Bruno, S. (1906)

BRUNO, Sampaio (1906). Os Modernos Publicistas Portugueses.

Autor: BRUNO, Sampaio

Ano de elaboração: 1906

Ano de publicação/impressão: 1906/1987

Título completo da obra: Os Modernos Publicistas Portugueses (edição revista) / Os Modernos Publicistas Portuguezes (edição de 1906)

Tema PRINCIPAL: Jornalistas e Vida Profissional

Local de edição: Porto

Editora: Lello & Irmão – Editores (Livraria Chardron)

Número de páginas: 366

Cota na Biblioteca Nacional e noutras bibliotecas públicas

Cota na Biblioteca Nacional: L. 81574 P.

Cota na Biblioteca Nacional (edição de 1906 - 425 páginas): HG13961P. ; HG17011P; L. 22526P ; L. 86744P (com dedicatória a Jaime Batalha Reis); L. 89409P; L. 89804P.

Cota na Biblioteca Pública Municipal do Porto: F7-6-17 (80)

Cota na Biblioteca Pública Municipal do Porto (edição de 1906): Q’ - 6 - 77

Esboço biográfico sobre o autor

Sampaio Bruno, pseudónimo de José Pereira Sampaio, nasceu no Porto, em 1857, e faleceu na mesma cidade, no ano de 1915.

Formou-se em Medicina em 1876, embora nunca tenha exercido essa profissão.

Implicado no movimento revolucionário de intenção republicana de 1891, emigra para Paris, onde redige o Manifesto dos Emigrados da Revolução Republicana de 31/01/1891.

Pensador notável e estudioso dos problemas filosóficos e metafísicos, cedo revelou paixão pelo jornalismo. Com apenas 15 anos é levado a tribunal de liberdade de imprensa, pela redacção e publicação de Vampiro. Absolvido, continua a sua digressão pelas letras e pelo jornalismo, redigindo, fundando e colaborando em revistas e jornais, a citar: Laço Branco (que se segue a Vampiro), Gazeta do Realismo, Revista de Portugal e Brasil, Diário da Tarde, Folha Nova, entre outros.

Traduziu a História de Portugal, do alemão H. Schaefer. Em 1874, apenas com 17 anos, publica o seu primeiro livro: Análise da Crença Cristã, que provocou escândalo e suscitou polémica. Este livro seria o primeiro de uma extensa obra onde se incluem: A Geração Nova, 1886; Notas do Exílio, 1893; O Brasil Mental, 1898; A Ideia de Deus, 1902; O Encoberto, 1904; Os Modernos Publicista Portugueses, 1906; Portugal e a Guerra das Nações, 1906; A Questão Religiosa, 1907; Portuenses Ilustres, 1908; A Ditadura, 1909; O Porto Culto, 1912; Os Cavaleiros do Amor, livro inacabado, editado em 1996.

Após a Proclamação da República, em 1910, foi nomeado funcionário superior da Biblioteca Pública Municipal do Porto e, posteriormente, seu Director. Foi dos primeiros críticos do positivismo de Comte.

Índice da obra

[Não tem índice]

Nota biográfica – pp. IV-V

Introdução – pp. VI-XXII

Capítulo I – A Revolução Francesa e o Movimento das Ideias: D’As Farpas a José Falcão, das Conferências do Casino a Pinheiro Chagas: pp. 1-35

Capítulo II – Sobre o desabrochar do Socialismo em Portugal e na Vida militante do jornalismo: pp. 37-78

Capítulo III – O federalismo ibérico. Da teoria das Nacionalidades à A Ibéria: pp. 79-124

Capítulo IV – Da ignorância à Liberdade – Apologia do povo português: pp. 125-137

Capítulo V – A crise com a Inglaterra e a republicanização da península: pp. 139-166

Capítulo VI – Portugal e Espanha – publicistas e publicações: pp. 167-190

Capítulo VII – Pi y Margall- O homem, o escritor: pp. 191-216

Capítulo VIII – “Os brandos costumes” – da pedagogia da tortura à pena de morte: pp. 217-296

Capítulo IX – A necessidade de salvador. O messianismo, o sebastianismo, os vários Mexias: pp. 297-330

Capítulo X – Da analfabetização à leitura. Da produção à publicação: pp. 331-366

Resumo da obra (linhas mestras)

O livro aqui resumido inclui um conjunto de reflexões do intelectual portuense Sampaio Bruno sobre a sua vida, a sociedade portuguesa, a inserção de Portugal no mundo, as novas ideias e aqueles que as divulgavam: os publicistas. De facto, o termo “publicistas” surge no livro para classificar os divulgadores de ideias e de novos conhecimentos, as pessoas que tornavam públicas e discutiam as ideias, as invenções e as descobertas, os intelectuais que usavam a pena para intervir na formação do indivíduo e fomentar o progresso da sociedade. Assim sendo, no livro há vastas referências a jornalistas (melhor classificados como escritores de jornais), aos seus textos e aos periódicos da época. O livro é também, todo ele, uma apologia à liberdade de pensamento e à liberdade de expressão e de imprensa, bem como um louvor aos referidos publicistas, que se dedicavam a irradiar o pensamento moderno através dos mais variados meios, interessando-nos, para o caso, os jornais.

