Gonçalves, J. (1966)
GONÇALVES, José Júlio (1966). A Informação na Guiné, em Cabo Verde e em São Tomé e Príncipe.
Autor: José Júlio Gonçalves 1965/1966
Ano de publicação/impressão: 1966
Título completo da obra: A Informação na Guiné, em Cabo Verde e em São Tomé e Príncipe (Achegas para o seu Estudo)
Tema principal: Introdução e Difusão da Imprensa nos territórios coloniais
Local de edição: Lisboa
Editora (ou tipografia, caso não exista editora): Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina Universidade Técnica de Lisboa
Número de páginas: 231
Cota na Biblioteca Nacional e eventualmente noutras bibliotecas públicas
Biblioteca: Biblioteca Nacional Cotas: SC 26930 V
Esboço biográfico sobre o autor ou autores (nascimento, morte, profissão, etc.)
Professor extraordinário do Instituo Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina da Universidade Técnica de Lisboa. Ministrou o Curso de Extensão Universitária de 1965/1966.
Índice da obra
Sumário pp. 1-15
Apontamento preambular, p. 15
Introdução p. 17
1. Breves Considerações históricas sobre o descobrimento e a colonização da Guiné, de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe, 17-20
Guiné Portuguesa
1. Meios e processos de comunicação entre os navegadores portugueses e as populações guineenses., pp. 21-35
2. Primeiras publicações introduzidas na costa da Guiné pelos navegadores e missionários portugueses p. 36
2.01. Publicações muçulmanas, não impressas, que se presume circularem na Costa da Guiné nos primórdios da expansão portuguesa, p. 40
3. A primeira publicação periódica oficial da Guiné portuguesa. O Boletim Oficial do Governo Geral de Cabo Verde (1842), p. 40
4. Introdução da Tipografia na Guiné Portuguesa (1879), p. 40
4.01. Início da publicação do Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa (Bolama, 1880), p. 44
4.02. Primeira publicação periódica não oficial da Guiné Portuguesa: Pró-Guiné (1924), p. 47
4.03. Breve apontamento sobre a evolução da imprensa periódica da Guiné Portuguesa, p.49
4.04. Publicações periódicas e outros meios não periódicos de comunicação utilizados pelo protestantismo em terras guineenses, p.68
4.04. Comunicação catequética protestante destinada aos muçulmanos – sobretudo aos jovens – através de discos, p. 75
4.05. “Jornais de caserna” editados pelas forças militares estacionados na Guiné Portuguesa. Panfletos e outros meios de comunicação e convencimento, p. 79
4.06. Jornais escolares impressos e de parede, p. 98
4.07. Alguns números elucidativos sobre jornais, as revistas, os boletins, e outras publicações periódicas difundidas entre os Guineos-Portugueses, p. 100
4.08. A propósito das publicações não periódicas que circulam na Guiné Portuguesa, p. 102
4.09. Alguns aspectos e problemas significativos da informação impressa ao alcance dos Guineenses, p. 105
4.09.1 O “português” – língua oficial dos movimentos que visam a Guiné Portuguesa. O livro de leitura clandstina Cadernos Escolares, editado pelo P.A.I.G.C., p. 105
4.09.2 Movimento das bibliotecas locais. Inconfidências estatísticas,.110
5. Da Informação Áudio-Visual, p. 113
5.01 O cinema – um meio de comunicação, lustração, cultura, informação e distracão pouco utilizada na Guiné Portuguesa, p. 113
5.02. Introdução e evolução da T. S. F. na Guiné, 116
5.02.1. Problemas da informação auditiva na Guiné Portuguesa, p.121
5.02.2. T.S.F. e estatística, p.122
6. Outros meios de comunicação e informação, p.123
6.01. A correspondência postal, fonopostal, telefónica e telegráfica, p.123
6.02. O turismo – uma fonte de informação e divisas em perspectiva, p.131
6.03. O boato – um poderoso meio de informação clandestina, p. 134
7. Perspectivas da Informação na Guiné Portuguesa, p.135
Cabo Verde
1. Chegada das primeiras pessoas e publicações ao arquipélago de Cabo Verde, p. 137
2. O primeiro prelo transportado para Cabo Verde, p. 141
