Basto, J. (1940)

BASTO, Artur de Magalhães (1940). Três Fases do Jornalismo Portuense. Separata do Boletim da Câmara Municipal do Porto, n.º 2, Setembro de 1939.

Autor: MAGALHÃES BASTO, Artur de

Ano de elaboração (caso não coincida com ano de publicação): 1939

Ano de publicação/impressão: 1939

Título completo da obra: As Três Fases do Jornalismo Portuense

Tema PRINCIPAL: História do Jornalismo

Local de edição: Porto

Editora (ou tipografia, caso não exista editora): Editora Maranus

Número de páginas: 32

Cota na Biblioteca Nacional e noutras bibliotecas públicas

Cota na Biblioteca Pública Municipal do Porto: J3-2-2

Esboço biográfico sobre o autor ou autores (nascimento, morte, profissão, etc.)

Artur de Magalhães Basto nasceu em 1896 e morreu em 1960. Foi uma figura de referência das letras portuguesas, tendo-se destacado como docente da primeira Faculdade de Letras da Universidade do Porto, extinta em 1931, onde leccionou as cadeiras de Geografia e História. Trabalhou em alguns estabelecimentos do ensino secundário na cidade do Porto, nomeadamente no antigo Colégio João de Deus. Foi um dos responsáveis pelos arquivos da cidade do Porto, tendo ocupado os cargos de director do Gabinete de História da Cidade, Director do Arquivo Distrital e chefe do Cartório da Santa Casa da Misericórdia.

Índice da obra

[Não tem índice]

Introdução pág.6

1ª fase do jornalismo portuense pág. 6

2ª fase do jornalismo portuense pag.14

3ª fase do jornalismo portuense pág. 22

Conclusão pág. 26

Resumo da obra (linhas mestras)

Nesta obra, o autor explana, de uma forma sintetizada, a história do jornalismo portuense durante o séc. XIX, a partir da Revolução Liberal. Começa por referenciar que, antes de 1820, “quase não houvera jornalismo no Porto”. (pág. 6) O que tinha existido eram publicações que “se ocupavam quase exclusivamente de medicina e de ciência em geral” (pág. 6), tais como: Zodíaco Medico-Portuguez ou Lusitano Délfico, a Gazetta Litteraria do Cónego Francisco Bernardo de Lima, Diário Universal de Medicina, Cirurgia, Pharmacia e o Anno Medico. Mas a Revolução Liberal altera o panorama jornalístico portuense. Surgem, pela primeira vez, jornais cujo objectivo era político. São desta data jornais como: Diário Nacional, Regeneração de Portugal, Correio do Porto, O Patriota Portuense, O Imparcial, O Paquete Estrangeiro, A Borboleta dos Campos Constitucionais, O Annalista Portuense, Os Palradores no Café, A Coluna de Pasquim, O Velho Liberal do Porto e, por fim, o Noticias. Todos estes jornais destinavam-se “a soprar ao fogo da Revolução Liberal” (pág. 9). Um dos melhores exemplos era o Patriota Portuense. Este periódico propunha-se “criar e orientar a opinião pública demonstrando (…) as vantagens dos governos constitucionais e os danos inerentes ao despotismo” (pág. 9). De entre esta panóplia de jornais de natureza política, houve um “que foge a regra” (pág. 9), o Diário Portuense. O principal objectivo deste periódico era publicar anúncios de cariz diversos, desde avisos de compras, vendas de imóveis até a “mudança de preços da carne” (pág.9). O Diário Portuense foi, segundo o autor, o primeiro jornal nacional a explorar o “ rendoso negócio dos anúncios” (pág.9).

A partir de 1823, D. Miguel inicia a “ a sua aventurosa e agitada vida política” (pág. 10), pelo que “ no Porto regressou tudo à antiga” (pág.10). Contudo, foi só a partir de 1823, depois da morte do rei D. João VI, que o Absolutismo se restabeleceu em Portugal. Com isto, relembra o autor, “o Porto revolta-se a 16 de Maio no movimento que ficou conhecido por Belfastada” (pág.11). Este movimento levou “para os cárceres do Porto (…) alguns dos mais notáveis jornalistas desse tempo” (pág.11). Um desses notáveis foi o Padre Inácio José de Macedo, “proprietário e redactor do célebre periódico O Velho Liberal do Porto” (pág.11). Este jornal de cariz de cariz liberal, cartista, foi publicado quer no Porto, quer em Lisboa.

Magalhães Basto evoca, também, o Padre José Agostinho de Macedo, um polemista pró-absolutista que “começou a publicar a série de opúsculos intitulados A Besta Esfolada (pág.12), impressos em Lisboa e no Porto, contra as revoltas liberais na cidade do Porto.

Relembra também o autor que, em 1828, entrou na cadeia de Aljubre, no Porto, num clérigo de 24 anos da freguesia de S. Bartolomeu do Mar. Não tinha cometido nenhum crime e dois anos depois libertaram-no. Desistiu da carreira eclesiástica enveredando pelo jornalismo. “Esse antigo recluso do Aljubre do Porto era (…) António Rodrigues de Sampaio” (pág. 14), um dos mais distintos jornalistas e políticos portugueses do século XIX.

Entre 1846 a 1854, publicaram-se no Porto os seguintes jornais: A Coallisão, A Columna, O Nacional, O Periódico dos Pobres no Porto, A Pátria, Estrella do Norte, Noticiador Commercial Portuense, O Ecco Popular, O Progressista, A Concordia, O Correio do Norte, O Defensor, Informador, A Monarchia, O Jornal do Povo, O Portugal, O Porto e Carta, Puritano, O Braz Tizana, O Espectador Portuense, O Repertório Cómico, O Industrial Portuense, Jornal da Associação Industrial Portuense, A Gazetta Medica do Porto, A Gazeta Homeopática Portuense, A Carapuça, A Pega, O Pirata, Bico do Gaz, A Cruz, O Curioso, Jornal dos Operários, Omnibus, A Península, A Lyra da Mocidade, Miscelania Poetica, O Respirador Literário, O Bardo; A Grinalda; e A Rosa (periódico destinado às damas).

