Sindicato Nacional dos Jornalistas (1971)
SINDICATO NACIONAL DOS JORNALISTAS (1971). Projecto de Ensino de Jornalismo em Portugal.
Autor: Sindicato Nacional dos Jornalistas
Ano de elaboração (caso não coincida com ano de publicação): 1970
Ano de publicação/impressão: 1971
Título completo da obra: Projecto de Ensino de Jornalismo em Portugal
Tema principal: Ensino do Jornalismo
Local de edição: Lisboa
Editora (ou tipografia, caso não exista editora): Nova Lisboa Gráfica
Número de páginas: 20
Cota na Biblioteca Nacional e eventualmente noutras bibliotecas públicas
Biblioteca: Biblioteca Nacional
Cotas: P.8090V
Biblioteca: Biblioteca Pública Municipal do Porto
Cotas: N7-4-34 (22)
Esboço biográfico sobre o autor
[Obra colectiva.]
Índice da obra
[Não tem índice.]
Introdução: p. 3
Capítulo I – Experiência estrangeira no ensino do jornalismo: p. 3
Capítulo II – Necessidades Profissionais dos jornalistas: pp. 4-8
Capítulo III – Projecto de estruturação do ensino das Ciências da Informação em Portugal: pp. 9-13
Capítulo IV – Possibilidades existentes: pp 13-20
Resumo da obra (linhas mestras)
Esta obra representa a tentativa do Sindicato Nacional de Jornalistas para elaborar um projecto de ensino superior do jornalismo em Portugal. Nela se diz que a direcção do
Sindicato nomeou uma comissão que foi composta pelos jornalistas Silva Costa – a presidir – Jacinto Baptista, António dos Reis, João Gomes e Cáceres Monteiro – que secretariaram a mesma. A convite do Sindicato, ficaram consultores técnicos os jornalistas José Lechner (diplomado pela Escola Superior de Jornalismo de Lille e pelo Instituto Francês da Universidade de Paris), Oliveira Figueiredo (diplomado pela Escola de Jornalismo da Igreja de Madrid) e Carlos da Pontes Leça (diplomado pela Universidade de Navarra). A direcção do Sindicato fez-se representar na comissão pelos jornalistas João Gomes (diplomado pela Escola de Jornalismo de Lille) e António dos Reis (diplomado pela Escola de Jornalismo da Universidade Internacional Pró Deo de Roma).
Foi elaborado um plano de trabalhos que consistia em três fases consecutivas: A) Documentação; B) Discussão e C) Decisão.
Capítulo I: Experiência Estrangeira
Numa primeira fase procurou-se reunir informação sobre a experiência estrangeira, as necessidades actuais e futuras de profissionais nos sectores de Informação em Portugal e as possibilidades actualmente existentes em Portugal de colocar diplomados em jornalismo, de recrutar pessoal docente e de reunir o equipamento e o material didáctico necessários.
Relativamente à experiência estrangeira, baseou-se a busca em fontes documentais, como a revista Journalisme (do Centre International d’Énseignement Superieur du Journalisme, de Estrasburgo), o livro The Training of Journalists (resultado de um inquérito mundial da UNESCO aos jornalistas, datado de 1958) e o relatório O Ensino do Jornalismo nos Países da CEE (revista Análise Social, 1969). Fizeram-se audições a cinco diplomados em jornalismo em França, Itália e Espanha, e leu-se bibliografia especializada diversa, como um Anteprojecto de um Fluxograma de Curso de Comunicação (da autoria de um professor da Universidade de Minas Gerais, Brasil), La Prensa en los Países en Desarollo (de E. Lloyd Sommerlad, da Universidade do Texas), As Novas Dimensões do Jornalismo (do autor brasileiro Celso Kelly).
Ainda dentro deste capítulo abordam-se os seguintes temas:
Visão geral do ensino do jornalismo no Mundo;
Onde se verifica que há 650 estabelecimentos de jornalismo espalhados pelo mundo [1971], mas Portugal é um dos raros países onde não existe [1971] uma Escola de Jornalismo (Cf. The Training of Journalists, pág.59).
Tendências gerais:
Dos 650 estabelecimentos de jornalismo, 80% têm carácter universitário e 20% têm carácter prático e a maior parte dos programas inclui, em proporções muito variáveis, três categorias de matérias: a) técnicas propriamente jornalísticas; b) ciências de informação e c) matérias de cultura geral.
