noutras bibliotecas públicas
Biblioteca: Biblioteca Nacional Cotas: P.32OOV.
Esboço biográfico sobre o autor ou autores (nascimento, morte, profissão, etc.)José Júlio Gonçalves foi professor no Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina e reitor da Universidade Moderna. Tem obra publicada nos domínios da antropologia, do direito e da comunicação social, grande parte dela referente ao ultramar português.
Índice da obraApontamento Preliminar a informação na África pré-colonial - página11
A informação na África contemporânea síntese de enquadramento - página19
Alguns aspectos da informação em Angola - pág24
A informação na imprensa - pág24
As primeiras publicações entradas em Angola a presença holandesa - página 24
Breves considerações sobre as primeiras publicações periódicas impressas em Angola - página 29
O «Boletim», depois do chamado «Boletim Oficial». Aspectos mais significativos da sua criação e evolução história - página 29
Os primeiros jornais angolanos de figurino clássico. Apontamento histórico - página 38
Contribuição para a elaboração de um inventário completo das publicações periódicas postas a circular em Angola depois de 1845 - página50
Jornais e outras publicações periódicas de Angola (ou relacionadas com a actual conjuntura angolana) cuja publicação foi e é determinada por factores políticos, religiosos, militares e outros – página 55
Alguns números sobre os jornais, revistas, boletins, anuários e livros difundidos no seio da população angolana - página 69
A informação audiovisual - página 74
Da «Lanterna Mágica» Às Modernas Máquinas de projecção cinematográfica - página 74
Notas estatísticas sobre a frequência anual dos cinemas angolanos - página 75
Introdução da T.S.F em Angola. Os principais emissores angolanos. Quadro sumário das emissores existentes em Angola, em 1962.- página 76
Alguns problemas da Informação auditiva em Angola: poder de penetração, programação, aperfeiçoamentos técnicos introduzidos e necessários; as barreiras linguísticas - página78
Tentativa de planificação da T.S.F. angolana (1961). Papel complementar da T.S.F. metropolitana AT.S.F. ao serviço da Administração Civil - página 83
Dados estatísticos sobre a audiência da T.S.F entre os habitantes de Angola - página 89
Outros meios de comunicação social: a correspondência postal e fonopostal, o telégrafo, o telefone, as cintas magnetofónicas, os estafetas, etc. -página 90
A informação e o futuro de Angola. Apontamento final - página 92
Bibliografia - página 93
Trabalhos assinados - página 93
Trabalhos não assinados e outros - página 95
Resumo da obra (linhas mestras)Diz José Júlio Gonçalves que os meios utilizados pelo homem no contacto com os seus semelhantes compreendem não só os órgãos somáticos, mas também todas as ferramentas de transmissão verbal, escrita, mímica ou mecânica, não repartidas uniformemente pelo Mundo, mas distribuídas em função dos níveis culturais e civilizacionais duma dada população. E é em função dum maior ou menor número de ferramentas que uma dada população utiliza, que se determina as zonas mais informadas ou não, cabendo a algumas destas últimas o epíteto de zonas deserdadas, inserindo-se aqui o continente africano e, consequentemente, Angola.
Segundo o autor, antes da chegada dos europeus a estas paragens africanas, a comunicação cingia-se à transmissão verbal, directa ou por estafetas, a transmissão mímica, a ideológica e pouco mais, sendo a mais corrente a comunicação falada (normalmente pessoalizada, em que os indivíduos se punham em posturas definidas em função do assunto e da privacidade), a linguagem gritada (quando a natureza assim o permitia, sendo o caso de pastores e outros que elevavam a voz para se fazerem ouvir), a linguagem cantada (utilizada em rituais) e a linguagem convencional (utilizada nas manifestações religiosas)
O autor diz que a fala e depois o gesto (processos utilizados pelo homem nos seus primeiros passos na comunicação), seguidos da ideografia e do som (através de tambores, chifres, etc.), foram os modos mais frequentes de comunicação. Para o autor, o gesto, a ideografia e o som foram formas de comunicação que ultrapassaram a barreira das numerosas línguas dos povos africanos e até das distâncias. De acordo com José Júlio Gonçalves, em síntese, esse era o cenário das gentes africanas antes da colonização.
Na obra o autor salienta o facto que após a colonização ocorreu um impacto das tecnologias europeias nas gentes africanas, o que alterou profundamente o quadro da informação. Os primitivos meios de comunicação vieram sucessivamente a serem substituídos, pela escrita, a tipografia, a imprensa, o cinema, a TSF e nalguns territórios a TV, o telégrafo e o telefone. A par disto, abriram-se estradas, aperfeiçoando-se os meios de transporte e a instalação dos Correios, meios estes que vieram a veicular grande parte da comunicação individual, colectiva e comunitária.
Para José Júlio Gonçalves, pode dizer-se que a viragem se iniciou com a instalação da primeira tipografia e a publicação dos primeiros jornais - sendo mais morosa, essa viragem, nos povos bantos e sudaneses, já que estes, e nomeadamente os Bantos, estavam instalados fora dos grandes centros de informação.
O autor admite que o primeiro jornal foi editado na África do Sul. Mas, em 1845, em Angola é editado o primeiro jornal, intitulado “Boletim” que mais tarde veio a denominar-se “Boletim Oficial”. Novos jornais foram editados no continente africano, sendo de realçar um jornal editado na África do Sul, destinado exclusivamente a africanos.
