Gândara, A. (1956)
GÂNDARA, Alfredo (1956). A Imprensa Regional ao Serviço da Nação.
Autor: GÂNDARA, Alfredo
Ano de elaboração: 1955
Ano de publicação: 1956
Título da obra: A Imprensa Regional ao Serviço da Nação (Separata da revista ilustrada Portugal d’Aquém e d’Além Mar)
Tema PRINCIPAL: Teoria do Jornalismo
Local de edição: Lisboa
Editora (ou tipografia, caso não exista editora): Tipografia Silvas, Lda.
Número de páginas: 16
Cota em bibliotecas
Cota na Biblioteca Pública Municipal do Porto: i3-5-28-P1-(16)
Esboço biográfico sobre o autor
Alfredo Ferreira de Oliveira Gândara nasceu em 13 de Setembro de 1896, na Marinha Grande. Foram seus pais Joana Ferreira Gândara e João de Oliveira. O pai de Alfredo Gândara era vidreiro e a mãe possuía uma pequena loja. Frequentou na Marinha Grande o ensino oficial e obteve como autodidacta toda a sua considerável formação posterior - graças à qual veio a investigar, a realizar conferências públicas e a ser, a partir de 1962, membro do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia.
Em 3 de Outubro de 1917, torna-se amanuense da administração municipal, sendo o facto noticiado pelo Marinhense, provavelmente o primeiro periódico em que colaborou. A partir de 1921, ano em que vai para Lisboa munido de uma recomendação ao director d’ O Século passada pelo escritor e pedagogo republicano João de Barros (de ascendência marinhense e que o prefaciará em 1954), começa a trabalhar neste jornal. Manter-se-á ligado a O Século até à aposentação, em 1972, aí tendo dirigido durante muitos anos a secção O Século nas Províncias. Foi, igualmente, redactor da Emissora Nacional e da agência noticiosa alemã DNB, tendo ainda deixado colaboração dispersa por vários outros media, nacionais, regionais ou locais − por exemplo, em 1961 a revista Portugal Daquém e d’Além-Mar inclui-o na galeria dos seus colaboradores mais assíduos. Dirigiu, ainda, a publicação Boletim Cultural de Informações.
Gândara foi um activo cidadão situacionista. Durante os anos 1950, foi procurador à Câmara Corporativa e secretário da respectiva Mesa, bem como, por duas vezes (1956 e 57), membro da delegação portuguesa às Conferências Internacionais do Trabalho, promovidas pela OIT. Pertenceu, ainda, por diversas vezes, à direcção do Sindicato dos jornalistas, à qual chegou a presidir, em 1955, tendo-se batido, no princípio dos anos 50, pela instituição do contrato colectivo de trabalho da classe (unindo-se para o efeito, segundo afirmou posteriormente, a colegas que pensavam “de maneiras diferentes” da sua). Pela mesma altura (1951) é incluído entre as figuras luso-brasílicas que a Associação Brasileira de Imprensa convida a visitar aquele país − embora não tenha chegado a efectuar tal visita. Foi condecorado Oficial da Ordem de Cristo.
É provável que os primeiros textos de Gândara referindo o passado marinhense e vidreiro datem de entre 1921 e 1926, inclusive. Na verdade, surgem nessa altura n’ O Século nas Províncias (secção de que era já responsável) notícias sobre a Marinha Grande não provenientes do correspondente local e contendo alusões à história marinhense cujos estilo, temática, conhecimentos e opiniões implícitos e explícitos são facilmente reconhecíveis noutros textos (assinados) do autor. Acresce ainda o facto de este ter, em Abril de 1923, participado num ciclo de conferências promovido pela Comissão Administrativa da Fábrica, proferindo uma palestra intitulada Vidraria, Profissão de Beleza − o que demonstra que já nessa altura Gândara tinha o vidro por objecto de estudo. Por outro lado, é a partir de Maio de 1924 que desenvolve, simultaneamente no anarquista A Batalha e no monárquico Correio da Manhã (dois jornais que, embora por razões bem diversas, combatiam com igual veemência o governo republicano), uma campanha pela permanência da Fábrica, cujo fecho, possivelmente seguido de venda, o mesmo governo acabara de anunciar.
Gândara enfrentou deste cedo o infortúnio da progressiva perda de visão. No seu último opúsculo, ditado a um familiar, refere o facto de lhe estar doravante barrado o acesso aos documentos, sendo obrigado a citar “de memória”. Faleceu em Lisboa, a 5 de Fevereiro de 1979.