Existem três tipos de divisão de estabelecimento de jornalismo:
.1- Ao nível pós-universitário, como por exemplo: Institute Français de Presse de l/Université de Paris e tem como características: a admissão após licenciatura de qualquer disciplina, a duração de 2 anos, inclusão de todos os meios de informação no programa e ensinar só jornalismo, mas todas as formas de jornalismo.
.2 – Ao nível universitário, como por exemplo: Licence en journalisme – Université Libré de Bruxxelles e tem como características: a admissão após estudos secundários. No seu programa, além das matérias jornalísticas, também integra matérias de cultura geral, para formar jornalistas polivalentes ou especializados.
.3 – Ao nível médio, como por exemplo a École Supérieure de Journalisme de Lille. Estas escolas só têm em comum o carácter nitidamente profissional e prático e o facto de não conduzirem a uma licenciatura.
Para completar a documentação a comissão recolheu depoimentos de pessoas com uma aprendizagem escolar de jornalismo no estrangeiro. Foram ouvidos: um diplomado pela Escola de Jornalismo da Igreja de Madrid; um diplomado pelo Instituto Superior de Jornalismo da Universidade de Navarra (Pamplona); um diplomado pela Universidade Internacional Pró-Deo de Roma; um diplomado pela Escola Superior de Lille; e um diplomado pelo Instituto Francês da Universidade de Paris.
Capítulo II: Necessidades Profissionais
Neste capítulo foram focados as necessidades de formação especializada e o uso das novas tecnologias ao dispor dos jornalistas. Em resumo, o ensino do jornalismo justifica-se portanto pelos seguintes motivos:
a)Só um ensino sistemático pode assegurar um saber mínimo comum, que identifica uma profissão e lhe assegura a subsistência.
b)Só um ensino sistemático das condições técnicas da objectividade permitirá ao jornalista o exercício responsável da sua missão fundamental, que é a informação objectiva.
c)Só um ensino sistemático pode proporcionar os conhecimentos científicos, psicossociais e tecnológicos que habilitem à utilização eficaz dos meios de informação colectiva e garantam uma informação colectiva idónea.
d)Só um ensino sistemático permite a formação de uma consciência profissional comum que facilite a adopção generalizada de rigorosos critérios deontológicos.
e) Só um ensino sistemático pode gerar o quadro exigido pela investigação das técnicas e das ciências da informação, de que dependerá o próprio progresso dos meios de comunicação de massa.
As empresas existentes e o número de jornalistas actividade.
Para a realização deste quadro, as fontes documentais foram: o livro L´Information à Travers le Momde, realizado pela Unesco, Paris, 1986.; o livro Estatísticas da Informação realizado pelo INE, em 1969, os resultados de um inquérito feito pela comissão, outra documentação dos arquivos do Sindicato Nacional de Jornalistas e toda a informação relativa à imprensa realizada pela Secretaria de Estado da Informação e Turismo. Conclui-se que na metrópole, ilhas e ultramar, a situação dos media e dos profissionais de comunicação [1971] se pode descrever do seguinte modo:
1.Publicam-se em Portugal 48 diários, cuja tiragem global não ultrapassam em 1964, 768,575 exemplares. Segundo a Unesco os jornais com maior tiragem não ultrapassavam 120 mil exemplares e a tiragem global dos diários teria aumentado mais de 200 mil exemplares de 1955 a 1964
2.Só em dois meses de comunicação, em relação à metrópole, o consumo mínimo vital delimitado pelos critérios da Unesco foram: Imprensa – 10 exemplares por cada 100 habitantes, Rádio – 5 receptores por cada 100 habitantes, Televisão – 2 receptores por cada 100 habitantes e Cinema – 2 lugares por cada 100 habitantes
3.Observa-se que os diários existentes empregam, em média, dez jornalistas profissionais cada um, o que se deve considerar uma das mais baixas médias do mundo
4.De 414 jornalistas em 1966 passou-se, 5 anos depois, para 498, só no Continente e ilhas. O acesso à profissão foi portanto, em média, 16 por ano.
