Gama, E. (1956)
GAMA, Eurico (1956). Jornalismo Campomaiorense.
Autor
GAMA, Eurico
Ano de elaboração
Ano de publicação/impressão
1956
Título completo da obra
Jornalismo Campomaiorense
Tema principal
História do Jornalismo
Local de edição
Coimbra
Editora
Coimbra Editora
Número de páginas
58
Cota na Biblioteca Pública Municipal do Porto
Biblioteca: Biblioteca Pública Nacional do Porto
Cota: D8-10-62
Biblioteca: Biblioteca Nacional
Cota: B 3810 P
Esboço biográfico sobre o autor
Nasceu em Elvas, em 1913, e faleceu em 1977. Bibliófilo, editor, membro da Sociedade de Geografia de Lisboa e da Academia Portuguesa de História. Colaborou em diversos jornais e revistas. Entre 1963 e 1969, foi director da Biblioteca Municipal de Elvas. Dirigiu e editou a colecção de estudos elvenses À Sombra do Aqueduto. Doou o seu espólio particular, de cerca de seis mil volumes, à Biblioteca Municipal.
Índice da obra
Páginas
Capitulo I: A modo de prefácio……………………………………….. 7
Capitulo II: O Campomaiorense (1921-1923) ………………………. 11
Capítulo III: O Campomaiorense (1924-1928)………………………. 21
Capítulo IV: O Campomaiorense (1933-1934)………………………. 33
Capitulo V: O Noticias de Campo Maior (1926-1929) ………………. 39
Capitulo VI: Antologia - I - Os Contrabandistas……………………… 49
- II - Evocações……………………………… 55
Resumo da obra
Capitulo I (pp. 7-10)
Neste capítulo introdutório, o autor Eurico Gama constata que, até ao momento, a Vila de Campo Maior apenas teve dois jornais: O Campomaiorense e o Noticias de Campo Maior.
O autor identifica desde já o assunto que desenvolverá ao longo da sua obra, na medida em que nos diz que esses jornais “tiveram uma vida atribulada, por isso, efémera”.
Seguidamente, o autor refere o motivo que, na sua óptica esteve na base de todas as dificuldades para manter vivo um jornal na Vila de Campo Maior: a falta de uma tipografia.
Eurico Miranda considera, assim, que não foi por falta de leitores, jornalistas capazes ou capital que os jornais de Campo Maior desapareceram – “leitores, capital e colaboração não escasseariam por certo. Os primeiros – se não lhe chegassem os habitantes da progressiva e histórica vila, seriam bastantes com os campomaiorenses espalhados pelas sete partidas do mundo; o segundo – numa terra de gente rica como Campo Maior seria uma indignidade e uma afronta se faltasse; quanto há terceira – há na vila valores para o desempenho da missão, digo-o sem receio de cair no erro” (p.7).
Saliente-se, desde já, o modo temerário e comprometido como o autor fala da sua região e a forma acérrima e descomplexada como expressa os seus pontos de vista sobre o tema em questão.
Para sustentar esta tese, Eurico Gama lança mão de nomes como João António Dubraz, Lourenço Cayolla e João Ruivo, apontando-os como exemplo de grandes jornalistas da região que se impuseram a nível nacional, pelo seu talento.
Ao longo desta nota introdutória, o autor manifesta, por isso, a esperança de que um dia a Vila de Campo Maior recupere os seus periódicos: “espero que, ambos ou um só, voltem um dia a ver a luz da publicidade, para bem de Campo Maior, do Alentejo e da Nação” (p.8).
É de realçar, ainda, a referência a alguns dados estatísticos referentes a Campo Maior, descrita como “vila, sede de concelho rural, com uma área de 240 km2, com uma população “de cerca de 8000 habitantes (…) e como terra de lavoura, terra de pão e de vinho com arredores que são um luxo, realmente a Campo Maior fica bem o título de “Campo das Flores” (p.10).
Capitulo II (pp. 11-20)
Neste capítulo aborda-se aquela que é considerada a primeira fase da vida do jornal O Campomaiorense. São apresentados os seus criadores, os objectivos e a data da sua publicação.
Assim, o número espécime d’O Campomaiorense foi publicado “a 24 de Junho de 1921, figurando no cabeçalho como director e editor, Eduardo Ramos”. Este jornal era propriedade do Grupo Pró Terra Nostra e era impresso na Rua Manuel Gomes Estela, em Elvas (p.11).
Os seus responsáveis afirmavam ser sua intenção chefiar um jornal que divulgasse as notícias da terra e da nação e que adoptasse uma atitude de total independência em termos políticos.
