Autor Anónimo (1921)

AUTOR ANÓNIMO (1821). A Forja dos Periódicos ou O Exame do Aprendiz Periodiqueiro.

Autor

Autor Anónimo

(eventualmente José Machado ou José Agostinho de Macedo)

Ano de elaboração (caso não coincida com ano de publicação)

1821

Ano de publicação/impressão

1821

Título completo da obra

A Forja dos Periódicos ou o Exame do Aprendiz Periodiqueiro

Tema principal

Liberdade de Imprensa, Opinião Pública, Ética, Direito e Deontologia do Jornalismo

Local de edição

Lisboa

Editora (ou tipografia, caso não exista editora)

Nova Impressão da Viúva Neves e Filhos

Número de páginas

72

Cota na Biblioteca Nacional e eventualmente noutras bibliotecas públicas

Biblioteca: Biblioteca Municipal do Porto

Cotas: P-1-37

Biblioteca: Biblioteca Nacional

Cotas: FG 493 ou FR 549

Esboço biográfico sobre o autor ou autores (nascimento, morte, profissão, etc.)

Índice da obra

Conflito do possível aparecimento de um novo Periódico: p. 3

Doutor convence o Sebastianista a elaborar um Periódico: .p. 4

Construção do Periódico: p. 5

Conclusão do Periódico: p. 7

Sebastianista procura Doutor e o Monge: p. 7-8

Divergências acerca do conceito de Periódico: p. 10-27

Apresentação do Periódico: p. 28-40

Incerteza do Sebastianista: p.55

Sebastianista desiste da tarefa (Periódico): p. 57

O Periodiqueiro segue o conselho do Ermitão: p.. 72

Resumo da obra (linhas mestras)

Esta é uma obra irónica que critica o acelarado aparecimento de novos periódicos no contexto da Revolução Liberal de 1820 e da institucionalização legal da liberdade de imprensa (1821).

É uma obra que se põe em cena três personagens: O Sebastianista, pobre e melancólico, candidato a jornalista; o Doutor, bem de vida e uma espécie de mestre em jornalismo; e por fim o Monge Eremitão, que não parece estar muito satisfeito com a liberdade de imprensa, ou pelo menos com as ideologias do Doutor.

O Doutor, inicialmente, convence o seu «discípulo» que escrevendo sobre tudo o que lhe viesse à cabeça, sem censura, ganharia muito dinheiro e posição social.

Este, eufórico, em algumas horas alinhavou um periódico e procurou o Doutor para o ler. Depois de algum tempo de procura, finalmente encontra o Doutor e o Monge Eremitão, que ao saberem da notícia ficam ansiosos por ler o periódico, e é aí que começa a notar-se a divergência de opiniões.

O Doutor defende a ideia de “ataque” à Política, Economia e Religião, uma pura liberdade de expressão, sem tabús, como um verdadeiro revolucionário. Há uma altura em que se denota que ele é contra os “Corcundas” (Frades e Fidalgos). Uns, porque são possuidores de grandes quintas e outros por possuírem títulos e honras que, segundo ele, têm que acabar. Mas a ênfase vai para a possibilidade de qualquer um fundar um jornal para apregoar publicamente a sua visão sobre os assuntos. A forma de o fazer nem sequer seria relevante: “Quando um homem escreve assim, de duas uma, ou é desmentido, ou tolerado; se é desmentido, não lhe vem daí nenhuma malina, nem nenhuma dor de cabeça (…) e se lhe é tolerado, não foi uma lança em África? O Libelo corre à revelia, e depois qualquer o julga por certo.” (p.33).

Para o Doutor, “Os periódicos são os defensores, e os amigos da felicidade pública. O homem é sempre inclinado ao maravilhoso. Uma linda esperança, dá maior prazer que a mais útil realidade. Sustentar o corpo pela boca é acção ordinária; sustentá-lo pela imaginação, isso é que é delicado! E quem descubriu este segredo senão os periódicos? Quem tem posto os espíritos nesta figura? Quem tem ilustrado os Povos de maneira que já o mais estúpido aprendiz Alfaiate, qualquer barbeiro, qualquer Moço de cego, não aspira, nem se contenta já senão com o estado perfeito, o superlativo metafísico das coisas? Já ninguém consente que o que pode chegar aos cem, fique por acanhamento nos cinquenta. Os Povos porém não tinham estas ideias! Ah! Que tudo se deve aos ilustradores Periódicos!.. Eles são uns verdadeiros mágicos!.. São eles as varinhas de condão, que nos inculcaram as velhas!.. E será possível, que ainda se admitta o zombar deles. Eu o digo em alto, e bom som: que todo aquele que se atreve a tocar nestas Arcas da liberdade, atrave-se a ser inimigo da sua Pátria, e da superlativa felicidade dos seus semelhantes.” (p.58/59)

