Ferro, A. (1949)

FERRO, António (1949). Imprensa Estrangeira.

Autor: FERRO, António

Ano de elaboração (caso não coincida com ano de publicação)

Ano de publicação/impressão: 1949

Título completo da obra: Imprensa Estrangeira

Tema PRINCIPAL: Ética, Direito e Deontologia do Jornalismo/ Liberdade de Imprensa

Local de edição: Lisboa

Editora (ou tipografia, caso não exista editora): Edições SNI

Número de páginas: 29

Cota na Biblioteca Nacional e noutras bibliotecas públicas

Cota da Biblioteca Nacional: L. 39051//3 P.

Cota da Biblioteca Pública Municipal do Porto: I3 – 4 -45 (6)

Esboço biográfico sobre o autor ou autores (nascimento, morte, profissão, etc.)

António Ferro nasceu em 1895 e faleceu em 1956. Jornalista, escritor e político, ligado ao primeiro modernismo português desde a sua participação como editor na revista Orpheu (1915). Director do SNI durante o Estado Novo, até à sua morte.

Índice da obra

Cap. I - Liberdade e Servidão

  • O problema da Liberdade (p.11)

  • A liberdade e os seus limites (p.12)

  • Os dois blocos (p.12;13)

  • O sensacionalismo (p.14)

  • Imprensa Portuguesa (p.15)

  • Limitações á liberdade de Imprensa (p.15; 16)

Cap. II - Cada um em sua casa e todos na sua Pátria

  • Quando a Imprensa é indispensável (p.19; 20)

  • O papel do jornalista (p.20)

  • O correspondente e o enviado especial (p.22; 23)

  • Referência ao livro «Homens e Multidões» (p.22; 23; 24)

  • A oferta de um espaço aos jornalistas (p.26; 27; 28)

Resumo da obra (linhas mestras)

Esta obra é a versão escrita de discursos pronunciados por António Ferro em Genebra, na Conferência Internacional da Liberdade de Informação, em 2 de Abril de 1948, e na inauguração do Círculo da Imprensa Estrangeira, em 12 de Outubro de 1949.

O texto defende que antes de se falar de liberdade de imprensa é preciso definir o conceito de liberdade. Para o autor, a liberdade de expressão “choca-se permanente contra o grande drama (…) [de cada] época, a conciliação da liberdade e da consequente autoridade para defendê-la da corrupção.” (p.11)

Segundo António Ferro, o facto de cada um ter o seu conceito de liberdade esvazia a palavra do seu conteúdo, tornando-se sinónimo de servidão, de todas as paixões humanas.

António ferro sustenta que existem muitos países que pensam gozar de uma liberdade completa, mas ao mesmo tempo nesses mesmos países existem limitações, designadamente de ordem religiosa, racial, literária ou até política. A verdade é que “a liberdade integral não existe em parte nenhuma.” (p.12).

Para Ferro, “ já é tempo de sanear a atmosfera do mundo actual, de não deturpar mais o sentido de algumas palavras (…) usadas como vocabulário de combate.” (p.13)

No seu texto, o autor explica que há dois conceitos rígidos e diferentes da liberdade de imprensa: um é o do “bloco da Imprensa considerado como engrenagem do Estado” e o outro o do “bloco da Imprensa considerada livre.” (pp.12;13)

Para o autor, existe a “grande necessidade de terminar com o sensacionalismo (…) e sobretudo com o mercado negro das falsas informações.” (p.14)

“A palavra informação, como sublinhou, na primeira Comissão, o presidente da delegação da China na conferência acima referida, limita ela própria a liberdade” (p. 14), escreve António Ferro, sendo poucas vezes eficazes simples medidas de repreensão.

