Lupi, L. (1958)
LÚPI, Luís C. (1958). A Informação e a Formação da Opinião Pública no Ultramar Português.
Autor: LÚPI, Luís C.
Ano de elaboração
Ano de publicação/impressão: 1958
Título completo da obra: A Informação e a Formação da Opinião Pública no Ultramar Português
Tema PRINCIPAL: Teoria do Jornalismo
Local de edição: Lisboa
Editora: Tipografia Minerva
Número de páginas: 183
Cota na Biblioteca Nacional
Cota na Biblioteca Nacional: S.A. 20626 V
Esboço biográfico sobre o autor
Luís C. Lúpi nasceu em 1901, sendo autor de vários livros sobre o ultramar português publicados entre os anos 50 e o final dos anos 70.
Foi responsável pela agência noticiosa Lusitânia e correspondente em Portugal da Associated Press.
Índice da obra
I – Introdução……………………141-142
II – Investigação e plano…………143-146
III – Da técnica da informação e das comunicações comunitárias
A)Da história da informação…………………………………….146-153
B)Da sua importância e influência no mundo………………….153-155
C)Telecomunicações e agências noticiosas………………………156-160
D)A “Lusitânia” e o caso nacional……………………………….161-163
E)Rádio e televisão……………………………………………….164-171
IV – Particularidades de Angola e Moçambique
A) O sentimento de “saudade” e a importância de uma língua comum para a unidade nacional…………………….172-176
B) Revelação de estatísticas……………………………………………………………………………………………….176-182
V – Definição de uma atitude…………………………………………………………………………………………………182
Resumo da obra (linhas mestras)
O livro A Informação e a Formação da Opinião Pública no Ultramar Português debate vários temas ligados ao meios de comunicação e à informação que na altura era transmitida à massa populacional portuguesa. O autor começa por evidenciar os avanços da técnica e da ciência, as suas vantagens evidentes e o “reverso da medalha”, quando utilizadas de forma inadequada. O progresso ético, de acordo com Lúpi, não acompanha o avanço tecnológico. No entanto, segundo o autor, o pânico e o desespero numa altura crítica como a guerra do ultramar português podia ser evitado através da informação. Para que tal feito pudesse ser obtido com sucesso, seria, segundo o autor, necessário investir na formação dos profissionais da informação, até porque a imprensa portuguesa, na versão do autor, seria constantemente subvalorizada em prol da estrangeira, apesar da qualidade dos jornalistas ser igualmente boa e, na avaliação de Lúpi, em alguns casos superior. Essa situação agravar-se-ia, em conformidade com Luís Lúpi, porque Portugal estaria, na altura, a deixar importantes pontos das colónias serem controlados pelas potências britânica e francesa. O patriotismo encontrava-se, assim, escondido, argumenta Lúpi, devido à gravitação em torno da Inglaterra, em busca de protecção.
Para reverter a situação, segundo o autor, seria necessário afastar a ideia de incapacidade e de que os outros são melhores do que os portugueses. Assim, de acordo com Luís Lúpi, seria vital uma boa informação da população, de modo a que esta se mantivesse formada e atenta aos factos que estavam a tomar lugar na história da humanidade.
Na altura dos acontecimentos narrados, os media estavam em plena evolução. A televisão tinha uma vida recente. Nas colónias e na metrópole, os noticiários audiovisuais eram transmitidos principalmente nos cinemas, pelo que os jornais e as rádios continuavam a ser, segundo o diagnóstico de Lúpi, um meio fulcral para a obtenção de informação. Ora, em qualquer meio, defende Lúpi, um dos critérios essenciais para a boa informação é a honestidade, o relatar verdadeiro dos factos. Em consequência, de acordo com Lúpi uma noticia que vai influenciar e informar uma população não pode conter interesses políticos associados nem ser alvo da censura e da propaganda, pois se o for a visão clara dos factos é adulterada. Para o autor, isso era especialmente assustador numa época em que a ânsia de informação era cada vez mais notável. Luís Lúpi, inclusivamente, dá o exemplo dos negros de África preferirem comprar um rádio a uma bicicleta.
No capítulo III, o autor relembra a história da comunicação no mundo e em Portugal, enfatizando que acredita que “o problema da informação tenha surgido com a própria vida racional e que os seres humanos ansiaram, desde sempre, por obter respostas à sua curiosidade.” (p. 147) O autor crê que a informação permitiu “a criação de grupos mais ou menos homogéneos, mas de aspirações afins – porque informação é também cultura.”(p.147)
Ainda no mesmo capítulo, o autor reflecte sobre a importância e influência do jornalismo no mundo, reconhecendo-lhe capacidade de moldar a “opinião e consciência dos povos” (p. 153), pelo que não pode ser menosprezado pela “inteligência organizada nos grandes países.” (p. 153)
O autor recorda, também, a história e o “assombroso” desenvolvimento das telecomunicações, que “tornam possível a divulgação quase simultânea em todo o Mundo, de quanto se passa em qualquer parte da Terra, por intermédio das Agências Noticiosas, que, com as suas constantes informações, conseguem que a Humanidade se conheça melhor, se emocione com os seus eventos, mesmo que algumas vezes possam ser acoimadas de indiscretas.” (p. 156). Assim, as agências noticiosas são, para o autor, “as grandes responsáveis pela divulgação do que se passa no Mundo e, portanto, o alimento básico da curiosidade humana nos tempos modernos” (p. 156). Evoca, então, o papel da primeira agência noticiosa portuguesa, a Lusitânia, que o autor dirigiu e que teria, nas suas palavras, sido criada “graças ao alto sentido político do Prof. Dr. Marcelo Caetano, que então sobraçava a pasta das colónias”. (p. 161) A criação da Lusitânia foi, para o autor, um “novo elo espiritual” que “teve decididamente influência na consolidação da Unidade Nacional”, tendo, só em 1954, publicado 14611 notícias (p. 161). Além disso, de acordo com o autor, a criação da Lusitânia teria sido fundamental para combater o predomínio da informação estrangeira no espaço nacional português, quer na metrópole quer nas colónias.