O Eremitão, pelo contrário, defende que a liberdade de expressão terá que ter regras e estar limitada, conseguindo convencer o Sebastianista de que se quiser realmente prosseguir como Periodiqueiro, terá que meditar bem sobre tudo o que escreve (liberdade limitada e ponderada). Apregoa, ainda, a necessidade de sossego e contenção. Para ele, não são necessários tantos jornais políticos, muitos deles escritos em mau e ofensivo estilo, por qualquer um, ainda que sem formação à altura da tarefa. Mais, haveria, na sua óptica, muitas propostas ineflectivas e irrealistas para o país apresentados pelos jornais. Segundo este personagem, “Os periódicos com o motivo de fazerem descobertas para o público (…) lhe roubaram a fama, a honra, e o dinheiro. Por exemplo, com o pretexto, de que as Religiões têm abusado dos seus institutos, pertendem roubar ao público estes estabelecimentos tão úteis, e tão santos, e atrás deles a Religião que professam, porque uma coisa deve seguir-se à outra.” (p.51). Mais, para ele os periódicos atiram “poeira aos olhos do Povo”, embora o povo já os “conheça” (p.59). São como os médicos que para curarem um dedo querem “cortar-lhe os braços, e ao som de dissertações médicas lhe vão logo metendo o ferro na carne. (…) Os periódicos são perfeitamente estes médicos, na nossa enfernidade política” (p.59). No entanto, ele diz: “o ofício de periodiqueiro é decente, e útil, quando defende a ordem, inculca o respeito às autoridades, e às coisas graves, aconselha a prudência, conduz com modestia e receio a opinião pública, aponta as reformas sem atacar as decências, e produz as suas análises sem honra; e finalmente, quando trabalhava por fins conseguíveis, que são aqueles que só pelo útil e honesto se alcançam. Mas se pelo contrário, como fazem os nossos, só se ocuparam em descrições vãs, e impraticáveis, em formar divisões, inventar epítetos, atacar, injuriar, e escarnecer tudo, quanto se tem respeitado, ou sacro, ou profano, chamar fanatismo às fórmulas da piedade, abuso às decisões da Igreja, escravidão á obediência, depotismo á ordem, e liberal a tudo, que eles pensam, semelhante emprego é desonroso, e igualmente prejudicial ao público. (p. 60). Segundo o Ermitão, “Os bons Portugueses estremecem já, quando aparece à luz algum folheto, e quando vêem que os Periódicos se alimentam, e duram. Além de tudo isto, (…) a oposição a toda a forma de Governo. Os exemplos das Nações extrangeiras, as semelhanças das frases o fazem adevertir no perigo. (…) Ele deseja que se tome o maior cuidado com estes Procuradores gratuitos o Povo, e confia que tenha bastado alguma experiência para se dever concluir que são orgãos suspeitos da opinião pública, que atrevidamente se adornam com ela para se apresentarem em público com algumas máximas, que são propriedade sua; e que se atenda, que pela analogia de muitos exemplos, pode uma semelhante equivocação trazer a anarquia sobre nós, e vermos perturbado um sistema, que é o único conducente para a felicidade pública, a mais importante aquisição dos Povos.” (p. 68). Para o Ermitão, os “periodiqueiros ilustradores” são “os únicos verdadeiros inimigos da Constituição, da ordem, dos costumes, e de todo o género humano, que os escuta.” (p. 70)

Por sua vez, o candidato a “periodiqueiro”, o Sebastianista, que euforicamente escreveu tudo aquilo que pensava, sonhando em ser uma outra pessoa, ficou realmente na dúvida se estaria certo ou se não seria melhor continuar a ser a pessoa pobre, humilde, que antes era.

O autor enfatiza, satiricamente, alguns aspectos ligados à produção artesenal dos jornais de então e a ostentação falsa que muitos faziam sobre o número de alegados leitores-correspondentes que os alimentariam com cartas.

Autor (nome completo): Renato Marques Cabral

E-mail: renato_cabral_88@hotmail.com