Segundo o autor, existem algumas restrições na imprensa portuguesa que “derivam de preconceitos constitucionais e exercem-se principalmente em matéria que possa afectar a soberania nacional, as boas relações internacionais, a propaganda subversiva, e os incitamentos à guerra entre as nações e à guerra civil, que não é menos perigosa do que a primeira, porque constitui, muitas vezes, o seu prefácio. ” (p.15)

No segundo capítulo, intitulado “ Cada Um em Sua Casa e Todos na Sua Pátria”, o autor escreve que a “Imprensa quer dizer, antes de mais, sociabilidade, convívio”. Afirma, ainda, que, em alguns lugares, como nas pequenas aldeias, não se sente a falta da Imprensa, porque a sociabilidade é forçosa. Aí, “o jornal não é escrito mas vivido naturalmente”. Deste modo, o jornal apenas se torna indispensável quando as populações aumentam, “quando é preciso criar essa tal sociabilidade que deixou de ser fácil” (p.20).

Ferro constata que “quando a própria organização da sociedade obriga a reunir os seus elementos dispersos (…) para se encontrarem nos seus ideais comuns (…), esse elo que liga os diversos sectores de uma sociedade, ou os elementos de cada sector, é, sem dúvida, a Imprensa, que Gutemberg só tornou possível no século XV, porque só então se deu o alargamento do mundo e a sua consequente dispersão”(p.20).

“No breviário íntimo de todos os jornalistas deve existir o princípio da máxima sociabilidade: ouvir sempre o por e o contra. E tirar depois a média.”, sustenta António Ferro. O autor, porém, adverte para o facto de o “contra” ser “mais sedutor, mais publicitário (…). O por é quase sempre apagado, fica nas entrelinhas”. (p.20)

Para o autor, deste modo o “ sensacionalismo do nosso tempo é raramente feito de boas notícias, tranquilizadoras” (p. 20). Pelo contrário, “A imprensa pode (…) apressar as grandes catástrofes da História”, embora se admita que não as cria. Mais ainda, diz Ferro, a imprensa pode “criar ou engrossar as grandes correntes de ideias, os fortes movimentos espirituais, até consolidar e iluminar certas épocas de renascimento”. (pag.21)

Numa segunda parte do livro, ligada à inauguração do Círculo da Imprensa Estrangeira, em Lisboa, António Ferro refere-se à “missão difícil, espinhosa, delicada dos correspondentes”, dizendo acreditar “na sua boa fé, para além das suas ideias próprias, no seu desejo de compreensão do país em que passa a viver, em que deseja viver” (p.22). “O correspondente, aliás, quanto mais profundamente conhecer o país, quanto mais em contacto estiver com a sua alma, quanto melhor puder informar o seu jornal, mais probabilidade tem de reduzir visitas dos enviados especiais (…) e melhor poderá informá-los, encaminhá-los, diminuir os seus riscos quando a sua vinda for inevitável”. (p. 24)

O autor afirma que foram inauguradas salas destinadas à imprensa estrangeira, dando assim as “as boas-vindas” a todos os que vierem visitar Portugal. “Os jornalistas estrangeiros, como sabem, gozam em Portugal duma liberdade absoluta, entendido, como todos entendem, certamente, que a liberdade termina onde começa a mentira” (p.25).

“Teremos um grande prazer em entregar-vos as chaves destas salas que podereis frequentar com a maior independência e sem nunca sentirdes a mais leve intromissão na nossa vida ou a mais dissimulada tentativa de coacção sobre os vossos espíritos. Não é um favor que vos fazemos mas um direito mais que vos concedemos para o exercício livre da vossa profissão” (p.26), sublinha António Ferro, que termina dizendo: “Aceitai-o sem escrúpulo. É um antigo jornalista, um camarada vosso, que, em nome do Governo Português, vo-lo oferece sem restrições nem condições. (…) Jornalistas éramos quando escrevíamos, jornalista somos quando criamos, quando inauguramos, por exemplo, as salas deste pequeno círculo. Até sempre camaradas!” (p.28).

Nome completo do autor da ficha bibliográfica: Bárbara Raquel da Conceição Silva

E-mail: barbinha5@hotmail.com