2.01. O Boletim Oficial do Governo Geral de Cabo Verde - primeira publicação periódica composta e impressa em Cabo Verde (1842), p.142
2.02. Primeiras publicações periódicas não oficiais editadas em Cabo Verde, p. 147
2.03. Breves notas sobre a evolução da imprensa periódica em Cabo Verde, p. 150
2.04. A imprensa protestante em Cabo Verde, p.168
2.05. O Telémetro – um jornal “jornal de caserna” que se recorda, p.177
2.06. Alguns dados estatísticos sobre a imprensa periódica de Cabo Verde, p.177
2.07. O livro em Cabo Verde, p. 181
2.07.1. Da antiga “Livraria do Convento dos capuchos” da Ribeira Grande, e da Biblioteca do Seminário de S. Nicolau, à Biblioteca Pública da Praia e às bibliotecas escolares actuais, p.181
2.07.2. O livro, como meio de comunicação entre os “increntes” ou “rebelados” de Santiago, p. 185
3. A Informação Áudio-Visual, p. 186
3.01. Cinemas e filmes exibidos, p. 186
3.02. Introdução da T.S.F. em Cabo Verde, p.187
3.02.1. A T.S.F. cabo-verdiana traduzida em números, p. 189
4. Outros meios de Comunicação e Informação, p. 189
4.01. A correspondência postal, fonopostal, telefónica e telegráfica, p. 190
4.02. O turismo, p. 192
4.03. O boato – um meio esoérico de informação, p.193
5. Perspectivas da Informação em Cabo Verde, p. 193
São Tomé e Príncipe
1. Primeiras publicações provavelmente introduzidas em São Tomé e príncipe, p. 195
2. Dois impressores alemães em São Tomé, no ano de 1494, p. 195
3. Introdução da tipografia em São Tomé e Príncipe, p. 196
3.01. A primeira publicação periódica e impressa em São Tomé e príncipe: O Boletim Oficial do Governo da Província de S. Tomé e Príncipe (1857), p. 197
3.01.1. Aspectos característicos do Boletim Oficial do Governo da Província de S. Tomé e Príncipe, p. 201
3.02. Da imprensa periódica semioficial e não oficial de São Tomé e príncipe. Apontamento histórico, p. 201
3.02.1 Jornais, panfletos e outros impressos clandestinos, p..208
3.02.2 Elementos estatísticos relativos às publicações periódicas são tomenses, p. 214
3.03. O movimento das bibliotecas locais, p. 214
4. A informação Aúdio-Visual, p.217
4.01 O teatro popular – tchilôli - , um meio de comunicar pela viva voz e pelos gestos, p. 217
4.02. O cinema – Projecção social e expressão estatística, p. 221
4.03. Introdução da T.S.F. em São Tomé e Príncipe e alguns problemas com que aquela se defronta, p. 222
5. Outros Meios de Comunicação, p. 225
5.01. A correspondência postal, fonopostal, telefónica e telegráfica, p. 225
5.02. O turismo – função do binómio transportes-alojamento, p. 227
Apontamento conclusivo p.228
Bibliografia pp.229-231
Resumo da obra (linhas mestras)
O autor desenvolve neste artigo, cujo conteúdo foi apresentado numa lição na Universidade Técnica de Lisboa, as principais etapas pelas quais passaram a comunicação e a difusão da informação nas terras africanas mencionadas no título. A abordagem é feita de modo cronológico e percorre as diversas etapas desde a comunicação oral até à introdução da imprensa. O artigo é ilustrado com fotografias, tabelas, dados estatísticos e reproduções de textos originais exemplificativos.
O autor foca, ainda, as diversas categorias de trabalhos impressos que vão desde os boletins oficiais, os primeiros sempre a serem divulgados, até aos livros de carácter religioso, passando pelas publicações periódicas e pela criação de bibliotecas.
A maior parte do artigo é dedicada ao território da Guiné portuguesa, desde os primeiros contactos entre os portugueses e os nativos. As maiores dificuldades encontradas deveram-se à existência de uma diversidade de dialectos falados que acabou por levar à utilização da língua árabe como língua franca, difundida entre os diversos povos guineenses. Faz-se também alusão à prática de sinalização das novas terras por meio de inscrições e a colocação de padrões.