Índice da obra
[Não tem índice]
Resumo da obra (linhas mestras):
Esta obra é a versão escrita da conferência proferida pelo autor no dia 1 de Dezembro de 1955, na Casa do Concelho de Gouveia (Lisboa), no âmbito do seu terceiro aniversário, sob a direcção do Dr. António Alçado, Presidente do Concelho Regional.
Segundo o autor, a Imprensa Regional é uma realidade activa do Estado, com duas exigências psicológicas: a curiosidade de saber o que se passa no mundo e na “casa do vizinho”; e a “ânsia da universalidade”. Foi devido a estes motivos que nasceu o que muito caracteriza, segundo o autor, a época em que vivia: a propaganda
O autor pensa que a Imprensa é o espelho de um povo, sendo que um jornal depende das preferências dos leitores, o que constitui a força e a fraqueza do jornalista. No entanto, para Gândara, o jornalismo não se mede pelas tiragens, visto haver semanários locais de grande peso na vida nacional, como é o caso de O Povo de Aveiro, de Homem Cristo.
Alfredo Gândara considera que a Imprensa Regional consegue aprofundar mais o conhecimento das regiões, o que somado aumenta o conhecimento nacional, ao contrário da imprensa nacional, que se dilui no espaço. Outra condicionante da grande Imprensa, explica Gândara, será o tempo, fazendo cativos os profissionais que não possuem tempo para meditação, sempre com pressões externas que condicionam o pensamento. Refere também o autor que no outro extremo estará o pequeno jornal, “campo sereno e calmo de meditação”.
Gândara lembra que Portugal deve muito à Imprensa Regional, referindo que os grandes homens de letras e muitos políticos de relevo se iniciaram em gazetas de comarca. Tal foi o caso do Dr. Augusto de Castro, de João de Deus, de Eça de Queirós, de Fialho de Almeida, de António Nobre, de António de Oliveira de Salazar, do Cardeal D. Manuel Gonçalves Cerejeira e muitos outros “povoadores do panteão mental”, como Almeida Garrett, António Sardinha e Teófilo Braga.
Grande parte dos jornalistas descobriram a sua vocação nos jornais das regiões, sustenta o autor. À imprensa regional se deve “o enriquecimento do património espiritual, moral, cientifico e estético da nação”, fortalece Alfredo Gândara.
Segundo o autor, a obra dos jornalistas de imprensa diária dura apenas 24 horas, ao contrário da do jornalista regional e local. Este, sendo a voz do adro e “arauto do bairrismo” transforma-se num enriquecedor da nação. O pequeno semanário “ensina, acorda consciências, associa vontades, pede, reclama, aconselha, protesta”, argumenta Gândara, sendo uma autêntica ponte entre as regiões e a capital.
Alfredo Gândara considera, ainda, o papel mais que muito importante da imprensa regional “na defesa e propagação da ideia, credos e de posições mentais”. Refere, também, que “as publicações locais eram escutadas como oráculos”. Só que, infelizmente, no diagnóstico de Gândara, os jornais regionais e locais, “riquíssimos repositórios de talento” estavam a desaparecer, embora ainda existissem alguns de grande relevo intelectual, como, diz o autor, A Soberania do Povo, fundado em 1879 por Albano Homem de Mello e mantido em 1955 pelo seu bisneto, o Conde de Águeda, Manuel José Homem de Mello. O autor lembra que o pequeno periódico muitas vezes é acusado de cheirar a botica, mas existe uma grande compensação com o que “muito de nacional e universal” nele encerra. “O seu poder persuasivo é perfurante”, salienta Gândara, cumprindo “a exortação de S. Paulo aos Tessalonicenses: “Não deixeis morrer o espírito”.
Alfredo Gândara define determinados “ingredientes” que o jornal da província tem de ter para encarnar “o pedaço de Portugal onde exerce a sua acção, o seu magistério”. São eles: “o modo de ser”, uma tradição, uma atmosfera, uma personalidade; (…) o solo, os monumentos, a paisagem – a dos Seres e a da Natureza”.
O autor termina com uma referência à filiação corporativa dos redactores dos jornais não diários, pensando que o seu lugar terá de ser no Sindicato Nacional dos Jornalistas que, ao momento, preparava estatutariamente o seu ingresso. Assim, a pequena imprensa deve, segundo Gândara, ter o seu núcleo no Sindicato, para que melhor possam “cuidar dos interesses privativos, perfeitamente distintos” da grande imprensa. Todos os jornalistas (regionais e nacionais) “estarão associados sobre o mesmo tecto”, vivendo “como amigos, como irmãos (…), na tarefa comum de servir e engrandecer a Pátria”.
Nome completo do autor da ficha bibliográfica: Rui Manuel de Matos de Noronha e Ozório
Email: Ruy_ozorio@hotmail.comga