Ribas, J. (1953)

RIBAS, J. Carvalhal (1953). Fundamentos Psicológicos do Jornalismo.

Autor: RIBAS, J. Carvalhal

Ano de elaboração (caso não coincida com ano de publicação)

Ano de publicação/impressão: 1953

Título completo da obra: Fundamentos Psicológicos do Jornalismo.

Tema principal: Teoria do Jornalismo

Local de edição: Lisboa Editora (ou tipografia, caso não exista editora)

Gazeta Médica Portuguesa: Separata do volume VI, segundo trimestre de 1953, n.º 2.

Número de páginas: 22

Cota na Biblioteca Nacional e eventualmente noutras bibliotecas públicas

Biblioteca: Biblioteca Nacional Cotas: SA 17204//1 V

Esboço biográfico sobre o autor ou autores (nascimento, morte, profissão, etc.)

Médico psiquiatra. Docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e professor de psiquiatria da Escola de Enfermagem de São Paulo.

Índice da obra

[Não tem índice.]

O jornalismo: pp. 323-324

Psicologia do jornalista: pp. 324-327

Psicologia do público: pp. 327-329

Bons e maus jornais: pp. 329-340

Censura dos jornais: pp.340-344

Resumo da obra (linhas mestras)

Esta obra dá-nos a conhecer um pouco da psicologia e das influências (positivas e negativas) psicológicas que o jornalismo traz de diferentes formas e com diferentes intensidades, a diferentes tipos de pessoas. O autor, J. Carvalhal Ribas, refere que o “jornalismo existe em função da curiosidade dos homens em relação em relação a tudo quanto ocorre ao redor” (p. 323).

O jornalismo é então uma arte laboral que contém sempre presente uma curiosidade interessada e prática – saber o que se passa para aproveitar o que há de bom e se defender e precaver do que há de mau – curiosidade essa particularmente viva e estética, uma curiosidade de jogo – informa-se de tudo quanto é novo, imprevisto, excepcional e extraordinário.

O autor faz também uma referência à origem do jornalismo e à sua tão característica “veia” curiosa, afirmando que este já existia antes de se criarem os jornais nos moldes actuais, sendo que o jornalismo já existe desde que o homem, com todos os seus recursos linguísticos e dos materiais que possuía no seu alcance, procura satisfazer as suas curiosidades e procurar tudo o que era novo. O autor afirma ainda que o jornalismo passou por muito até chegar ao que é agora, fazendo referências aos tempos da Grécia Antiga, onde era na Ágora e a praça pública de cada cidade que se sabiam das novidades que mais interessavam a todos, principalmente aos políticos e homens de mais poder; o autor lembra também que em Roma, eram registados os grandes acontecimentos em tábuas (denominadas Álbum) que viriam a ser afixadas, a mando dos Grandes Pontífices. Quando a Idade Média estagnou e se estabeleceu, o jornalismo deixou de ser estritamente escrito passando assim a ser utilizada o relato oral dos acontecimentos pelos viajantes, músicos, mensageiros, etc.

O autor refere também o surgimento da imprensa, invenção de Gutenberg, que se deu em 1450; isto deveu-se muito ao facto de inicialmente, a impressão ser dificultada pela deficiência dos prelos, pelo custo elevado e mais uma data de razões, que tornavam a impressão a distribuição de jornais impressos difícil. Mais tarde, com a queda do feudalismo, o povo pôs a imprensa ao serviço do jornalismo. O autor refere também que, impressores da Inglaterra e dos Países Baixos concluíram que a venda de folhas impressas, onde o público lesse as notícias importantes do momento, seria um negócio lucrativo. Isto seria lucrativo para que o público tivesse conhecimento das notícias mais importantes, pois para conhecimento dos factos menos importantes, o povo continuaria a ouvir certos indivíduos especializados – os nouvellistes.

Nos finais do séc. XVII, surgiu no mundo jornalístico a figura do repórter, que veio completar imenso os jornais, pois para além da publicação de assuntos convencionais, divulgaram-se também os mais variados, imprevistos e extraordinários factos.

Na actualidade, diz Carvalhal Ribas, o jornal impôs-se como um dos apêndices indispensáveis para a sociedade, tornando-se assim o quarto poder do Estado, pois todos os indivíduos, desde que se alfabetizam, se habituam à leitura diária dos jornais, fazendo com que este hábito se torne tão importante como a roupa que usam, a comida que comem e outros rituais. O autor cita José de Alencar, dizendo que “o jornal é a toalha com o homem civilizado enxuga o rosto todas as manhãs” (p. 324).

