Portela, A. (1943)
PORTELA, Artur (1943). Os Mortos Falam.
Autor: PORTELA, Artur
Ano de elaboração (caso não coincida com ano de publicação)
Ano de publicação/impressão: 1943
Título completo da obra: Os Mortos Falam.
Tema principal: Jornalistas e Vida Profissional
Local de edição: Lisboa
Editora (ou tipografia, caso não exista editora): Inquérito
Número de páginas: 30
Cota na Biblioteca Nacional e eventualmente noutras bibliotecas públicas
Biblioteca: Biblioteca Nacional Cotas: L 35508 P
Esboço biográfico sobre o autor ou autores (nascimento, morte, profissão, etc.)
Artur Portela nasceu em 1901 e faleceu em 1959. Foi jornalista, repórter, cronista, novelista, dramaturgo e realizador.
Índice da obra
Título…………………………………………………… Página
O jornalismo de guerra …………………………………………… 78
Mariano de Carvalho no Casino ………………………………. 88
A Confissão de Fialho…………………………………………….. 95
Um jornalista Republicano…………………………………….. 103
A pena de Navarro ……………………………………………….. 115
Um Mestre do Jornalismo ……………………………………… 136
Resumo da obra (linhas mestras)
Este é um livro de crónicas do jornalista Artur Portela.
Em várias dessas crónicas, o autor aborda temas de interesse para a compreensão do jornalismo português e para a forma como os jornalistas do início do século XX operavam em Portugal. Chama a atenção, em especial, para os expedientes que usavam, para a existência de “jornalistas” políticos, etc.
O Jornalismo de guerra
Na tarde em que Manuel Cardia se suicidou, Moreira de Almeida resolveu “experimentar” um rapaz com uma vaga recomendação.
Tratava-se de Hermano Neves um jovem muito vivo e curioso. Instalou-se em Sintra ainda novo, era um jovem muito talentoso, poeta e jornalista.
A sua primeira reportagem no “Dia” foi sobre a “velha dos gatos” e mais tarde viria a abordar as notícias mais sensacionais.
Hermano Neves entrou nas gazetas com uma ampla e sólida cultura. Resolveu ir pela Europa fora, instalando-se numa grande cidade estrangeira de onde enviava crónicas brilhantes para o “Diário de Notícias ”, “Gazeta de Notícias” e “Ilustração Portuguesa”.
Concretizou o sonho de formar-se em medicina em 1904. Pagava as suas matrículas desenhando figurinos para uma revista feminina no Brasil.
Quando regressa a Lisboa esquece-se de que é médico e faz a sua grande reportagem O 5 de Outubro, envolvendo-se na revolução para a redigir. Dessas jornadas resulta o livro: “Como triunfou a República”.
Manuel Guimarães funda “A Capital” e vai buscar Hermano para trabalhar consigo, este faz com que as tiragens do jornal subam, envolvendo-se na guerra civil e fazendo reportagens brilhantes.
Em fins de 1911, parte para África fazendo admiráveis reportagens que contribuíram para a solução dos problemas coloniais.
Volta a Portugal onde se bate em duelo com António Centeno, escrevendo o turbilhão dos acontecimentos.
Em Agosto de 1914, estala a guerra europeia. Um mês depois vai para França onde consegue uma sensacional entrevista.
Em 1915, com Herculano Nunes, publica o panfleto “Fora da Lei”. A notícia da entrada de Portugal na guerra dá a Hermano Neves a sua maior vitória jornalística, possibilitando-lhe afirmar-se como defensor da causa dos povos e das nações livres.
No dia da entrada de Portugal na Grande Guerra, Augusto Soares, ministro dos Negócios Estrangeiros, recusou-se a fornecer qualquer informação ao sair do Parlamento. Todos vão embora desanimados, mas Hermano Nunes arranja um esquema audacioso instalando-se num local estratégico e coloca-se frente ao carro do ministro, permitindo mais um triunfo de Hermano ao publicar o informe histórico na “Capital”.
Em 1919, este homem que passara a maior parte do tempo a partir de país em país regressa a Portugal onde funda, com Herculano Nunes, a “Vitória”, segue para África onde permanece durante largo tempo.
Em 1929, acaba por falecer.