O facto da imprensa ter sido difundida na mesma época das descobertas marítimas, fez com que esta fosse, desde muito cedo, levada para as terras recém descobertas. Livros didácticos e prelos são conhecidos na Guiné antes de 1494. O carácter missionário desta acção está subjacente a este movimento tão precoce. No séc. XVII já se publicam periódicos que chegavam à Metrópole sempre com grande interesses por parte dos leitores. Contudo a primeira publicação oficial da Guiné portuguesa data de 1842 e é impressa em Cabo Verde, já que à data os dois territórios formavam uma unidade política. Era também na Praia, capital de Cabo Verde que se encontrava a tipografia da Imprensa Nacional. Somente em 1880 é que o Boletim da Guiné é publicado neste território com a criação da capital em Bolama. Assim, de 1842 a 1880 os boletins oficiais eram comuns aos dois territórios. Em Bolama, em 1879, estabeleceu-se a primeira imprensa do território e o “Boletim Oficial da Província da Guiné Portuguesa” representa a primeira publicação periódica. Contudo, somente em 1946 é que este órgão de difusão oficial manteve uma periodicidade estável. É também no séc. XX que aparece a primeira publicação não oficial da Guiné com o jornal “Pró-Guiné”, em 1924. De carácter político, a sua publicação era errática. Em 1930, surge uma tipografia privada em Bissau, de onde saía o “O Comércio da Guiné”. Em 1942, com a publicação do 1º número do “Arauto”, surge o primeiro jornal periódico, católico, de publicação regular. Em 1946 aparece o “Boletim Cultural da Guiné Portuguesa”, que servia de veículo de divulgação cultural como o nome indica. Uma forte concorrente na área das publicações religiosas era a Missão Evangélica da Guiné Portuguesa, que através da Livraria Vitória punha a circular publicações que iam de outras paragens, tais como o Brasil, os Estados Unidos, o Senegal e mesmo da Europa.
O autor diz que o mercado livreiro na Guiné era muito pobre e recebe da Metrópole quase tudo, desde as publicações oficiais aos livros didácticos e até aos romances. O autor, a propósito da divulgação do livro na Guiné, faz referência ao facto do movimento para a independência do território, o P.AI.G.C., utilizar um livro em português para promover a alfabetização. Não querendo deixar de lado outros meios de divulgação culturais, José Júlio Gonçalves refere-se ao facto do primeiro cinema construído em Bissau e aberto ao público em 1929, tendo-se esta prática espalhado por outras localidades. Já a rádio foi introduzida somente em 1944. A TSF nesta altura dependia dos Serviços Centrais dos Correios, Telégrafos e Telefones. Em 1948, foi possível melhorar as condições de trabalho com a importação de aparelhos mais actualizados. As emissões eram feitas em diversas línguas nativas bem como em português. As maiores dificuldades prendiam-se com a falta de cobertura das áreas geográficas ficando limitado o seu alcance, ao mesmo tempo, a maior audiência era composta pela população mais jovem. As comunicações postais, de telégrafos e fonopostais foram também introduzidos. O autor apresenta tabelas que suportam a importância estes meios de comunicação na Guiné. A criação do Centro de Informação e Turismo em 1962, incrementou o número de turistas no território e representava uma fonte de receita e desenvolvimento local. Os movimentos missionários constituíam uma grande parte deste movimento. Segundo José Júlio Gonçalves, a década de 60, sofreu um incremento significativo nos meios de comunicação e na informação na Guiné.
No território de Cabo Verde a imprensa periódica teve início com o “Boletim Oficial” publicado na ilha da Boavista, em Agosto de 1842. Este Boletim circulava igualmente na Guiné até 1880 e, a partir de 1887, exclusivamente em Cabo Verde. As primeiras publicações não periódicas no território foram “A Justiça” de 1876 e o “O Independente” publicado na Praia em 1877. “O Correio de Cabo Verde ” foi a segunda, publicada em 1879. Outros jornais se seguiram, exemplificando a actividade jornalística no arquipélago. A imprensa periódica no início do séc. XX é mais lenta na sua evolução, mas em breve uma elite intelectual vai activar este sector. Em 1924, é criado o “Vasco da Gama”, a “A Defesa”, o “Ressurgimento” entre outros jornais. Mas a revista emblemática seria a “Claridade”.
O advento da 2ª Guerra Mundial levou a que as publicações sofressem um abrandamento. Em 1944, é publicada a “Certeza” que prossegue na mesma linha de acção das anteriores entretanto extintas. O boletim “Cabo Verde” prossegue uma tradição de literária muito activa. Somente em 1962 é que um boletim oficial, “O Arquipélago”, é criado pelo Ministro do Ultramar. O jornal do mesmo nome e de publicação periódica surge em 1950. Revistas publicadas pela Editorial Nazarena no Mindelo, como “Maná”, “Seara Nazarena”, “Lâmpada” e “Epístola”, representam um atractivo para a juventude. A falta de militares estacionados em Cabo Verde justifica a ausência significativa dos jornais de caserna, que tanto relevo tiveram na Guiné. As estatísticas apresentadas referem quem em 1960 havia sete publicações periódicas de diverso carácter, algumas delas com mais de dez anos de publicação. O livro em Cabo Verde foi um veículo importante para alimentar uma elite literária. A Cidade Velha, na Ribeira Grande, foi a primeira cidade fundada pelos portugueses no Ultramar e foi aí, no Convento dos Capuchos, no séc. XVI que se fundou a primeira biblioteca ultramarina. Mais tarde, é no Seminário de São Nicolau, na Ribeira Brava, transferida depois para a Praia, quando esta se tornou sede do bispado, que se criou uma outra biblioteca. Em 1871, é aberta ao público a Biblioteca e Museu Nacional de Cabo Verde, com quatrocentas obras. Em 1964, um livro de carácter religioso era utilizado por uma minoria religiosa católica que pretendia preservar as tradições mais arcaicas da religião. O cinema era um meio de divulgação bastante activo, já que existiam cinco cinemas mas apenas em três das dez ilhas do Arquipélago. Segundo o autor, em 1964 serviam 223 000 espectadores. A TSF foi introduzida com a criação do Rádio Clube de Cabo Verde, em 1945, que funcionava na Cidade da Praia. Contudo em 1966, existiam já três estações de rádio no Arquipélago. A insularidade fazia com que este meio de comunicação tivesse grande adesão por parte da população. A comunicação através dos correios, telégrafos e fonopostal são também mencionados e apoiados por estatísticas no artigo.