São várias as passagens do livro onde Sampaio Bruno exprime a sua concepção de publicista. Num determinado ponto, explica que o publicista deve “caminhar, ensinar, civilizar; e ao menos morreremos contentes por abrirmos a estrada, se não por dobrarmos o cabo, além do qual está o desejado Oriente. ” (p. 173) Noutra passagem do livro, ao referir-se à revista científica Portugália, escreve: “as modernas gerações literárias portuguesas se têm ocupado com atenção e escrúpulo dos interesses vitais da pátria. Ocuparam-se em torná-la conhecida (…). Óptimo seria que perante as nações estrangeira a política portuguesa se apresentasse tão distintamente como perante elas a ciência portuguesa se apresenta, por intermédio da Portugália. Então volveria a dar orgulho o pertencer-se a esta ‘ocidental praia lusitana’ (…). Cumpramos o grato dever de saudar com respeito trabalhadores tão prestimosos quais os da primorosa revista científica portuense. Sem que por isso nos deslembremos daqueles a quem, por determinadamente se ocuparem dos temas que são de sua alçada especial, mais particularmente compete a categorização de «publicistas». Eles atam a tradição.” (p. 348 e p. 357)

Para Sampaio Bruno, os novos publicistas procuravam reagir contra os “monstros conservantistas de Portugal de 1871, borregóides, sem embargo” que, na sua óptica, retardavam o progresso do país (p. 29). Em consequência, para o autor seria missão dos publicistas informar, criticar e divergir, pois “o processo moral não pode dar-se desde que as almas só conheçam os preceitos do respeito e de obediência.” (p. 162) Conta assim que ele próprio, por exemplo, expôs as suas teorias sobre o federalismo ibérico nas colunas do jornal Folha Nova, numa série intitulada O Federalismo. (p. 114)

Os novos publicistas, conta Sampaio Bruno, não se limitavam à acção jornalística. Ele relembra, por exemplo, as Conferências do Casino, cujo porta-bandeira era Antero de Quental, que redigiu o Programa para os Trabalhos da Geração Nova (pp. 34-35); as discussões no Café Suíço, onde “se resolvia este mundo e o outro” (p. 272); bem como as reuniões informais e fornais: “a loja (…) enchia-se de antigos condiscípulos e recentes camaradas (…) em polémicas infindáveis! Quantas noites passadas, por essas ruas, a berrar de Proudhon, Bastiat, Karl Marx, a Internacional, a Comuna” (p. 46). Destes encontros, narra Sampaio Bruno, saíram vultos importantes na luta contra o conservadorismo, que escreveram a favor da liberdade e da democracia em jornais, folhetos e livros. Porque, afirma ele, para que a democracia e liberdade existam é preciso educar o povo. Aliás, conforme ele próprio afirma, “a ignorância do povo português, é, infelizmente, incontestável!” (p. 130)

Apesar de, segundo Sampaio Bruno, Ramalho Ortigão e Eça de Queirós terem escrito n’As Farpas, “crónica mensal de política, das letras e dos costumes”, que os intelectuais portugueses são “pequenos, obscuros, sem nenhuma (…) influência no movimento das ideias (…) ou no movimento dos factos universais” (p. 4), o autor realça a influência “positiva” dos novos publicistas portugueses nos movimentos ideológicos de vanguarda.

A coragem dos publicistas ao desafiarem o conservadorismo legal e ideológico reinante na sociedade portuguesa também é posta em destaque por Sampaio Bruno. Com vários exemplos, ele procura mostrar ao longo do livro como no período conturbado do final do século XIX e início do século XX os publicistas eram perseguidos, precisamente por serem lidos, o que os tornava incómodos. Um dos vários exemplos que o autor usa para fundar a sua tese é o de José Falcão, que “ameaçado de ser expulso da sua cátedra” e censurado por espalhar novas ideias (p. 28). Conta, aliás, que “não prosseguiram as violências” contra José Falcão “quiçá em parte pela intervenção sarcástica d’As Farpas. ” (p. 28). Relembra, também, um episódio de censura ao folheto de Julho de 1871 d’As Farpas – “Bom, ou mau, o folheto foi lido, levemente discutido e inteiramente comprado. Era anónimo. Que há-de acontecer? O governo proíbe-lhe a venda! (…) A única crítica é a gargalhada!” (p. 29)