Mariano de Carvalho no Casino
Reuniram-se no Casino Lisbonense um grupo de intelectuais revolucionários, uma reunião política cujo tema era o velho Partido Regenerador.
O jornalista e político Mariano de Carvalho surgiu na mesa. Era possuidor de uma grande eloquência popular.
De manhã tinha aulas na Escola Politécnica e terminava de madrugada em S. Roque, na redacção do “Popular”.
Quando o seu discurso no Casino terminou, a multidão trouxe ambos até à rua.
Nessa altura podia ter ascendido à direcção do Partido Republicano mas fiel ao credo progressista não deu esse passo.
Depois de António Rodrigues Sampaio, que escrevia escondido os seus tonitruantes artigos de “Espectro” e da “Revolução”, Mariano de Carvalho foi um dos grandes mestres do jornalismo português.
Nada fazia prever essa vocação, abandonou o Politécnico (onde mais tarde se tornou professor) por um curso de Farmácia, chegando também a ser boticário numa loja.
Mariano de Carvalho começou no jornalismo com Teixeira de Vasconcelos e por volta de 1862 fundou a “Gazeta de Portugal”. Passando pelo: “Notícias”, “Novidades”, “Popular”.
Até que decidiu criar o seu próprio jornal, o “O Diário Popular”.
Segundo Artur Portela, Hermano Nunes escrevia muitas vezes a jogar xadrez. “No meio de um linguado, levantava a cabeça e indicava a partida. E tudo isto sorrindo, entre a alegria esfuziante da redacção, sentado a qualquer mesa, sempre com a beata ao canto da boca”.
Nas questões difíceis da política a solução era Mariano de Carvalho, os seus discursos podiam considerar-se verdadeiras peças de eloquência.
Ocupou duas vezes o Ministério da Fazenda, deixando uma larga obra de administração. Para ele primeiro estava o jornalismo e só depois as obrigações de ministro.
A Confissão de Fialho
Fialho (de Almeida) era estudante de medicina e tornara-se o escritor mais virulento e corrosivo do seu tempo.
Era considerado o príncipe desdenhoso da crítica, abalando as colunas do templo.
Martinho e Eugénio seus amigos recém-chegados a Lisboa encontraram-no na rua do Ouro, abandonado, arrastando pesadamente o seu corpo.
Fialho, farto de sua vida miserável, decidiu desistir de escrever, sentia o seu talento explorado e apunhalado pelas costas.
Não queria ficar com uma efémera bagagem de historietas e de artigos mais ou menos verrineiros. Eugénio de Castro insinuou-lhe: “-Mas por que não faz o doutor um romance?”
Fialho ficou irritado, pois o romance era sua ambição, mas nunca o diria.
Por fim, foram a um botequim da travessa de S. Domingos, onde Fialho se reconciliou com a vida e com seus amigos.
Um Jornalismo Republicano
Mayer Garção pertenceu à geração que sucedeu ao 31 de Janeiro.
Era considerado “o príncipe do jornalismo”.
A República estava na sua fase mais bela, renascia do sacrifício que tingiu de sangue o velho Porto, burguês e capitalista.
Mayer Garção surgiu, por volta de 1899, com Fernando Reis, numa publicação de crítica intitulada “Os Vermelhos”. Tinha apenas 19 anos e já se revelava brilhante.
O seu lançamento como jornalista foi quando escreveu “A Queimar Cartuchos”, uma polémica com Silva Pinto, o segundo maior sarcasmo das letras.
Mayer Garção, ainda estudante, ataca-o audaciosamente e com tanta bravura, que o escritor da “Alma Humana”, em vez de o derrubar, abriu-lhe os braços com ternura e apadrinha a sua carreira jornalística.
Em 1896 funda a revista “Inferno” com Júlio Dantas, Antero de Figueiredo, José Sarmento, Domingos de Guimarães, entre outros.
Três jornais fixaram a sua personalidade: o “Mundo”, a “Capital” e a “Manhã”.
O jornalista está no auge da propaganda republicana. Escreve as Notas Vermelhas com Afonso Costa e mais tarde Notas à Margem.
Em 5 de Outubro de 1910 vive a hora da sua vida, “aquela em que viu desfraldar pela primeira vez a bandeira verde-rubra”.
Estala a primeira guerra europeia.