De acordo com José Júlio Gonçalves, as perspectivas futuras (pós-1966) da informação em Cabo Verde não seriam muito animadoras devido à insularidade do território. Contudo uma melhoria na potência dos transmissores iria superar muitas barreiras.
O último território abordado no artigo foca a informação nas ilhas de São Tomé e Príncipe. Não existe certeza quanto à data da introdução do primeiro livro no território, mas as” Ordenações do Reino”, as cartilhas e os catecismos estariam entre os primeiros livros a circular. Em 1494, segundo consta, dois impressores alemães chegaram a São Tomé com a intenção de aí se estabeleceram e fazer. Contudo esta versão não corresponde à verdade já que estes estrangeiros teriam sido forçados a permanecer na ilha devido às condições adversas de navegação. Assim, de certeza sabemos, que as primeiras máquinas de impressão foram levadas para a ilha, em 1836, para a publicação de boletins oficiais. A primeira publicação periódica foi o “Boletim Oficial do Governo da Província de São Tomé e Príncipe”, em 1857. A sua publicação é feita com regularidade até à data da elaboração do presente artigo. Em 1869 surge o 1º jornal não oficial o “Equador” que apresentava notícias de carácter agrícola, comercial e científico. A segunda série desta publicação ainda era publicada nos anos 60. É a partir desta publicação que se obtém muita informação sobre os restantes periódicos em circulação na ilha de São Tomé desde 1881até 1964. Outras publicações com carácter clandestino circulavam igualmente nesta altura. Destacam-se a “Faúlha”, de carácter intelectual mas igualmente panfletos de propaganda africanizada. A referência mais antiga relativa a uma biblioteca em S. Tomé data de 1600, quando o bispo de S. Tomé faz uma referencia ao facto dos seus livros terem sido queimados pelos ingleses e holandeses. Nos anos 60, apenas existia uma biblioteca, bastante pobre, mas igualmente pouco procurada pelos leitores.
O teatro tradicional ou tchlóli, em crioulo é ainda hoje uma tradição com vida. Os textos dramatizados são baseados em peças de teatro portuguesas dos séculos XV e XVI, criando uma curiosa mistura de elementos arcaicos portugueses e indígenas. A literatura oral em São Tomé é igualmente um fenómeno que tem raízes mais profundas, do que em qualquer dos outros territórios, aqui mencionados. O cinema, apenas um nesta ilha, é frequentado por emigrados e aculturados, no dizer do autor. Feito para acolher 1000 espectadores, a frequência habitual não ultrapassava um quarto da capacidade. A TSF foi introduzida em São Tomé em 1925 e em 1949 foi fundado o Rádio Clube de São Tomé ainda em funcionamento mas com uma maior capacidade de alcance. O José Júlio Gonçalves ilustra, numa tabela, a programação passada na rádio, em 1965. A falta de recursos financeiros limitava bastante a programação apresentada. Os meios de correspondência tradicionais como os CTT, o fonopostal, o telefone e o telégrafo tiveram maior projecção, em São Tomé, do que nos outros territórios. As tabelas apresentadas corroboram estes factos. O turismo numa palavra, na década de 60 era inexistente, não obstante as condições naturais das ilhas de São Tomé e Príncipe oferecerem condições naturais de excelência.
O balanço final apresentado por José Júlio Gonçalves acentua o facto do poder central metropolitano, ao longo dos tempos, mas sobretudo na primeira metade do séc. XX, ter investido nos meios de comunicação disponíveis à época nos territórios da Guiné, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, embora os resultados nem sempre corresponderem às expectativas.
Autor (nome completo): Maria A. Oliveira van Schoor
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