Após isto, o autor dedica as páginas seguintes à explicação da psicologia e a forma de ser do jornalista, referindo que, a organização de um jornal se processa em três departamentos: redacção (integrada pelo directos, redactor-chefe, redactores especializados e repórteres), administração (predomina a área dos negócios de anúncios, venda de jornais, controle das finanças, etc.) e oficinas (abrangem secções de composição, estereotipia, etc.). Normalmente, os jornalistas só se revelam exponentes na carreira por vocação – para ele, os jornalistas não se improvisam, já nascem feitos. O jornalista contém qualidades normalmente associadas ao sexo feminino: curiosidade, visão maliciosa das coisas, espírito de bisbilhotice, etc; o repórter perfeito faz de tudo para conseguir a história ideal e para conseguir os detalhes do acontecimento mais interessante. Após obter as notícias, o jornalista deve redigir a sua peça dentro do carácter e do estilo peculiar que a imprensa tem.

O autor cita Wolseley e Campbell ao dizer que “O estilo jornalístico deve ser conciso, vivo, brilhante, sem deixar de ser sucinto, cabe-lhe ser acurado e bastante completo. O que precisa ser dito, seja-o em espaço tão pequeno quanto possível, pois o repórter não tem tempo para escrever longas histórias, o jornal não tem espaço para publicá-las, nem o leitor tem paciência para lê-las.” (p. 325). No jornalismo, a questão do que é escrito não é comunicar pensamentos, é convencer o público com repetições inúteis e impressioná-lo com o desenvolvimento do artigo; os jornais descrevem os acontecimentos em cores estridentes e exageradas, romantizando-os e satirizando-os. Outro facto que o autor refere é que, um jornal, quando conta um conto, tende a acrescentar-lhe pontos – o jornalista tem a “preocupação” de suscitar emoções violentas através de artimanhas de publicidade, mesmo que isso deturpe a verdade, criando assim uma onda de sensacionalismo. Apesar de por vezes os jornais obterem as informações completas sobre alguns acontecimentos, não as publicam exactamente da forma que lhes são descritas, pois correm o risco de que essa informação seja deturpada por factores como interpretações precipitadas, incultura, incompreensão ou leviandade dos noticiaristas; por muito bem informado que o jornalista esteja acerca de um assunto, ainda assim não pode dizer a verdade por completo, pois está muitas vezes impedido de divulgar o que contrarie o jornal ou outras entidades.

Mais uma vez, o autor utiliza uma citação, desta vez de Pitigrilli, dizendo que “Os jornalistas não vivem, estão à margem da vida; devem sustentar uma opinião que não têm e impô-la ao público; tratar de questões que não conhecem e vulgarizá-las para a plateia; não podem ter vida própria (…)”(p. 326); a vida jornalística faz com que estes profissionais estejam em contacto com literatos, actores, pintores, músicos, etc.

A seguir, J. Carvalhal Ribas fala um pouco da psicologia do público, focando a maneira como os jornais influenciam e levam à acção do público, referindo que este corre para comprar os jornais que publicam notícias e acontecimentos recentes; os jornais atrasados e já lidos tornam-se leituras insípidas. Cada leitor procura nos jornais os assuntos que mais lhe interessam, intelectual, afectiva e moralmente; por isso se criaram diversos tipos de jornais, direccionados para diferentes tipos de pessoas (jornais infantis, desporto, para adolescentes e adultos, etc.) e de diferentes áreas (agricultura, política, humor, economia, comércio, etc.). Para o autor, as preferências que os leitores têm na leitura e a selecção que fazem dos jornais contribuem para uma compreensão da personalidade do indivíduo, assim como a sua profissão, etc. Conforme o autor afirma ao citar Raul Briquet, “em sua versatilidade, a imprensa diária abre margem ao inconsciente de cada leitor, cuja emotividade se ajusta aos diversos artigos e notícias” (p. 328). O autor refere também que os jornais só alcançam aceitação quando são compreendidos pelo público, sendo essa a razão porque muitos jornais dedicados à sociedade alta e com mais estudos (filosofia, sociologia, estética, etc.) estão prestes a extinguir-se. Cada vez mais, as pessoas deixam de ler a parte educativa e séria dos jornais, para verem as notícias escandalosas dos noticiários, onde os mais procurados são casos de intriga, corrupção, assassinatos, suicídios, etc. – segundo um estudo de psicanálise, as pessoas demonstram um maior prazer por esse tipo de notícias pois encontram uma satisfação imaginária de tendências condenáveis à sociedade e por isso não são realizadas e permanecem no seu inconsciente.