Numa época em que “os ódios políticos cegavam (…) as pessoas desapaixonadas começavam a sentir-se fartas de jornais assim!” (pág. 18). Foi nesse contexto que dois amigos começaram a pensar na criação “duma nova folha, que fosse independente, ponderada, séria, um jornal destinado ao Comércio, Indústria e Agricultura” (pág. 18). Os dois amigos chamavam-se Manuel Carqueja e Dr. Henrique Carlos de Miranda e fundaram, a 2 de Junho de 1854, o jornal O Comércio do Porto” (…), decano dos jornais portuenses” (pág. 18). Com isto, diz o autor, a época dos folhetins tinha terminado.

Abordando, posteriormente, a segunda fase do jornalismo portuense, cujo início, situa entre 1880 e 1882, o autor relembra que nesta época, a sociedade portuguesa se encontrava dividida: “conservadores de um lado, radicais do outro; monárquicos à direita; republicanos à esquerda” (pág.18). As razões “deste marcador extremar de opiniões” foram, explica Magalhães Basto, a Escola Coimbrã, em 1865 e a campanha contra o rei D.Luís e o ministro Fontes Pereira de Melo (1877-88). Esse panorama era visível no jornalismo de então.

Entre 1880 e 1882 publicaram-se no Porto os seguintes jornais: O Comércio do Porto, o Jornal do Porto, O Primeiro de Janeiro, O Comércio Portuguez, A Actualidade, A Folha Nova, A Luta, O Dez de Março, e A Palavra. Apesar de existir uma grande variedade de jornais, segundo Artur Basto, havia um que se destacava, era: O Primeiro de Janeiro. O seu fundador, Gaspar Ferreira Baltar, “deu ao Primeiro de Janeiro o máximo da sua inteligência magnífica e prática, da sua energia incansável, tornando o seu jornal um dos grandes órgãos da Imprensa Portuguesa” (pág.21).

Em 1874, foi publicada a revista A Actualidade, de Anselmo Morais. Relembra Basto que foi nesta revista que Silva Pinto e Camilo Castelo-Branco se pegaram nos célebres fascículos “Noites de Insónia”. No Comércio do Porto, escrevia Rodrigues de Freitas; no Jornal do Porto, o Dr. Didier, “advogado distinto” (pág.22); no Primeiro de Janeiro “trovejava Emídio Navarro” (pág.22); no Dez de Março, escrevia Sá de Albergaria. E, por último, na Palavra, um jornal católico, escreviam alguns sacerdotes, como o ilustre e cultíssimo conde de Samodões” (pág.22).

Finalmente, naquela que, segundo Artur Basto é a terceira fase do jornalismo portuense, houve um acontecimento, em que se embateram as “duas vivíssimas correntes de ideias – a radical e a conservadora – então dominantes na sociedade portuguesa” (pág.23). Foi a comemoração do centenário de Pombal que incitou toda essa agitação. Jornais como O Sorvete, a Folha Nova e A Palavra reflectiram esse acontecimento. O jornal A Palavra, a 26 de Maio de 1882, refere-se a esse acontecimento como uma “pandorga da rapaziada republiqueira” (pág. 24). Esta citação não agradou aos organizadores da comemoração.

“Chegado o dia 8 de Maio, organizou-se o cortejo” (pág.24). Tudo estava a correr bem até se chegar ao largo da Aguardente, que tinha sido baptizado com o nome de Praça Marques de Pombal – onde iria decorrer a celebração. Subitamente “desaba um espantoso aguaceiro” (pág. 24). Este episódio foi retratado pelo jornal satírico de então, o Sorvete, da seguinte forma: “O Siríaco estava sublime. Sem chapéu, indiferente à impertinência do aguaceiro” (pág.25). Por sua vez, no dia posterior ao cortejo, o jornal A Palavra refere-se a esse acontecimento como uma “corja de faias e das vadias republicanas” ao qual “não se unira um verdadeiro homem de bem (…), eram tudo anónimos sem honra, dignidade, ilustração, nem decoro” (pág.25). Contudo, os visados por estas “violentas expressões” (pág. 25) dirigiram-se ao escritório do referido jornal A Palavra, exigindo uma retratação.

O autor conclui que “vê-se perfeitamente que, tanto a organização como a condenação dos festejos de Pombal eram inspirados por motivos de ordem política e são um exemplo do aguerrido combate e intensa renovação de ideias, em Portugal, na última década do séc. XIX” (pág.26).

Para além disso, Artur Basto apresenta uma figura que personifica a intensa actividade jornalística que se viveu no Porto durante este período. O homem a quem Artur Basto se refere era António Rodrigues Sampaio, “o antigo recluso do Aljubre do Porto, em 1828, cuja morte determinou que se fundasse, como homenagem, a Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, cujo patrono ele é. Apesar de ter ocupado um dos mais importantes cargos da Nação, segundo o autor Sampaio morreu pobre. “Ele foi bem a encarnação do verdadeiro jornalismo, no seu melhor sentido do verdadeiro jornalismo dessa época e do de todos os tempos” (pág.27), exclama Artur Basto ao recordar António Rodrigues Sampaio.

Nome completo do autor da ficha bibliográfica: Sónia Mariana Pedro Rosa

E-mail: sonia16740_ufp@hotmail.com