Autor Anónimo (1959)

AUTOR ANÓNIMO (1959). História do Rádio Clube de Moçambique.

Autor: Anónimo

Ano de elaboração (caso não coincida com ano de publicação)

Ano de publicação/impressão: 1959

Título completo da obra: História do Rádio Clube de Moçambique

Tema PRINCIPAL: História do Jornalismo

Local de edição: Montijo

Editora (ou tipografia, caso não exista editora): Composto e impresso nas oficinas da Gazeta do Sul

Número de páginas: 51

Cota na Biblioteca Nacional e noutras bibliotecas públicas

Cota na Biblioteca Pública Municipal do Porto: k3-7-76 (27)

Cota na Biblioteca Nacional: S.A. 28390 P.

Índice da obra

A fundação: pp. 1-3

Primeiros Passos: pp. 3-6

Fase de crescimento: pp. 9-12

Mudança de nome: pp. 12-14

Sempre mais além: pp. 17-19

Momento de crise: pp. 19-25

Consagração: pp. 25-27

Palavras de elogio: pp. 28-32

Novas realizações: pp. 33-34

Postos regionais: pp. 34-39

Arte em tudo: pp. 39-40

O palácio da rádio: pp. 40-41

Ao serviço de Portugal: pp. 42-47

XXV Anos de realizações: pp. 47-51

Resumo da obra (linhas mestras)

Este livro, tal como o próprio titulo deixa adivinhar, retrata a história do rádio clube de Moçambique. Composto e impresso nas oficinas da Gazeta do Sul em 1959, o nome do seu autor não é conhecido, sendo de realçar, no entanto, o exaustivo trabalho de investigação que é denunciado pelo pormenor descritivo utilizado ao longo da obra.

“Corria o ano de 1931 quando Augusto das Neves Gonçalves e Firmino Lopes Sarmento conceberam a ideia de criar em Lourenço Marques um posto de radiodifusão.” (p. 1) Esta vontade, no entanto, numa fase inicial, não passou disso mesmo, devido principalmente à falta de amadurecimento de um povo ainda incapaz de realizar grandes sonhos. Mas a tenacidade destes homens, em conjunto com Alberto José de Morais e o então regressado Aniano Mendes Serra, ultrapassou todas estas dificuldades iniciais e tornou possível a 5 de Julho de 1932, “a primeira reunião preparatória para a fundação do que viria a chamar-se Grémio dos Radiófilos da Colónia de Moçambique.” (p.2) Seguiram-se meses dedicados a estruturar a instituição, quer do ponto de vista humano quer do ponto de vista físico com todos os avanços e recuos que, um projecto tão ambicioso para a altura naturalmente originou. Realço o arrojo, que na época a muitos pasmou, ao não hesitarem assumir um encargo financeiro de grande magnitude para o aluguer do edifício para a sede e a montagem do emissor.

Corria o mês de Março, já no ano de 1933, quando foi para o ar a primeira emissão da estação, depois de ultrapassadas as dificuldades em obter os meios técnicos que possibilitassem que a voz de Mário Souteiro – primeiro locutor de Moçambique – fosse difundida por um País ainda sem noção da importância deste acontecimento. Os receios iniciais foram rapidamente ultrapassados, e “aquela voz, ouvida a principio com surpresa, bem depressa se tornou familiar em todo o território de Moçambique, na Rodésia, na Africa do Sul. Solícitas informações acrescentavam, mesmo, que a estação se fazia ouvir, com relativa intensidade, na Madeira, em Londres, nalguns lugares da América do Norte, na cidade de Lisboa. Estava por conseguinte, atingido o máximo objectivo, que era levar a voz de Moçambique aos ouvidos da Mãe-Pátria.” (p.4)

Foram relatadas, no entanto, situações verdadeiramente hilariantes, originadas nas dificuldades técnicas, e dificuldades financeiras, só ultrapassadas pelo (…) “progresso e renome do Grémio, de tal modo que já a 16 de Março de 1934 fora resolvido passar a dar o noticiário diariamente, na emissão das 21:30 às 21:45 (…) (p.5)