O autor faz, depois, uma referência aos bons e aos maus jornais, explicando o que torna um jornal bom e o que torna um jornal mau, sendo que utiliza logo uma citação de Daudet, que defende os jornais, onde este diz que o jornal é “um mal indispensável” (p.329) seguindo esta citação de uma outra, desta vez de Balzac, que “deita abaixo” os jornais e onde afirma que “se a imprensa não existisse seria preciso não a inventar.” (p. 329). Utilizando outra citação, desta vez de Galeão Coutinho “a Imprensa não deve ser acusada por causa dos seus maus servidores, como a Medicina não deve ser condenada por causa dos charlatães, a Religião infamada por causa dos maus sacerdotes, o Direito calcado aos pés por causa dos rábulas e juízes sem escrúpulos que o desservem, a Pátria repudiada por causa dos que lhe invocam o nome para trair e locupletar-se.” (p. 329)

O autor refere ainda que o mais indicado para as crianças são mesmo as leituras infantis, pois histórias de crimes, bandidos, gangsters, que infundem impressões violentas e inconscientes nas mentalidades das crianças, fazendo com que estás fantasiem em demasia e percam o contacto com a realidade: as crianças imaginam-se nos papéis dos heróis e tentam reproduzir as suas aventuras na vida real, sendo que algumas tragédias já aconteceram quando crianças morreram a tentar imitar super-heróis ou notícias que viram na televisão. Os pais, pedagogos e psicólogos devem acompanhar e evitar que as crianças leiam esse tipo de jornais, focando-se apenas nos educativos e infantis. Já na adolescência, os indivíduos tornam-se muito mais susceptíveis e sensíveis, sendo que a leitura deve ser mais cuidada, pois exerce uma maior influência na personalidade e na vida dos jovens. Essa censura deve ser feita sem que os jovens o entendam, pois caso contrário poderão entrar numa rebelião contra os mais velhos, travando conflitos no seio doméstico. O autor refere, também, que na vida atarefada dos adultos, o jornal é o truque sempre à mão para que as pessoas se consigam localizar e se orientar no meio da avalanche de acontecimentos que é o dia-a-dia. Pela leitura do jornal, cada pessoa consegue informar-se de tudo o que acontece em qualquer parte, conseguindo manter-se a par de todos os acontecimentos.

Carvalhal Ribas cita Eça de Queiroz dizendo que se “os factos dominantes não fossem flagrantemente apanhados em imagens concretas, e fixados diversíssimos e orientar-se de acordo com os acontecimentos.” (p.330). É também referido que os indivíduos estão de tal maneira habituados à imprensa e ao jornal diário que se lhes faltar uma edição chegam a experimentar sensações semelhantes as da abstinência dos tóxicos – sentem-se insatisfeitos, inquietos: “não leram o jornal, não estão a par das últimas notícias, não se integraram ao momento que passa.” (p.330).

O autor afirma, usando mais uma vez uma citação, desta feita de Larive, que “a gente pensa, deseja, espera e age com o seu jornal, pelo seu jornal, segundo as convicções deste senhor que a gente não conhece e que, entretanto, nos entra pela casa, todas as manhãs (…) Ele é o conselheiro. É o guia. É o amigo. É o evangelho. Ele fala e a gente escuta. Parece que a verdade só sai da sua boca.” (p.330). Os incidentes quotidianos contaminam os jornais de sensacionalismo; para causa sensação, abrigam-se na malícia, no picante e na perversidade.

Passando para a análise das secções livres dos jornais, o autor refere que existem diversos ataques contra indivíduos e sociedades, assinados e reconhecidos pelos cartórios. Nas restantes áreas e colunas dos jornais, existe sempre lugar para agressão contra quem quer que seja; colunas repletas de um público ávido de escândalo e podridão. Certos jornalistas tendem a afeiçoar-se a destruir reputações e também ao prazer de precipitar o público através de leituras de jornais na mesma sensualidade perversa. Esse tipo de jornalista faz jus à definição de Delphine Gay onde diz que o jornalista é “um homem que vive de injúrias, de caricaturas e de calúnias.” (p.330).

