Rocha, H. (1946)

ROCHA, Hugo (1946). Jornalistas.

Autor: ROCHA, Hugo

Ano de elaboração (caso não coincida com ano de publicação)

Ano de publicação/impressão: 1946

Título completo da obra: Jornalistas

Tema principal: Teoria do jornalismo

Local de edição: Porto

Editora (ou tipografia, caso não exista editora): Liga Portuguesa de Profilaxia Social

Número de páginas: 46

Cota na Biblioteca Nacional e eventualmente noutras bibliotecas públicas

Biblioteca: Biblioteca Nacional

Cotas: P.2526//1V

Biblioteca: Biblioteca Municipal do Porto

Cotas: D6-12-30 (8)

Esboço biográfico sobre o autor ou autores (nascimento, morte, profissão, etc.)

Nascido em 1907 na cidade do Porto, Hugo Rocha desde cedo percebeu que a sua grande vocação era o Jornalismo. Teve uma passagem muito intensa pela redacção do Jornal O Comércio do Porto, ao qual esteve ligado até se reformar aos 74 anos. Após uma vida inteira a “respirar” jornalismo, veio a falecer a 24 de Fevereiro de1993.

Índice da obra

Capítulo I – Introdução à obra “Jornalistas”. Pág.5 – 10.

Capítulo II – (Relação entre) o Jornalista e a sua criação. Pág.10 – 12.

Capítulo III – Arte do Jornalismo. Pág.12 – 16.

Capítulo IV – Trabalho Jornalístico e referência ao Mestre Bento Carqueja. Pág.17 – 20.

Capítulo V – Defesa do Individualismo do Jornalista. Pág. 20 – 22.

Capítulo VI – Exposição dos conhecimentos do Jornalista. Pág.23 – 27.

Capítulo VII – Postura e evolução do Jornalista. Pág. 27 – 29.

Capítulo VIII – Jornalista Escritor e o Escritor Jornalista. Pág. 29 – 31.

Capítulo IX – Risco da profissão. Pág. 31 – 32.

Capítulo X – Experiência em Moncorvo. Pág. 33 – 35.

Capítulo XI – Síntese da crítica tecida até agora. Pág. 36 – 38.

Capítulo XII – “Falsos Jornalistas”. Pág. 38 – 42.

Capítulo XIII – Amor e deveres do Jornalista. Pág. 42 – 43.

Capítulo XIV – Exaltação do Jornalismo. Pág. 44 – 45.

Capítulo XV – Conclusão da obra e referência a alguns indivíduos. Pág.45 – 46.

Resumo da obra

Esta obra está dividida em 15 capítulos e fala de uma forma efusiva da vida do jornalista.

O autor inicia com um Antelóquio no qual refere um pouco trabalhos escritos anteriormente, fazendo também uma pequena homenagem à Liga Portuguesa de Profilaxia Social, bem como a alguns dos seus amigos. É também neste início da obra que Hugo Rocha realça o trabalho intenso do jornalista, que muitas vezes perde noites a exercer esta profissão. Aproveita para criticar de forma explícita todos aqueles que não respeitam os jornais e, assim, o trabalho jornalístico. É a partir daqui que inicia um comentário à quase relação de amor existente entre o profissional de comunicação e a sua obra, defendendo, mais uma vez, o jornalista. Aproveita para estabelecer a diferença entre o leitor citadino, que vive ocupado e não tem muito tempo para se dedicar à leitura do jornal (“Refiro-me, como deveis entender, ao leitor citadino, absorvido pelas suas ocupações, dominado pelas suas paixões, integrado, de corpo e alma, no struggle for life cotidiano.”, pág.11), e o leitor provinciano, que tem mais tempo para disfrutar da informação contida no jornal, dando-lhe, assim, mais importância (“O leitor provinciano, para quem o jornal constitui, quase sempre, um acepipe cultural e uma respeitável bíblia que importa consultar, para poder orientar-se e formar opinião, não lê, levianamente, o seu jornal.”, pág.11).

Na continuação da sua obra, preocupa-se em citar algumas linhas firmadas por José Maria de Andrade Ferreira, pelo que caracteriza de forma sucinta a vida e obra deste académico. Menciona, aqui, a criação jornalística como arte que apaixona o leitor. É nesta altura que insere a ideia de predestinação, ou seja, que o jornalista já nasce predestinado, mas para ele não basta nascer predestinado, é necessário lutar muito para se ser jornalista.