O autor fala das funções da imprensa, mas critica os jornais portugueses: “se a função ideal da imprensa é «estimular a vida no que ela contém de melhor, compete ao jornal diário, mais do que a qualquer outro órgão de informação escrita, consegui-lo dentro do cumprimento das suas três principais tarefas, que são: «informar, orientar e distrair». Uma simples análise da nossa imprensa actual mostra-nos que estas tarefas se cumprem, no geral, em inspiração e pensamento estrangeiro ou de origem extra-nacional. Mas não creio que as causas desta moléstia se possam atribuir com inteira justiça e exclusivamente aos seus próprios jornais. Creio que a perda de características definidas em alguns jornais que faziam os seus «fiéis leitores», e aos quais estes chamavam, com recíproco afecto, «o meu jornal», terá igualmente concorrido para um crescente desinteresse, criando uma espécie de apatia, mesmo perante a análise e comentários dos problemas nacionais que ocasionalmente neles apareçam. Escuso certamente de excepcionar desta regra os periódicos pedibola-desportivos. Para as gerações novas, os actuais jornais portugueses (refiro-me em especial aos da Metrópole e aos de grande circulação) são todos parecidos uns com os outros e isso leva-os a recorrerem para variar de «prato único» aos jornais e revistas estrangeiros de todo o Mundo.” (p. 162)
O autor apresenta, seguidamente, as estatísticas da UNESCO que suportam a sua posição de “alarme” em relação ao caminho que a imprensa nacional trilhava, onde se mostra, por exemplo, que Portugal foi o único entre 22 países em que o índice de consumo de papel de jornal por habitante tinha baixado de 1949 para 1951 (p. 163).
No que toca à rádio e televisão, o autor considera-as “elementos de primordial importância na comunicação de ideias que uma inteligência organizada deve cientificamente conduzir” (p. 164) e destaca o papel da Emissora Nacional nesse contexto. Relembra, em particular, que os que viram a cerimónia de coroação da Rainha Isabel II de Inglaterra pela televisão puderam “ver mais” do que aqueles que, como o autor, acompanharam o acto como convidados, em Westminster, pois “A televisão realiza verdadeiras radioscopias” (p. 167). No entanto, o elitismo crítico do autor vem ao de cima ao comparar essa abertura proporcionada pela televisão na coroação de Isabel II com a coroação de Jorge VI, a que Luís Lúpi também assistiu: “Na coroação de Jorge VI (…) quem quis ver Suas Majestades foi para aPraça e para a Rua e (…) aguardou com sacrifício os minutos de glória de ver passar o cortejo e de participar, em conjunto com a massa ignara do povo, do favor de um aceno cordialmente paternal. As massas precisam de «mistério» para que algumas das suas crenças não se desvaneçam. Parece-me que a famosa Intelligence Service deu um passo perigosamente em falso, em Inglaterra, no dia 2 de Junho (…) de 1953.” (p. 167)
A crítica elitista do autor à televisão continua, de resto, mais à frente: “O orador (ou actor) e o seu auditório (ou plateia), postos frente a frente, estabelecem, mesmo que seja somente um a falar, uma espécie de diálogo espiritual (…). Na televisão, que multiplicou numericamente o auditório, quebra-se, contudo, uma das mais belas e tradicionais formas de colaboração directa entre as elites e as massas. Aquela tem que considerar um público que envolve todos os graus culturais e intelectuais e todas as gamas sociais. Estas, completamente despidas dos tradicionais preconceitos de presença em multidão, de estar fora de casa, em público, vêm, dentro do seu próprio lar, ou no ambiente familiar do seu clube, ou café, o orador, ou o actor, que as inferioriza e por vezes desespera, por lhes não permitir colaborar retribuindo directa e imediatamente os seus impulsos espirituais de agrado ou desagrado, de aprovação ou reprovação. Por tudo isto (…), a televisão é um problema muito sério, que deve merecer o mais atento estudo técnico, psicológico e social, para que de mais um Bem da ciência não venha um Mal para a sociedade humana.” (pp. 167-168)
Luís Lúpi mostra-se também consciente do papel que a televisão poderia vir a ter na luta ideológica que Portugal travava, no contexto dos processos de descolonização que avançavam no mundo: “Arma poderosa, como nenhuma outra, sobretudo quando utilizada em sociedades culturalmente subdesenvolvidas, convém que nos antecipemos, ou pelo menos nos não deixemos atrasar um momento que seja, quando (…) em África se criem postos emissores” (p. 167) para se assim se evitar a ausência de Portugal dessa batalha hertziana.
O autor reflecte, também, sobre a língua portuguesa, elemento que, segundo ele, unia Portugal aos territórios ultramarinos colonizados, embora estes fossem altamente permeáveis a outras influências culturais, o que se via, por exemplo, pela penetração das publicações estrangeiras nas colónias. Realça, finalmente, que Portugal teria fazer dos nativos “verdadeiros portugueses” se não quisesse, no futuro, vir a ter problemas nos territórios colonizados.
Nome completo do autor da ficha bibliográfica: Ana Patrícia da Cunha Bandeira
E-mail: patrícia_bandeira@hotmail.com