O autor refere-se à imprensa como sendo muitas vezes algo que se torna frequentemente uma das modalidades do capitalismo, estando sob o controlo dos magnatas. Balzac afirmava que “há duas espécies de jornalistas: os que escrevem e os que não escrevem (…)” (p.331). Outros autores, como Lima Barreto, acusam os jornais de se terem tornado “a mais tirânica manifestação do capitalismo e a mais terrível também… (…)” (p.331); refere também que o poder do director de um jornal é equiparado ao de um santo ou sábio, nada é melhor do que ele. Os jornais, na fúria do sensacionalismo, noticiam os crimes minuciosamente, com pormenores e títulos sentimentalistas, apelando ao lado humano e curioso do indivíduo. Por vezes deixam-se mesmo influenciar pelas notícias e pelos comentários da imprensa. Outros indivíduos, com uma certa perversidade, são influenciados mas tendem a experimentar o que é noticiado, vivendo na expectativa e à espera que um novo crime seja notícia. São as pessoas “menos cultas” e mais desequilibradas que mais são afectadas com as notícias policiais mais chocantes, retendo-as na mente durante um longe período de tempo. Devido à publicidade feita em torno desses crimes, potenciais criminosos sentem-se tentados a dedicar-se ao mundo do crime, pois todos os criminosos aspiram a serem conhecidos e atingirem a glória, nos anais da criminalidade.

Citando César Luchetti “a notícia é um rastilho acendendo vontades estranhas e desejos inconfessáveis (…)” (p.333). À imprensa cabe o papel de noticiar todo o desenrolar do crime, ou seja, desde que este aconteceu até os desenvolvimentos acerca dos criminosos (quando e como são julgados, qual a sentença, etc.) a fim de deixar o leitor a par de todo o desenvolvimento da história. O autor refere agora que para acrescentar à lista de crimes cometidos sobre outros indivíduos, os jornais também noticiam suicídios e chegam a explicitar como é que alguém se suicidou (que armas usou, que tipo de morte foi, etc.). Alguns jornais, nomeadamente os norte-americanos e os europeus, recusavam-se a publicar fotografias macabras para acompanhar as notícias, neste caso, é referido o caso dos enforcados de Nuremberga, pois não desejavam escandalizar os leitores com imagens tão mórbidas. O autor refere que alguns leitores mais susceptíveis e hiperemotivos podem correr o risco de sofrer traumatismos psíquicos devido às notícias sensacionalistas. Esses traumas podem desencadear problemas psíquicos mais graves e levar com que os indivíduos se tornem vítimas deles próprios, ficando com o seu espírito atormentado.

É também referido por Carvalhal Ribas que os jornais se precipitam a apontar suspeitos (muitas vezes inocentes) e/ou culpados de crimes que a polícia ainda não desvendou, levando a que estes fiquem comprometidos e que por vezes sejam acusados inocentemente. Muitas vezes esses acusados fazem mesmo passar-se pelos criminosos para obterem um pouco de mediatismo; por vezes esses supostos criminosos não se contentam em fingir apenas que cometem os crimes, passando por vezes à acção e cometendo na realidade crimes dentro da mesma linha dos quais são acusados, seguindo os moldes dados pela imprensa.

O autor refere que a imprensa tem uma repercussão nos neuróticos e psicopatas e que deveriam ter um pouco mais de cuidado e apenas publicar as suas notícias após terem retirado os detalhes que sabem que influenciam a mente das pessoas mais influenciáveis. Refere também que o ideal seria a criação de jornais apenas destinados a doentes de hospitais, assim como existem jornais destinados a desporto, jovens, etc.

Mas nem só de coisas más são feitas os jornais, e como o autor refere, através de entrevistas, inquéritos e artigos, os jornais contribuem para a cultura, educação e civilização dos povos. Após um indivíduo terminar os seus estudos e arranjar emprego (por vezes um emprego pouco intelectual), a única maneira de se manter a par das notícias e do que se passa no mundo é mesmo através dos jornais. É também de referir que a imprensa diária se revela um excelente meio de divulgação de problemas científicos – o homem procura no jornal conhecimentos de ciência aplicada, como por exemplo, meteorologia, conselhos médicos, etc. O autor refere também que nem o noticiário científico não se liberta facilmente do sensacionalismo.