Todavia, conforme dados da UNESCO, a Informação em África era muito escassa. Na análise feita no ano de 1962 à informação escrita, ao cinema e à TSF, os africanos estavam em grande défice quanto aos dois primeiros canais de informação atrás referidos, só se notando melhorias significativas no campo da TSF.
No que diz respeito a alguns aspectos da informação em Angola, julga-se que a informação impressa entrou em Angola em 1845, fruto tardio dos navegadores que rumavam àquelas paragens.
Pelo menos desde o século XVI até à data da primeira impressão de um jornal (o Boletim, de 1845), a única informação impressa a que os angolanos tinham acesso era a proveniente de Portugal e de países estrangeiros, publicações essas levadas pelos missionários e colonos.
O Boletim do Governador-geral da Província de Angola, foi mandado pôr em circulação pelo governador Pedro Alexandrino da Cunha, colmatando assim, uma lacuna por demais evidente. O 1º número foi publicado em 13 de Setembro de 1845.
O Boletim Oficial era, de facto o único órgão informativo existente, tornando-se (como já noutras províncias) o órgão de informação das disposições legais, notícias, anúncios, poesia, declarações de credores a devedores e demais eventos.
Nas primeiras informações angolanas de figurino clássico, sempre se discutiu se, em Angola, o Almanak foi ou não a primeira publicação periódica aí impressa, depois do Boletim Oficial, se, pelo contrário, dada tal característica, tal primazia caberia ao semanário literário A Aurora, editado em 1855, apesar deste ter tido uma vida curta.
Diz-se que, como publicação periódica, o “Almanak”, foi sem dúvida, o primeiro. Mas jornal propriamente dito foi o Aurora.
Em 1866, surge o jornal Civilização da África Portuguesa, periódico padronizado com notícias de política, economia e do mundo em geral.
Atenta a profusão e a ordem da característica da informação lançada em Angola, levou Mário António a referir que o jornal em Angola surgiu sob o signo da literatura, passando depois a ter por referência a informação noticiosa.
Surgem, de seguida, variadíssimos jornais, revistas, boletins e outros formatos impressos, com edições curtas, já que a analfabetização não comportava a existência de tanta imprensa.
Pela não obrigatoriedade do depósito legal das publicações, tornou-se difícil saber, duma forma sucessiva, quais os jornais que foram editados após o Civilização da África Portuguesa. Tudo aponta para que o Comércio de Luanda, fundado em 1867, tenha sido o primeiro a surgir. Em 1870, editava-se o Mercantil.
O Mercantil, conjuntamente com o Boletim Oficial e o Comércio de Luanda, foram os primeiros a ter tipografia própria. Realça-se o facto, do Mercantil, com 18 anos de durabilidade, ser um daqueles que teve maior tempo de vida.
Há também a realçar, que o Jornal de Moçâmedes, editado em 1882, foi o primeiro jornal de província, conforme afirma Mimoso Moreira.
De 1845 a 1953, são inúmeras as publicações editadas em Angola.
A livraria também assume o seu papel de veículo informativo. Os angolanos mostravam grande interesse pelo livro e mais concretamente pelos autores de reconhecido nome na metrópole, Todavia, os livros estrangeiros eram de melhor acesso, o que não se compreende.
Quanto à informação audiovisual, a mesma foi introduzida pelos missionários, é certo, com tecnologia já ultrapassada – como suporte de explicação e seguimento da religião. Foi longo o caminho percorrido por este meio de comunicação, mas é certo que, em 1956, em Luanda, haviam 19 salas de cinema que, face ao número da assistência, despertavam o interesse da população.
E no tocante à T.S.F, em 1960, já operavam em Angola 36 postos emissores. Crê-se que o aparecimento dos rádio-receptores de transístores, por desnecessidade de energia eléctrica, foi a mola que impulsionou a rádio angolana.
Com vista a reforçar e disciplinar a rádio, em 1961 foi criada uma Comissão Coordenadora, que tutelava toda a Radiodifusão em Angola.
Com a guerra ultramarina, verificou-se o decrescimento do cenário de informação técnica e a promoção do aparecimento de órgãos de comunicação escrita de cariz político, face ao cenário em que Angola mergulhava. Ao mesmo tempo, a Imprensa da Metrópole alargou consideravelmente o espaço dedicado aos problemas ultramarinos.
As missões religiosas, segundo Júlio Gonçaalves, deram também um contributo muito positivo à informação, quer através da escrita, quer através da Rádio, realçando-se o Jornal Apostolado como um dos órgãos de maior importância no quadro social angolano.
Não obstante, o crescendo da imprensa escrita e falada agudizou o problema do controlo da informação por parte dos agentes da Metrópole, já que, perifericamente, há uma onda de notícias ao serviço das forças independentistas. Seria exemplo significativo desse estado de coisas o Jornal Kovaso.
Como já tinha acontecido na Guiné e no Estado da Índia, a eclosão do terrorismo trouxe como consequência a ida das Forças Armadas para Angola, que logo promoveram a elaboração e circulação de vários órgãos de imprensa (de militares para militares).
Dentro deste quadro, não é por demais perguntar, relembra o autor, que poder poderá advir dos órgãos informativos na ajuda ao futuro de Angola, Será que eles terão influência na sua evolução política, económica, social, religiosa, etc.? Não se sabe, de facto. O futuro dos povos depende, sobretudo, de acordo com Gonçalves, do seu presente, alicerçado na herança que lhes foi legada.
Autor (nome completo): Catarina Rafaela dos Santos Ferreira
E-mail: katarinaraf@hotmail.com