Cunha, A. (1942)

CUNHA, Alfredo. (1942). Periódicos e Relações, Periodistas e Noticiários.

Autor: CUNHA, Alfredo da

Ano de elaboração (caso não coincida com ano de publicação): 1941

Ano de publicação/impressão: 1942

Título completo da obra: Periódicos e Relações, Periodistas e Noticiaristas

Tema principal: História do Jornalismo

Local de edição: Lisboa

Editora (ou tipografia, caso não exista editora): Academia das Ciências de Lisboa (Separata do Boletim da Academia das Ciências de Lisboa, vol. XIII, Dezembro de 1941)

Número de páginas: 24

Cota na Biblioteca Nacional e eventualmente noutras bibliotecas públicas

Cota na Biblioteca Nacional: L. 12809//4

Cota na Biblioteca Pública Municipal do Porto: V5-8-29(12)

Esboço biográfico sobre o autor ou autores (nascimento, morte, profissão, etc.)

Natural do concelho do Fundão, Alfredo da Cunha nasceu em 1863 e faleceu em 1942. Jornalista, exerceu o cargo de director do Diário de Notícias. Casou com a filha do fundador do jornal, D. Adelaide da Cunha. Realizou vários estudos sobre história do jornalismo português, tendo-se dedicado, em especial, à sua génese.

Índice da obra

Comemoração do tricentenário da imprensa portuguesa: pp. 5-6

Antecedentes da Gazeta “da Restauração”: p. 6

Comparação da Gazeta “da Restauração” com as publicações noticiosas ocasionais: pp. 6-10

Comemoração do tricentenário da imprensa portuguesa: pp. 10-13

Primeiro “gazeteiro” [jornalista]: pp. 13-19

Publicações ocasionais antecessoras da Gazeta “da Restauração”: pp. 10-19

Perspectivas de autores do século XIX sobre o jornalismo e os inventos do século XX: pp. 19-22

Comemoração do tricentenário da imprensa portuguesa: pp. 22-24

Resumo da obra (linhas mestras)

Esta obra é a versão escrita de uma conferência de Alfredo da Cunha, sócio da Academia de Letras de Lisboa e director do Diário de Notícias, no âmbito das comemorações do tricentenário da imprensa portuguesa (1941). No texto, o autor passa em revista a génese da imprensa periódica portuguesa, defendendo que esta nasceu com a Gazeta “da Restauração”, cujo primeiro número documentado é de Novembro de 1641 e que foi publicada pelo menos até 1647. Alfredo da Cunha serve-se desse argumento para defender que foi acertada a decisão, por ele próprio proposta, em 1939, de comemorar-se o tricentenário da imprensa portuguesa em 1941: “Nesta mesma sala (…) proferi, vai para doze anos, estas palavras (…): (…) é justo que a seu tempo se pense (…) na comemoração do tricentenário do primeiro periódico português (…) fazendo a conta dos 300 anos (…) a partir (…) ou de Novembro de 1641, mês a que a primeira Gazeta diz respeito, ou de Dezembro seguinte, em que provavelmente foi publicada” (p. 6). O autor relembra que o Sindicato Nacional dos Jornalistas tomou a seu cargo essa comemoração.

Alfredo da Cunha diz a propósito da Gazeta que no século XVII era “pouco habitual” lerem-se gazetas, apesar de as bibliotecas particulares crescerem, devido ao “desejo de (…) saber” (p. 7). A Gazeta, nas palavras do então director do Diário de Notícias, era “De formato exíguo, composta em grosseiro elzevir, impressa em papel ordinário, num prelo manual rudimentar, como esses que se viam (…) em Antuérpia, cidade donde viera o seu impressor Lourenço d’Anveres, não ostentava artigos científicos ou literários (…) nem consta que ali colaborassem os grandes escritores do seu tempo, (…) nem sequer pode (…) apurar-se com segurança quais foram os seus redactores. Indigiam-se vagamente o prosador e poeta Manuel de Galhegos e João Franco Barreto, aos quais foram concedidos privilégios para fazerem publicações dessa natureza, e também (…) o cronista Frei Francisco Brandão ” (pp. 7-8). Adverte, porém, Alfredo da Cunha que a respeito de quem colaborou na Gazeta “só há conjecturas” (p. 7).