Carvalhal Ribas, refere, citando Dumesnil, que “a indiferença da imprensa pela verdade e o bom senso não se manifesta somente nas notícias que dizem respeito à medicina, mas a medicina goza de uma situação privilegiada nesse conjunto de disparates, porque, sendo de um modo geral ignorada, é mais fácil deturpar e aumentar as notícias que os leitores, se não são médicos, não podem, à primeira vista, classificar de asneiras.” (p. 337). Os jornais, não devem em tempo algum, impulsionados pelo sensacionalismo, proclamar a incurabilidade de uma doença, pois devastaria os leitores que tivessem de facto essa doença; mas também não cabe aos jornais o papel de curandeiros, divulgando receitas secretas que nada fazem, iludindo e dando falsas esperanças aos leitores. Como o autor refere, “o sensacionalismo na propaganda dos medicamentos, não só prejudica os doentes, mas desprestigia os métodos terapêuticos.” (p. 337).

O autor passa agora a para uma breve análise aos trabalhos científicos, onde refere que os títulos devem ser curtos mas que abranjam os assuntos focalizados, para que os leitores se informem sobre o que tratam os artigos. Também a enumeração de sub títulos é algo que funciona muito bem nos trabalhos científicos pois permite aos leitores se inteirarem melhor do que tratam estes trabalhos ou artigos (assim como a utilização de desenhos, gráficos, fotografias ou tabelas que também é uma boa ajuda e uma boa aposta para colocar no início de um trabalho, se bem que por vezes em vez de ajudarem, apenas obscurecem as questões). O autor refere que a colocação de resumos da matéria no fim dos artigos é muitas vezes útil, pois os leitores podem decidir se lhes convém ou não a leitura dos artigos da íntegra. Os autores dos trabalhos não podem esquecer de referir as contribuições de antecessores nos seus assuntos, a colocação da bibliografia descriminada, assim como a referência a trabalhos consultados em revistas, etc.

O autor refere que a imprensa, para além de intervir na formação intelectual das sociedades, se dirige também muitas vezes mais intensamente, aos sentimentos, às emoções e às paixões das colectividades. É também de mencionar que nos dias de hoje o sensacionalismo ainda se serve de temas místicos e fantasmagóricos para mexer com as emoções e a imaginação das multidões.

O autor refere também que na imprensa “o sentimento artístico encontra especial oportunidade para ser cultivado: os jornais notificam o que se realiza nas artes e, com interpretações e críticas, orientam o gosto estético do público, impelindo-o a integrar-se às novas tendências artísticas.” (p. 339). Neste tipo de noticiário também se insinua muitas vezes o sensacionalismo, com polémicas e críticas cheias de teorias complicadas, palavras técnicas e reparos mordazes em torno da pintura, literatura, teatro, cinema, etc. Mas de todas as artes, é talvez a literatura a mais susceptível de se propagar nos jornais, conseguindo estes por vezes divulgar as mais baratas e comuns literaturas, como folhetins, perversões, vícios, etc.

Os jornais servem e contribuem para despertar e orientar o espírito público, o civismo, as paixões políticas, sendo que muitas vezes os jornais não dispensam o tempero do sensacionalismo em matérias políticas, desvendando aos leitores um panorama de catástrofes, como desvios de dinheiro, corrupção, aumentos de impostos, entre outros. “A imprensa sensacionalista posta-se a bater palmas, como claque paga para aplaudir artistas por mais medíocres que sejam. Nessas circunstâncias, o sensacionalismo jornalístico, como os divertimentos e vícios protegidos pelos déspotas, representa uma espécie de narcótico para adormecer as multidões e aniquilar-lhes quaisquer iniciativas de revolta.” (p. 340)

Carvalhal Ribas passa, seguidamente, a analisar a censura dos jornais, referindo que desde longa data, literatos focalizam os aspectos ignoráveis da imprensa e a necessidade de se lhes promover guerra de morte. À medida que o tempo passava, vários profissionais analisaram os efeitos dos jornais no espírito colectivo e reclamaram medidas em prol da reparação da publicidade nociva. O autor refere também que quando bem formado e esclarecido, o público tende a enojar-se com o clima vicioso e sensacionalista da empresa; o público educado e culto, provido de maior visão das coisas não deixa de reconhecer a ridícula insignificância que muitas vezes encerram os acontecimentos apregoados pela imprensa de sensação. À medida que as multidões apuram o seu senso crítico e a sua sensibilidade, o sensacionalismo tende a ser desencorajado e a desaparecer do mercado. Carlos Lacerda é citado neste texto, por Carvalhal Ribas, ao dizer que “você poderá acabar com o sensacionalismo na imprensa. Acabando antes com ele dentro da sua própria imaginação. Corrija-se antes. Os jornais seguirão o seu exemplo, e você terá então uma imprensa limpa, discutindo ideias, mostrando caminhos novos, tentando soluções para os problemas do país e dos seus homens (…).” (p.341).