5.A educação escolar dos jornalistas prevista no Contrato Colectivo de Trabalho é o 5º ano do Liceu ou equivalente, o que se revela inadequado às exigências da profissão. Por isso mesmo, o projecto do novo Contrato Colectivo de Trabalho elevou a fasquia para o 7º anos de escolaridade ou equivalente.
Perspectivas de desenvolvimento da informação
Aqui analisa-se a evolução económica social de Portugal e o desenvolvimento da informação. Os autores observam que os indicadores estatísticos possibilitam antever a expansão do sector da comunicação social, referindo-se, nomeadamente, ao aumento da população (população activa em 1960 era de 9.041.800 e em 1975 era de 9.660.000), ao aumento da escolaridade (aumento de quase 90% durante os vinte anos de período considerado) e ao aumento da industrialização e da urbanização (aceleração do ritmo de acréscimo do produto nacional, repartição mais equitativa dos rendimentos e correcção progressiva dos desequilíbrios regionais de desenvolvimento).
Capítulo III: Projecto de estruturação do Ensino das Ciências de Informação em Portugal
Neste capítulo, aborda-se o projecto de estruturação do ensino das Ciências da Informação em Portugal nos seguintes âmbitos:
Âmbito institucional: tendência quase universal para integrar os cursos de jornalismo nas universidades;
Exigências de formação: Nas palavras dos autores do relatório, “As exigências de formação de jornalistas numa instituição universitária são vastas e complexas. Por um lado, requere-se a preparação que permita o entendimento de uma ampla problemática suscitada pela informação escrita e audiovisual – o que determina um nível de abstracção e uma compreensão dos fenómenos humanos que só parece poderem ser alcançados em ambiente pautado pela exigência científica e pela formação do espírito critico, ambiente que é própria da Universidade. Importa sublinhar, neste contexto, que a função do jornalista exige a mais larga base de conhecimentos, pois os meios colectivos de informação cobrem todos os domínios do saber e das actividades humanas: o espaço, o tempo, a sociedade, as instituições, as ideologias, as doutrinas, a criação artística e cientifica, os próprios ideais… Mas todo o conteúdo da informação aponta para as grandes orientações da actualidade, definindo logo o programa peculiar que a informação em jornalismo reclama: interessa-lhe integrar o conjunto da problemática contemporânea”. Em consequência, para os autores do relatório, o exercício do jornalismo pressupõe uma formação superior em três domínios fundamentais e solidários: as Ciências da Informação, que estudam o fenómeno Notícia – sua natureza, sua comunicação, seus efeitos psicossociais; a Técnica da Informação, que parte daquelas ciências para fixar as regras do processo informativo e as condições de objectividade, mas também é resultante da experiência acumulada de conhecimentos e procedimentos da informação, ensaio do respectivo exercício e estudo prático da aplicação da electrónica, da cibernética e da informação aos meios de transmissão da noticia; e a Cultura para a Informação, que busca a transmissão de um saber polivalente, extremamente actualizado, inclusive no domínio do instrumento essencial da comunicação – a linguagem.
Esquemas de organização de um curso universitário de jornalismo
Inserção institucional: Ensino universitário – criação de um Instituto Superior de Ciências de Informação.
Graus académicos: Bacharel em Ciências de Informação, Licenciado em Ciências de Informação, Doutor em Ciências de Informação.
Duração dos estudos: Bacharelato 3 anos, Licenciatura 5 anos, Doutoramento igual ao regime estabelecido no Dec Lai n388/70.
Acesso: Nível de preparação igual ao de acesso a qualquer curso universitário.
Acessos especiais: Os candidatos à admissão no Instituto Superior de Ciências de Informação que tenha frequentado outros cursos existentes nas Universidade seriam dispensados de cursar as disciplinas em que obtiveram aprovação.
Regime de frequência: Aulas teóricas (obrigatória a presença em 2/3 das aulas). Aulas práticas obrigatória a presença em 9/10 das aulas.
Regime de passagem de ano: O definido para a Universidade tendo em conta a avaliação dos conhecimentos.
Regime de concessão de graus: Bacharel – corresponde à aprovação nos três primeiros anos do plano de estudo; Licenciado – corresponde à aprovação nos cinco anos do plano de estudos; e Doutor – corresponde ao regime estabelecido no Dec. Lei. Nº388/70.