O primeiro número da Gazeta, recorda Alfredo da Cunha, foi taxado a 6 reis. A Gazeta era vendida nas ruas pelos cegos-papelistas, da irmandade do Menino Jesus (p. 7).

O principal motivo de comemoração do tricentenário da imprensa periódica portuguesa relaciona-se com o papel social do jornalismo, que permite ao público “ser alimentado na sua nunca saciada curiosidade, satisfazendo-se-lhe o natural anseio de saber novas e (…) de adquirir ilustração e conhecimentos (…) não por acaso ou fortuitamente mas com a regularidade e frequência de que lhe adveio o hábito (…) de se pôr ao corrente (…) do que vai pelo mundo” (p. 8). As relações (incluindo as duas Relações de Manuel Severim de Faria (de 1626, reeditada em 1627, e 1628) e as restantes folhas noticiosas ocasionais, não tendo carácter de periodicidade, não podem, segundo Alfredo da Cunha, ser catalogadas como periódicos, precisamente por lhes faltar periodicidade (pp. 8-12). Por essa razão, explica o autor, opôs-se aos que queriam comemorar o tricentenário da imprensa periódica portuguesa em 1926.

Discorrendo sobre a génese do jornalismo em Portugal, Alfredo da Cunha interroga-se sobre quem se deve considerar o primeiro “gazeteiro” português. Para ele, o mais importante em “saber, talento e hierarquia social” foi António de Sousa Macedo, redactor do Mercúrio Português (periódico mensal publicado entre Janeiro de 1663 e Julho de 1667). Quanto ao “mais antigo”, o autor tem dúvidas. Na versão de Alfredo da Cunha, Manuel Severim de Faria, autor das Relações, não pode ser considerado o mais antigo “gazeteiro” português, até porque, segundo o autor, existem pelos menos duas publicações ocasionais noticiosas anteriores ao primeiro número das Relações de Manuel Severim de Faria: a Relação da Enfermidade e Morte de El-Rei D. Filipe III Com Todas as Novidades Que Sucederam na Corte Até Agora, de 1621, e a Memorável Relação da perda da Nau Conceição. Além disso, Pêro Vaz de Caminha (1500), Fernão Mendes Pinto (1614) ou Garcia de Resende (1550) também seriam excelentes candidatos a esse título (pp. 13-15).

Na parte final da obra, Alfredo da Cunha relembra os vaticínios futuristas de autores do século XIX, como António Feliciano de Castilho e Sousa Viterbo, sobre o século XX e o jornalismo futuro, tendo mostrado que acertaram em vários dos seus prognósticos, como o jornal falado (radiojornal), vaticinado por Viterbo em 1889 (pp. 19-22).

Referindo-se, para finalizar, ao significado das comemorações do tricentenário da imprensa portuguesa, Alfredo da Cunha salienta: “O que se celebra e comemora (…) é (…) a vinda ao mundo das letras duma espécie até aí desconhecida em Portugal, e que se tornaria a propagadora, e como que a propiciadora, de todas as outras espécies científicas, literárias ou artísticas, que lhe têm devido tanto da sua vulgarização e do seu êxito. O que se celebra e comemora é (…) um símbolo (…) do raiar duma instituição revolucionária nos domínios da inteligência (…). E tal é hoje o predomínio da imprensa periódica na maneira de sentir, de pensar e de agir (…), tal a sua influência sobre os (…) que conduzem as nações (…) que se (…) ela subitamente se (…) suprimisse (…) dar-se-ia (…) como que a paralisação ou o colapso de algumas das mais activas manifestações da vida social moderna.”

Autor: Jorge Pedro Sousa

E-mail: j.p.sousa@mail.telepac.pt