No ano de 1935, já com o Dr. António de Sousa Neves a presidir os destinos da colectividade, foram tomadas diversas medidas no sentido de inverter a situação de permanentes dificuldades. Sendo dado relevo”à operação da compra e instalação do emissor «Collins» de 250 watts, porque ela marcou, nitidamente, o progresso que se iniciava. Com este transmissor o Grémio ascendeu a um nível de categoria incontestavelmente marcante, pois passava a dispor de um posto próprio para a rádio difusão, construído por casa especializada, com modulação de alta qualidade e elevado grau de eficiência.” (p.6) Era uma fase de crescimento, e a provar isso mesmo é publicado (…)“o primeiro número da revista Rádio Moçambique, uma publicação ímpar na especialidade, que, melhorando sempre, progressivamente, no aspecto gráfico e no conteúdo literário e técnico, vai agora entrar no seu 25º ano de vida ininterrupta.” (p.9) Mesmo com os sucessivos problemas que, pareciam não querer deixar de fazer parte integrante da história, (…) “ o grémio abriu concurso público para a admissão de locutoras de português e de inglês, dando origem a uma nova profissão para as mulheres.” (p.10) (…) “Os programas melhoraram progressivamente. Neles intervinham, então, os grupos artísticos dos Naturais da Colónia e do instituto Goano, faziam-se crónicas sobre politica internacional, palestras históricas, médicas, de viagens, criticas desportivas, novelas, contos e outros originais que eram escutados com interesse pelo número sempre crescente dos ouvintes da estação laurentina.”

No ano de 1937 faz-se uma actualização e consequente melhoria das condições técnicas. Mas ambição era a palavra da ordem, e no número 16 da Rádio Moçambique, o presidente da direcção em resultado de um balanço claramente positivo do que tinha sido feito até então, lança a ideia do palácio da rádio como solução para todas as dificuldades.

Em 1938, já com nova denominação, a rádio clube de Moçambique ainda na expectativa de ser apetrechada com meios técnicos mais eficazes, faz a cobertura da visita do Sr. Presidente da República, general Óscar Carmona. “Participou activamente, fazendo reportagens directas das cerimónias, discursos, sessões solenes, espectáculos de gala, manifestações populares. Todas estas reportagens foram gravadas e enviada, depois para a emissora nacional, de Lisboa, por via aérea. Era o primeiro serviço exterior de envergadura nacional feito pelo rádio clube, do qual se saíra credor dos mais altos encómios.” (p.14) Em 1939 é montada uma estação de 10kws, que veio melhorar substancialmente as condições das emissões. Em inícios de 40, chegavam de varias partes do Mundo, informações animadoras acerca da qualidade de sinal que agora se sentia forte e nítido, o que viria a revelar-se fundamental na criação de novos programas e consequente expansão da rádio.

O ano de 1942, com a grande guerra europeia, viria a revelar-se extremamente difícil para a rádio clube de Moçambique, temendo-se que a quebra de receitas deitasse por terra tudo o que se tinha conseguido até então…mas mais uma vez a tenacidade e crer dos homens fizeram a obra prosseguir o seu crescimento.

O ano de 1943 mostrou que tinha valido a pena mais uma vez lutar para que a voz da rádio não se calasse. Aquando da visita a “Lourenço Marques, o Cardeal Spelmann, arcebispo de nova Iorque, falou para toda a América do Norte por intermédio das estações do Rádio clube de Moçambique.” (p.20)

“ O mês de Julho de 1945 trouxe a Lourenço Marques o Ministro das Colónias, Dr. Marcelo Caetano, que em visita às instalações do Rádio Clube teve a possibilidade de falar aos portugueses de todo o império através das suas emissoras. Foi a primeira vez que de uma província ultramarina, o Ministro do Ultramar falou para as outras.” (p.23)

Em Agosto desse ano parte para a Argentina, Uruguai e Brasil o redactor de noticiários e produtor do rádio clube, António Rosado, com a missão de estudar a programação das estações sul-americanas. Esta foi uma tarefa que se veio a revelar muito importante pois o rádio clube em 1946 começou a atingir a craveira de estação radiodifusora com nível internacional. Esta consagração coincidiu com a remodelação dos seus estatutos, (…) “aprovada pelo Governo da província, alargou-se à emissora de Lourenço Marques a sua esfera de acção, permitindo-se-lhe desdobramentos da actividade em locais de Moçambique que fossem julgados convenientes. Como fim principal, foi o rádio clube autorizado a estabelecer na província um serviço eficiente de radiodifusão com a mantença de emissoras que hão-de funcionar sob a designação comum de «Rádio Moçambique».” (p.24) Esta responsabilidade acrescida fez com que se iniciasse uma busca e pesquisa de colaboradores, que obtiveram grande êxito nos anos que se seguiram.