Regime das aulas práticas: As aulas praticas serão ministradas principalmente através de: 1 – Jornal Laboratório, 2 – Estúdio-laboratório de Rádio, 3 – Estúdio-laboratório de Cinema e Televisão e 4 – Estúdio-laboratório de Fotografia.
No relatório, reproduzem-se, seguidamente, algumas tabelas relativas ao Plano de Estudos em que se estruturam as disciplinas para o Primeiro, Segundo, Terceiro, Quarto e Quinto Ano assim como os números semanais de aulas para os vários anos.
No primeiro ano, as disciplinas previstas pelos autores do relatório são: Linguística I e II; História das civilizações; Geografia Económica e Politica Língua Estrangeira I e II, Tecnologia dos Meios de Informação I e II e História do Jornalismo I e II.
No segundo ano, as disciplinas são: Literatura Portuguesa; História Contemporânea II, História das Artes e Noções de Estética, Língua Estrangeira III, Técnicas de Recolha de Informação I e II; Teoria da Notícia, Estilística I, Sociologia, Elementos gerais de Direito; Economia; Teoria de Informação Publica.
No terceiro ano, as disciplinas são: Estilística II e III, Introdução à Ciência Politica, Instituições Internacionais, Administração Pública, Técnicas de Tratamento de Informação I e II, Deontologia, Doutrinas Económicas e Sociais, Metodologia da Documentação, Legislação da Informação.
No quarto ano, as disciplinas são: Sociologia e Informação, Jornalismo comparado I e II, disciplina de Opção.
No quinto ano, as disciplinas são: Informática, Gestão e Administração de Empresas de Informação, Disciplina de Opção, Desenvolvimento e Informação, Direito Comparado de Informação.
Capítulo IV: Possibilidades Existentes
Adoptada uma hipótese para o ensino universitário do jornalismo em Portugal, importava averiguar quais as possibilidades da sua criação imediata. Fixaram-se, para o efeito, critérios correspondentes às exigências fundamentais: a do financiamento, a do pessoal docente e a do equipamento e material didáctico.
Financiamento: Na generalidade dos países onde estão estabelecidas as Escolas de Jornalismo de nível universitário são financiadas pelo Tesouro Público através das Universidades, pelo que o mesmo modelo deveria ser seguido em Portugal.
Pessoal docente: A escolha e recrutamento do pessoal docente deveria subordinar-se às condições previstas na Lei. Os docentes da área específica do jornalismo deveriam ser recrutados entre os profissionais com larga experiência de profissão e que cumulativamente tivessem formação superior; para os restantes, seria seguido o modelo geral de recrutamento universitário.
Possibilidades de equipamento e material didáctico: O equipamento deve corresponder aos objectivos do ensino e da investigação, incluindo Bibliotecas; Arquivos gerais e de informação; Hemeroteca; Jornal-laboratório (com tipografia e oficina de fotogravura); Estúdio-laboratório de fotografia; Estúdio-laboratório de televisão e cinema (com circuito fechado de TV, projector, pantalha, moviola, truca cinematográfica, etc) e Estúdio-laboratório de Rádio. O departamento deverá também ser dotado do necessário equipamento auxiliar (fotocopiador, duplicador, telescritores, receptores de rádio e de TV. Quanto aos manuais didácticos, os autores dizem que há vários publicados em língua portuguesa e noutros idiomas acessíveis a universitários.
Na conclusão reafirma-se que o ensino de jornalismo em Portugal não só é necessário, como também é condição imprescindível para que “o povo português disponha da informação a que tem direito e que o progresso do país não pode dispensar”.
Nas últimas páginas deste livro, encontramos algumas tabelas sobre a Imprensa periódica; meios de informação; evolução do número dos sócios do Sindicato dos Jornalistas, contribuintes e jornalistas e equiparados. Em anexo, vemos informação sobre: escolas de jornalismo no estrangeiro – exemplos típicos, Instituto de Imprensa da Universidade de Paris, Instituto de Jornalismo da Universidade de Munique, Instituto de Jornalismo da Universidade de Navarra, Escola Oficial de Jornalismo de Madrid e Escola Superior de Jornalismo de Lille.
Autor (nome completo): José Henrique Ferreira Couto Coelho
E-mail: henriquecoelho@sapo.pt