Após esta exposição passa a explicar o individualismo do jornalista, apresentando-o como virtude, na medida em que o profissional não deve produzir ou criar algo diferente e inovador, mas também como um defeito, pois o jornalista isola-se e esquece-se das vantagens do critério de corporação e, desta forma, coloca de parte a solidariedade jornalística.

O autor insere no texto a ideia de que o verdadeiro jornalista deve cultivar e informar o seu cérebro a toda a hora. É de realçar, nesta altura do texto, uma homenagem ao seu mestre e amigo Bento Carqueja, director do Comércio do Porto, que o acompanhou e aconselhou a nível profissional e pessoal. O autor enaltece, também, o seu local de trabalho: o jornal O Comércio do Porto.

A partir daqui, Hugo Rocha defende o individualismo, através da demonstração das dificuldades por que passam os jornalistas na criação dos seus trabalhos, mas também o considera um defeito:

“O individualismo do jornalista é, por certo, a maior virtude e o maior defeito do profissional. É a maior virtude porque, sendo o jornalismo (…) uma profissão caracterizadamente activa, renovadora, dinâmica, por mais isolado que o profissional esteja no seu gabinete, a noção de que não deve produzir o mesmo que os outros, de que deve ser diferente na forma e na substância da obra realizada (…). Este individualismo, fundamental e essencial na profissão jornalística, tem também (…) o lado prejudicial. (…) Porquê? Porque o jornalista, convencido de que o seu trabalho não é um trabalho de clan e depende mais da iniciativa própria do que (…) dos cânones gerais da profissão e da classe, esquece-se, frequentemente, das vantagens do critério de corporação e isola-se (…) inacessível às solicitações da camaradagem, isto é, da sociedade e da solidariedade jornalísticas.” (pp. 17-20)

Continua, depois, com a apresentação de todos os itens que o jornalista deve respeitar para uma boa realização do seu trabalho (saber recolher a informação, ler o seu jornal e o dos outros, cultivar-se – para o que aconselha as viagens e os lviros, dedicar-se à profissão sem consideração de horários…).

Na sequência do seu pensamento, Hugo Rocha faz referência às escolas de jornalismo Madrid e da Argentina: “Vem a propósito citar, aqui, uma escola de jornalistas que funciona em Madrid e por onde passaram já alguns profissionais do jornalismo portugueses, que suponho não terem perdido o seu tempo, embora – refiro-me a dois que conheço: um de Lisboa e outro do Porto – de autênticos jornalistas natos se tratasse. Criou-se, também, há tempo, na República Argentina, uma escola «que prepara alunos para tudo o que se relacione com o jornalismo; redactores,«reporters», revisores, tradutores, etc.»” (pág. 24) Nesta altura, demonstra, que um jornalista não é capaz de exercer apenas com ensinamentos teóricos, necessita do saber prático. Para demonstrar a importância da prática e das qualidades jornalísticas, é nesta altura da obra que o autor escreve sobre uma experiência que teve com um seu camarada espanhol: “Uma vez, no Hotel de Santa Luzia, o miradoiro supremo, talvez, da paisagem portuguesa, havia eu, com um camarada espanhol, burlado a vigilância do pessoal do protocolo e dos agentes da polícia, para tentar escutar a conversa entre o finado ditador de Espanha, general Primo de Rivera, e o presidente do Conselho de Ministros de Portugal, general Ivens Ferraz. Não me recordo bem do motivo que me levou a lamentar, perante esse colega (…), a situação pouco digna em que ambos estávamos: escondidos atrás dum reposteiro, colando, alternadamente, os olhos e os ouvidos ao orifício da fechadura da porta do quarto que os dois estadistas haviam escolhido para aquela entrevista”(pág. 28). Refere, também, a sua intervenção ligada ao mediático crime da Poça das Feiticeiras, “o caso que mais papel e tinta, até hoje, me fez gastar e mais apaixonou o meu cérebro e o meu coração de jornalista.” (pág. 35) , que também o obrigou a espiar.

Para o autor, um jornalista que ocupe um lugar de direcção “deve, tanto quanto possível, insisto, interessar-se, pessoalmente, por este ou aquele género de reportagem. Todos lucrarão com isso: ele, o jornal e o público.” (pág.29).