Deste modo, Eduardo Ramos traça as directrizes do periódico: “Conhecendo-se em absoluto a necessidade de um periódico nesta localidade, que este possa enfim, despido de toda e qualquer cor política, defender os interesses desta região” (p.11). Na sua génese, o Campomaiorense vinha para “lutar lealmente, pugnando apenas pelos interesses locais e regionais, trabalhando para a construção do maravilhoso edifício que se chama Progresso, extinguindo no possível esses ódios pessoais que a sociedade apodrecida nos tem trazido” (p. 12).
Era um jornal cujas dimensões eram de 240*350mm, com 4 páginas e 4 colunas cada, normalmente em corpo 10. O preço da assinatura era de 1$20 por série de 12 números, e avulso 10 centavos cada. Ao longo desta primeira fase da sua existência deve dizer-se que as dimensões, o grafismo e a direcção d’O Campomaiorense sofreram frequentes alterações – “Mudámos de cabeça para embelezarmos a nossa humilde folha, para lhe darmos umas tintas de novidade, de pitoresco, de bairrismo original” (p.14), sendo que, no entanto, continuava a proclamar-se politicamente independente. “O Campomaiorense não está filiado em nenhum dos partidos monárquicos, republicanos ou socialistas” (p. 15).
Esta era, contudo uma tese que Eurico Gama refuta constantemente, na medida em que afirma que o jornal sempre foi veículo de ideias republicanas.
No final deste capítulo, deve colocar-se o acento no anúncio da suspensão deste periódico, mais precisamente com o “número 62, saído em 30 de Outubro de 1923” (p.16), devido a problemas financeiros.
Paralelamente, Eurico Gama, apresenta uma lista de colaboradores do jornal, bem como o conjunto de artigos e folhetins que, no seu entender, são mais interessantes.
Capitulo III (pp. 21-32)
Neste capítulo, o autor propõe-se tratar da história da segunda fase de vida do jornal O Campomaiorense. Na verdade, começa por afirmar que este foi um periódico que deixou saudades ao seu público e à região - “a suspensão do simpático jornal foi lamentada por todos os campomaiorenses que, embora não o tivessem acarinhado como deviam, sentiam agora a sua falta” (p.21) mas que felizmente veio a reaparecer
Deste modo, o jornal surge de novo a 24 de Fevereiro de 1924, tendo como director Telo da Gama, e passando a ser impresso na Minerva Comercial, Limitada, em Évora. “O formato manteve-se o mesmo mas a composição foi dividida em 4 colunas” (p.22). A sua publicação era feita com a colaboração de uma maioria de colaboradores que haviam participado na primeira série e o preço avulso 30 centavos.
Todavia, continuava a haver uma enorme instabilidade em termos do local de Impressão do jornal, das suas linhas editoriais e dos seus directores o que levou a que a regularidade da sua publicação fosse afectada e comprometesse a sua continuidade – A partir de 24 de Junho de 1925, o jornal começou a sair com certa irregularidade, publicando-se alguns números com o intervalo de um mês uns dos outros.
Apesar de se ter centrado em aspectos interessantes do quotidiano, através da publicação de artigos sobre o estado da nação e da região, nomeadamente referindo o “péssimo estado da rede de estradas e fornecimento de energia eléctrica à vila” (p.25), O Campomaiorense veio a desaparecer novamente em 15 de Abril de 1927, saído a 14 de Abril do ano seguinte o número 127 apenas para garantia de título.
De referir que Eurico Gama apresenta, novamente, nesta segunda fase, uma lista de colaboradores, artigos e folhetins considerados mais relevantes. Ao mesmo tempo dá-nos uma panorâmica bastante interessante sobre a forma como, no nº 114 de 13 de Junho de 1926, apreciando a revolução ocorrida em Maio do mesmo ano, o director d’O Campomaiorense manifesta a sua alegria e esperança num Portugal melhor: “O exército reagiu e o exército venceu! Que em boa hora venha a sua intervenção!” (p.26), lamentando apenas a existência da Censura “Por coerência com o nosso passado, não podemos deixar de protestar contra a existência de Censura, que é sempre uma afronta à liberdade de pensamento” (p.27).
Capitulo IV (pp. 33-38)
Este é o momento escolhido por Eurico Gama para fazer, pela primeira vez, referência a um outro periódico que circulou na Vila de Campo Maior e que se intitula Notícias de Campo Maior. Contudo, apenas no próximo capítulo saberemos mais sobre este jornal.
Desta forma, o autor centra a sua atenção naquela que considera ser a terceira e última fase da vida do jornal O Campomaiorense. Com efeito, é dito que o jornal O Campomaiorense reapareceu em 31 de Março de 1933, tendo como director Marciano Alves e como tipografia a Tipografia Popular, em Elvas. O formato era, agora, mais pequeno e tinha por dimensões 425*295mm, dividindo-se as páginas por quatro colunas.