“As perspectivas para 1948 eram de progresso e expansão. Levantou-se finalmente o primeiro bloco do edifício que havia de vir a ser denominado «o palácio da rádio» de Lourenço Marques.” (p.24) Durante o seu período de construção, muitas vezes se questionou se algum dia os serviços da rádio iriam mesmo instalar-se nas novas instalações. Mas tal como aconteceu até então, o bom trabalho alcançado e, acima de tudo, o reconhecimento por parte dos governos, instituições e cidadãos fizeram com que mais um objectivo fosse alcançado. O ano de 1952 assumiu grande importância na vida da instituição, com a passagem de todos os serviços para o palácio e posterior implementação de novas programações, emissões mais longas em condições técnicas substancialmente melhoradas que conquistaram definitivamente, os já muitos e fieis ouvintes da rádio. Dando continuidade a esta aproximação: “Em 1953 teve inicio uma nova orientação: a criação dos postos regionais. Era pensamento da direcção do rádio Clube “perante a grande extensão do território moçambicano e suas condições geográficas, por se encontrar uma grande parte dele incluída na zona de mais intensos ruídos atmosféricos do mundo, mostrar-se a grande vantagem que adviria se fossem instalados nas regiões mais densamente povoadas alguns Postos Regionais.” (p.34) Desta forma as zonas territoriais mais afastadas poderiam também, para além de receber informação, enviar as suas manifestações culturais bastante ricas, através de programas de características regionais. O investimento em meios técnicos que possibilitassem levar o sinal da rádio mais além continuou: “Desta determinação falou a resolução de dotar o Rádio Clube com o mais potente emissor de toda a África, um posto de 100 kWh, cujas negociações de compra foram concluídas e anunciadas em Abril de 1955. Este emissor foi destinado a servir vastas áreas e grandes distâncias, como a metrópole, grande parte da Europa, Brasil, Estados Unidos, Canada e as Províncias ultramarinas do oriente – Índia, Macau e Timor.” (p.37)

A inauguração seria feita no ano seguinte pelo general Craveiro Lopes, em resultado da grande vontade demonstrada pelas pessoas ligadas à rádio. “Na sequência da orientação que levou a dar os seus actos importantes o maior relevo, nos programas relacionados com a vida da Nação, o Rádio Clube – como fizera já por ocasião da primeira visita do chefe de estado à província – deu a máxima cobertura à reportagem da visita do Presidente da Republica, General Craveiro Lopes, em Agosto de 1956.” (p.42)

O General, nesta visita, dedicou grande atenção ao Rádio Clube tendo inclusive feito uma incursão pela sede. “A emissora Nacional acompanhou sempre o chefe do Estado ao longo da sua jornada. Desta forma na metrópole, como em todos os pontos do Império, os Portugueses puderam seguir passo a passo as fases da sua visita oficial ao ultramar. Foram cerca de 70 as gravações que, na totalidade, realizou a equipa da Emissora Nacional, composta pelo assistente Dr. Frederico Alves, locutor Artur Agostinho e técnico Raul de Aguilar, gravações que eram enviadas para a estação de Lisboa em condições de extraordinária rapidez.” (pp.44-45) As melhorias das condições técnicas no rádio clube permitiram que a RN através dos seus meios acompanhasse e documentasse a visita difundindo poucos minutos depois todo o trabalho para o império.

A actividade desenvolvida exigia cada vez mais potente equipamento, e para este se tornar possível foi preciso grande esforço humano e financeiro compensado com a possibilidade do trabalho prosseguir, cada vez diversificado. È realçada a importância da prestação de serviço aos (…) “noticiários do estrangeiro (o da Metrópole, fornecido pela «Lusitânia», é recebido através dos circuitos da Companhia Portuguesa Rádio Marconi) houve que destinar um conjunto de receptores que accionam tele-impressores e que são a ultima palavra, no género. O benefício foi de tal modo grande que o rádio clube passou a entregar à imprensa diária de Lourenço Marques esse mesmo noticiário.” (p.46)

Por altura das comemorações dos 25 anos do Rádio Clube de Moçambique e, em forma de síntese, nas últimas paginas deste livro é feita uma retrospectiva de todos os momentos marcantes da vida da instituição. (pp.47-51) Realce para a referência às (…) “reportagens directas do estrangeiro sobre acontecimentos desportivos em que a província toma parte. Assim fez-se de Montreux, na Suiça, directamente para Lourenço Marques, a reportagem integral e directa do campeonato de hóquei em patins para disputa da taça latina. Este e outros factos com ele relacionados foram aclamados pelas gentes moçambicanas, podendo afirmar-se que não houve aparelho receptor em toda a província que não tivesse estado sintonizado para Lourenço Marques, a ouvir a voz do magnifico repórter que falava de tão longe para os ouvintes do Rádio Clube”. (p.48) Bem representado ao longo do livro por belas fotografias (…) “o Rádio Clube conta no seu activo o Palácio da rádio – sala de visitas de Lourenço Marques – em que recebe uma média de 30 mil visitantes por ano; tem no ar 14 emissores que diariamente estão em operação; as suas emissões ocupam 27 horas e 20 minutos, por dia, e 32 horas aos domingos: fala muitas vezes simultaneamente, por canais diferentes, cinco idiomas: português, francês, inglês, africande e ronga: tem um serviço próprio de noticiários com terminais privativos que recebem presses da América e da Europa (…)” (p.51).

Nome completo do autor da ficha bibliográfica: Filipe Alexandre Ferreira Loureiro

E-mail: 17036@ufp.pt