A capacidade jornalística depende muito da aptidão inata de cada jornalista, mas para complementar isso, os países mais civilizados já dispõem de escolas de jornalismo onde os inscritos podem adquirir conhecimentos técnicos e gerais indispensáveis para o desempenho da profissão. O jornalista tem de ter formação e saber como trabalhar as notícias, como as redigir, como trabalhar num jornal, etc. O autor refere a opinião de Porter e Luxon, dizendo que seria base indispensável ao jornalista “sabes história, emprego correcto do idioma, ter conhecimentos de literatura, economia, sociologia, ciência política e noções elementares de outras ciências tais como química, física, biologia e psicologia.” (p. 341). Os cursos de jornalismo no Brasil, estão compreendidos em três secções: a) secção de formação, b) secção de aperfeiçoamento, e c) secção de extensão cultural, em que cada uma das secções tem um importante quota na formação do jornalista; no Brasil, o curso de jornalismo foi considerado como tendo a mais alta significação cultural e social. Dentro das matérias dos cursos de jornalismo, uma das mais importantes é a psicologia, pois o jornalista ao lidar com o público precisa de ciência susceptível para compreender e explicar o comportamento humano. O autor refere que quando armado de conhecimentos psicológicos, o repórter consegue muitas vezes deduzir, mesmo antes de entrevistar alguém, as suas características mentais, através das suas fotografias, profissão ou hobbies – a entrevista resultará tanto mais substanciosa quanto melhor o repórter a conduzir de acordo com o tipo mental do interlocutor; o repórter deve manter-se a par do estado de espírito do entrevistado. O repórter deve iniciar uma entrevista com perguntas banais ou mesmo tolas, para deixar o entrevistado à vontade e se conseguir fazer com que ele sorria, será o ideal; após obter a confiança e o bom-humor do entrevistado, deve arriscar colocar as perguntas mais pertinentes e úteis à entrevista.

O autor refere que com o auxílio da psicologia, o jornalista identificará os indivíduos ordinários, honestos, heróis, etc., ou seja, conseguirá distinguir os verdadeiros homens dos falsos e avaliará os efeitos das projecções de uns e de outros no cenário social. O jornalista deve, para Carvalhal Ribas, relatar os factos com fidelidade baseando-se em apontamentos e por vezes somente na sua própria memória.

Há também uma referência ao Código de Ética Jornalística em vigor nos Estados Unidos, referindo-se o autor parâmetros que o jornalista norte-americano deve seguir: 1) ser verdadeiro com os ideais jornalísticos; 2) ser verdadeiro nos deveres profissionais; 3) ser sincero e desinteressado no trabalho; 4) ser verdadeiro nas notícias e nos artigos; 5) ser verdadeiro em todos os anúncios; 6) ser justo quando for preciso combater e criticar; 7) ser leal com os interesses do país; 8) ser honesto com os concorrentes e competidores; 9) serleal para com todos os colaboradores e amigos; 10) ser correcto nos negócios e transacções. Também a imprensa norte-americana, de acordo com Carvalhal Ribas, obedece a alguns princípios, como os que se seguem: 1) senso de responsabilidade; 2) liberdade de imprensa, embora não claramente expressa em lei; 3) independência; 4) sinceridade, veracidade, exactidão; 5) imparcialidade; 6) equanimidade; 7) decência. O autor refere também que, nas democracias, a liberdade de cada um tende a restringir-se à medida que as suas acções se tornem nocivas aos outros elementos da sociedade.

Para concluir a obra, J. Carvalhal Ribas refere que com a restauração do regime democrático, no Brasil, “organizou-se a censura em melhores moldes, acima das camarilhas políticas, voltada somente para a missão de assegurar ao povo uma imprensa à cultura e suscitar-lhe o bem-estar psíquico, a verdadeira cultura, a disciplina das emoções, a inteireza moral, o espírito cívico, o lado superior da natureza humana.” (p. 344).

Autor (nome completo): Marta Alexandra Ferreira Bouça Fernandes Ribeiro

E-mail: tuyucapoeira@gmail.com