Sendo os publicistas diferentes, pensando de maneira diferente, também diferente é o seu jornalismo. Sampaio Bruno observa, em consequência, por exemplo, a parcialidade jornalística de José do Patrocínio (p. 169); o jornalismo propagandístico de Xavier de Carvalho em O Estado do Norte (p. 169); o jornalismo elegante, embora com pouca popularidade, de Casal Ribeiro, em artigo publicado na Revue Lusitanienne (p. 171); o jornalismo pedagógico em revistas como O Ensino, dirigida por Eduardo Falcão (p. 272), e Ensino, de Teodoro Fernandes (p. 281); e o jornalismo polémico, em vários opúsculos e jornais, como num folheto saído no Porto, onde um autor anónimo, que se designa a si mesmo “um português”, contesta a memória A Ibéria, apelidada de “perigosíssima”. (p. 171) O jornalismo político de cariz democrático, afirma Sampaio Bruno, estava patente, por exemplo, no Eco Popular, periódico fundado por José Lourenço de Sousa, que tinha como colaborador Rodrigues de Freitas. Era considerado “o órgão da mocidade possuída das ideias novas e intrépida na sua propaganda dentro duma sociedade estagnada” (p. 280).

O autor também referencia Teófilo Braga, que ao publicar Traços Gerais da Filosofia Positiva abriu caminho ao influxo das novas ideias do Positivismo e do Darwinismo, com reflexo imediato nos jornalistas e nos jornais, ou até nos publicistas em geral. Surgiram assim, explica Sampaio Bruno, jornais e revistas difusores das novas ideologias científico-filosóficas.

Segundo o autor, Ramalho Ortigão, nos folhetos mensais d’As Farpas, disse que essas publicações “eram (…) uma janela aberta, por onde entravam para o país grandes rajadas de civilização e de educação (…) varrendo os miasmas e trazendo sempre alguma boa semente.” (p. 274) No entanto, os conservadores também expressavam o seu pensamento através da imprensa. Conta Sampaio Bruno, por exemplo, que O Besouro, semanário humorístico, caricaturou Correia Barata, químico e biólogo, defensor das teses darwinistas (p. 275). Contudo, o Darwinismo, segundo Sampaio Bruno, teve também eco em periódicos sérios e abertos às novas ideias, como a revista Actualidade, do Porto; a Renascença, de Joaquim de Araújo; a Museu Ilustrado, de David de Castro; a Revista de Portugal, dirigida por Eça de Queirós; a Revista Científica, de Ricardo Jorge” (p. 281); e ainda a Revista Ocidental, orientada por Oliveira Martins, que “chasqueou” João Bonança e a sua Reorganização Social. (p. 298)

A admiração de Sampaio Bruno por Rodrigues de Freitas nota-se nas abundantes páginas que lhe reserva, contando que ele escreveu para jornais como O Comércio do Porto acerca de assuntos económicos e de administração pública, bem como para O Jornal do Comércio, O Século, Discussão e Voz Pública. (pp. 281-282)

Relembrando, individualmente, os contributos de outros publicistas para o debate intelectual em Portugal, Sampaio Bruno evoca, por exemplo, António Feliciano de Castilho, que escreveu uma “página indignada e comovida” sobre o “feitio inquisitorial das escolas primárias” – “em Portugal, a palmatória continua ser o troféu do nosso ensino (…) desde pequeninos, os portugueses são educados no terror, na humilhação, na covardia” (p. 223).

O autor recorda, também, que o publicismo português não se esgotava no território continental. Do próprio Brasil, por exemplo, vinham jornais que contribuíam para que novas ideias chegassem e fossem discutidas em Portugal. Sampaio Bruno relata, para fundar o seu raciocínio, o caso do periódico republicano País, do Rio de Janeiro, dirigido por Quintino Bocaiúva e que tinha por primeiro redactor Eduardo Salamonde, português naturalizado brasileiro. (pp. 167-168)

De Portugal para a Europa, no final do seu livro Sampaio Bruno lembra a acção de vários publicistas europeus, detendo-se, em especial, nos espanhóis Pi y Margall e Benito Perez Galdós.

De sublinhar, finalmente, que o livro Os Modernos Publicistas Portugueses não só condensa uma parte significativa do pensamento (em grande medida francófilo e hispanófilo) de Sampaio Bruno sobre as novas ideias que se espalhavam na Europa, na Península Ibérica e em Portugal desde a Revolução Francesa, como também constitui um repositório de memórias e sentimentos do autor aos 48 anos de vida (1905), alguns deles algo pormenorizados, como acontece numa passagem curiosa onde, a propósito do livro e de outros escritos, alude ao erro tipográfico, à influência deste na sensibilidade do autor e aos transtornos que provoca no pensamento.

Nome completo do autor da ficha bibliográfica: José Pedro Lopes Malafaya Baptista

E-mail: imb@brainkebab.com