Hugo Rocha também estabelece pontes entre o jornalismo e a literatura, explicando que “ao jornalista convém ser literato, isto é: lembrar-se de que é homem de letras e a sua prosa tem de agradar e interessar à inteligência e à sensibilidade do leitor, entendo, também, que a preocupação literária não deve levá-lo à frase empolada e retórica nem à minúcia preciosa e ridícula.”(pág. 30). É por isso que, segundo ele, muitos escritores se tornam jornalistas.

Para demonstrar os riscos associados ao exercício do jornalismo e à impreparação das coberturas, numa fase da posterior da obra, o autor conta uma experiência pessoal aquando de uma ida a Moncorvo, na qual passou por situações muito complicadas devido a uma informação imprecisa, acerca de um costume local, que foi mal recebida e tida como ofensa por parte dos habitantes da localidade.

É a partir desta altura que o autor nos demonstra uma visão global do que apresentou até aqui, reiterando a sua crítica a todos aqueles que “atiram pedras” aos jornalistas e ao seu trabalho, dando como exemplo a sua viagem à Bélgica, que teve um final desagradável, visto que, em cima da sua mesa de trabalho, tinha cartas “menos amáveis” contra a sua pessoa.

Nesta altura final da sua obra, faz uma reflexão sobre os falsos jornalistas, aqueles que se auto-intitulam como tal e não o são: “O jornalismo, como, afinal, outras profissões, sofre a praga dos falsos jornalistas. Não faltam, pelo menos em Portugal, uns indivíduos que, sem terem passado jamais por uma banca de redacção, se crêem, na verdade, jornalistas, só porque mandaram imprimir uns centos de bilhetes de visita com o título de jornalista inscrito sob o nome.” (pág. 38).

Aproveita a crítica anterior para mencionar a falta de respeito que várias pessoas ligadas ao cinema manifestam em relação aos jornalistas: “A cinematografia (e, em especial, a norte-americana) apresenta o jornalista, em regra, como um sujeito ridículo, impertinente, desajeitado e teimoso, que as pessoas de qualidade evitam, como se evita um malfeitor, ou afastam, com enfado, quando ele se assedoa no exercício da sua missão profissional.” (pág. 39). Refere, desta vez, o americano Arthur Brisbane, “que, há meses, faleceu em cheiro de santidade…financeira, bem provada, afinal, pela existência duma infinidade de dólares. Chamava-se Arthur Brisbane, trabalhava para o consórcio Hearst e ganhava, apenas, duzentos mil dólares por ano” (pág. 41).

Começa, depois, a realçar a falta de vida amorosa dos jornalistas, devido à não-aceitação das mulheres em geral, porque os primeiros se dedicariam demasiado ao jornalismo e não teriam tempo para a vida familiar e pessoal.

No final, o autor preocupa-se em exaltar os jornalistas do Rio de Janeiro e a organização de que fazem parte, aproveitando para homenagear o Dr. Getúlio Vargas, ex-Presidente do Brasil, pela sua relação de amizade com o jornalismo. Faz, também, uma pequena dedicatória a um português, Adelino Mendes, que sobre jornalismo escreveu o seguinte: “Um jornalista tem de ouvir toda a gente, sem seguir a opinião de ninguém! Um jornalista tem de extrair o próprio ar que respire e da própria luz que o ilumine o conceito seguro, a fórmula lapidar, a palavra justa, tudo o que o habilite com segurança a servir a verdade, quer fotografando o passado, quer p+revendo o futuro. O jornalista destes tempos não é um mendigo de ideias. É um criador de convicções. Não pode ser um dirigido tem de ser um dirigente. Não pode ser um orientado, tem de ser um orientador. De contrário, em vez dum condutor de consciências, seria um palhaço, cujas ridículas piruetas não interessariam a ninguém. Deixaria de ser uma realidade para se transformar numa sombra.” (pág. 45).

Na conclusão, bem como em toda a obra, Hugo Rocha eleva quase ao divino o papel do jornalista, utilizando como conclusão uma célebre frase de Van Menden que defende o jornalista de forma intensa: “Le journalisme est une école de sacrifice. On peut en sortir devenu apôtre des meilleurs idéaux!” (pág. 46).

O autor termina Jornalistas com uma quadra de um grande poeta brasileiro:

Só os que têm amado e têm sofrido,

e, quanto mais sofrido, mais amado,

podem mostrar no coração ferido

o seu altar…o seu apostolado…

Autor: João Henrique Correia Pinto Carvalho de Matos

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