Mayer, na “Capital” torna-se um dos padrinhos da intervenção.
A “Manhã”, de que é directo, atravessa períodos difíceis, escrevendo debaixo de balas.
É lhe oferecida a direcção de um jornal, com um ordenado tentador. Porém, prefere continuar independente e rebelde, recusando assim a proposta.
Faleceu devido a um acidente de viação.
A Pena de Navarro
Emídio Navarro foi o D’Artagnam do jornalismo (Portela, 1943).
Os seus primeiros combates no jornalismo da capital foram no “Correio da Noite”, jornal que fundou depois de ter colaborado com António Enes no “Progresso”. Ficaram memoráveis as suas campanhas contra Fontes Pereira de Melo (no “Progresso”, “Correio da Noite” e no “Primeiro de Janeiro”).
O tempo passa, abandona o “Correio da Noite” e cria as “Novidades”. Nenhum ministério se constituía sem passar pelo seu gabinete era o jornal mais elegante do tempo e considerado a antecâmara do Terreiro do Paço. Por lá passaram Barbosa Colen, Melo Barreto, João Saraiva, Alberto Braga e muitos outros.
Navarro, António Enes e Mariano de Carvalho eram progressistas dissidentes, devemos-lhes um dos períodos mais belos do jornalismo português.
Navarro, como jornalista, era o mestre acatado e temido de todos os seus discípulos. É dele a célebre frase: “Um rei que se abandalha, é um rei que moralmente abdica”.
Reformaram-no, com todas as honras, no lugar de ministro em Paris, então muito invejado.
Em Portugal tinha inimigos mas voltou à sua casa no Luso para morrer.
Um Mestre do Jornalismo:
Moreira de Almeida trabalhava há vários anos para o “Dia” que era consagrado como um dos últimos “salões” literários e jornalísticos da Monarquia.
O “Dia” vinha do século passado, por António Enes, em 1887 sem tendências políticas, embora fosse considerado progressista.
Em 1990, quando Enes voltou à metrópole, constituiu-se um grupo, do qual faziam parte Adrião de Seixas, Luís Horta, Petra Viana, Hipácio de Brion e Moreira de Almeida.
Enes voltou à direcção, mas mais com seu nome do que com a sua actividade, pois devido a problemas de saúde era substituído em alguns trabalhos por Moreira de Almeida, que além de tratar dos artigos de fundo tinha uma secção privativa com o pseudónimo de Nemo.
Quando rompeu o século, o jornalismo sofreu uma grande renovação.
O “Dia” surge com um suplemento literário, o primeiro da Imprensa portuguesa, e é considerado a melhor folha literária de 1900. Passam pela redacção, em várias épocas, escritores como: Raul Brandão, Francisco Santos Tavares, Manuel Cardia, Luís Cardoso, entre outros.
Quando António Enes é enterrado, o seu conselheiro Hintze Ribeiro propôs aos cinco proprietários do “Dia” a filiação do Jornal na imprensa regeneradora, fazendo-os deputados, mas apenas dois aceitaram.
Em 1904, José de Alpoim assumiu a direcção do “Dia”. Era um liberal dentro da monarquia. Quatro anos depois, torna-se ministro da justiça.
Moreira de Almeida continua a bater-se pela monarquia velha. A seu lado tem agora o filho, Moreira de Almeida.
Após a tentativa revolucionária abortada em 28 de Janeiro, surge o “Radical”, dirigido por Marinha de Campos, que alinha ainda mais à esquerda da dissidência progressista. No “Radical” Machado Santos foi castigado por escrever um artigo contra a monarquia.
Um mês depois, em 5 de Outubro, viam-se bandeiras republicanas por toda a cidade.
Em Janeiro de 1911, reaparece Moreira, criticando a lei da separação da Igreja e do Estado. É então atacado por todos os lados. Foi atingido por uma bala e preso.
Quando libertado refugiou-se em Espanha, os seus adversários “rendem-se” à sua coerência. Ele é a voz do passado. Escreveu uma página admirável sobre o raid de Gago Coutinho e Sacadura Cabral.
O seu último artigo foi sobre a princesa Vitória, que seu filho concluiu devido ao seu estado debilitado.
Autor: Sandra Cristina Fernandes Pereira
E-mail: sandracris89@hotmail.com