Na opinião de Eurico Gama, “sem abertamente se declarar um jornal político, não era difícil verificar, pela sua orientação, que representava mais um baluarte do Nacionalismo” (p.34)
“Até a suspensão deste periódico, saíram 31 números regularmente (…). O número 31 só veio a lume em 20 de Janeiro de 1935”(pp.35-36) e com ele terminou a vida do jornal.
Refira-se, mais uma vez, a crença inabalável por parte de Eurico Gama de que um dia a Vila de Campo Maior voltará a ter um periódico, pois como o próprio afirma “há em Campo Maior muito boa gente com qualidades para meter ombros a essa tarefa, sem dúvida espinhosa, mas sempre aliciante quando se ama entranhadamente a terra em que se nasceu.” (p.36). Esta é uma convicção vincada pelo autor ao longo de toda esta obra.
Capitulo V (pp. 39-48)
Este capítulo dá conta que O Notícias de Campo Maior surgiu num período coincidente com a interrupção, pela segunda vez, do jornal O Campomaiorense. Este jornal teve como suporte organizativo o Grupo Pró Terra Nostra e constituiu-se alicerçado nos elementos que haviam estado na génese d’O Campomaiorense.
Deste modo, o novo periódico apresentou-se com um aspecto gráfico bastante arejado, publicando quase sempre 6 páginas e algumas vezes 8, no formato de 370*255mm.
A sua direcção e os seus colaboradores eram bastante numerosos, o que “daria logo a sensação de que se tratava duma iniciativa em que nem um só pormenor teria sido descuidado. Afinal, em três anos de publicação, só saíram 38 números.” (p. 40).
A redacção e administração era em Évora e o primeiro número saiu a 1 de Junho de 1926, sendo dedicado a João Ruivo – “a alma e o cérebro do jornal”(p.40). Na sua maior parte, O Noticias de Campo Maior, dedicava-se aos assuntos locais e à literatura, com leitura variada e interessante.
Apesar de se afirmar independente politicamente, segundo Eurico Gama, este era também um jornal que se orientava pela trilogia: Pátria, República e Democracia.
João Ruivo, como já vimos, era a cabeça pensante deste periódico e afirma que este jornal não apresenta um programa de intenções, pretendendo apenas ser julgado de acordo com a sua qualidade – “O nosso programa será, pois, a obra que viermos a realizar: boa ou má; útil ou inútil – e que só o tempo, verdadeiro juiz, poderá julgar” (p.41).
Eurico Gama chama ainda a atenção neste capítulo para o facto de este jornal se caracterizar por alguma irregularidade na sua publicação. Segundo ele tanto saíam três números num mês, como só dois ou um, chegando até a haver meses em que não era publicado nenhum o que, quanto a mim, será de novo indicador da pouca estabilidade e consolidação da imprensa campomaiorense.
O princípio do fim deste periódico dá-se com a saída do seu mentor, João Ruivo, pois por motivos profissionais, este abandonou o projecto e, sem ele, tudo ficou mais difícil.
“O último número publicado foi o 38, em 1 de Junho de 1929” (p.43).
Como conclusão deste capítulo e, em certa medida, desta obra Eurico Gama afirma ter concluído um despretensioso trabalho sobre o jornalismo campomaiorense.
Capitulo VI (pp. 49-58)
Este capítulo resume-se, em traços gerais, a dois artigos que se intitulam os Contrabandistas e Evocações. São assinados por Lourenço Cayolla e Celestino David, respectivamente.
No primeiro caso trata-se de um artigo retirado d’«O Campomaiorense» e, no segundo caso, estamos perante um artigo extraído do Notícias de Campo Maior.
O primeiro artigo versa sobre a actividade de contrabando que reinava entre a população da vila de Campo Maior e a vizinha Espanha.
Lourenço Cayolla recua até 1891 e afirma que “nesses tempos a situação financeira da Espanha, dividida por crudelíssimas guerras civis e dilacerada por tentativas revolucionárias era bem pouco lisonjeira.” (p.50). Assim, “tornava-se irresistível a tentação de se realizarem compras importantes nos mercados do país vizinho e de se aproveitar uma fronteira aberta de centenas de quilómetros, impossível de ser eficazmente fiscalizada, para furtar os artigos e géneros adquiridos aos direitos de importação. O contrabando tomou as proporções de uma grande indústria.” (p.50)
No que diz respeito ao segundo artigo, trata-se de uma evocação de Celestino David à vila de Campo Maior, em que este fala do seu percurso e recordações da região – “Quando se vai a caminho da velhice, recordar é um doce prazer.” (p.55). Este, aproveita o facto de colaborar com o Noticias de Campo Maior, para se lembrar de “mil imagens diferentes e queridas” (p.56). No fim de contas, como o próprio refere dado passo neste texto “É o tanger das saudades. É a invocação do passado que não torna” (p.57).
Autor: Ana Isabel Moreira Couto
E-mail: ana-couto@hotmail.com