Gastão, M. (1959)

GASTÃO, Marques (1959). A Nobre Condição do Jornalista Diante da Literatura.

Autor: Gastão, Marques

Ano de elaboração (caso não coincida com ano de publicação)

Ano de publicação/impressão: 1959

Título completo da obra: A Nobre Condição do Jornalista Diante da Literatura

Tema PRINCIPAL: Teoria do jornalismo

Local de edição: Lisboa

Editora (ou tipografia, caso não exista editora)

Número de páginas: 32

Cota na Biblioteca Nacional e noutras bibliotecas públicas

Cota da Biblioteca Nacional: P.6379 P.

Cota da Biblioteca Municipal do Porto: y7-5-5-(25)

Esboço biográfico sobre o autor ou autores

[Não encontradas referências.]

Índice da obra

[Não tem índice.]

Prefácio do Presidente da Associação da Imprensa Estrangeira em Lisboa, Luiz Mendez Dominguez - pp. 7 - 8;

Preâmbulo sobre a natureza do Homem, o jornalista e a literatura - pp. 9 – 12;

As qualidades do jornalista e o ensino do jornalismo - pp. 13 – 14;

A competição no jornalismo e o seu resultado - pp. 15 – 16;

Como a notícia deve ser colocada perante o leitor pelo jornalista vocacionado - pp. 16 – 17;

O jornalismo como obra de arte - pp. 18 – 19;

As diferenças entre a literatura e o jornalismo - pp. 20 – 23;

A arte da reportagem - pp. 23 – 26;

Formas do jornalismo como literatura - pp. 27 – 28;

A acção do jornalista perante a sociedade - pp. 29 – 32.

Resumo da obra

O livro aqui resumido corresponde ao texto de uma conferência do autor, Marques Gastão, no círculo de Imprensa Italiana, em Roma, e na sala de Imprensa do SNI.

O autor começa por acentuar que o jornalismo norte-americano e britânico podem servir de exemplo para o jornalismo de outros países, embora também reconheça algum exagero à afirmação.

Embora relembre o papel de Pulitzer na afirmação e ensino do jornalismo, o autor diz que o seu objectivo ao escrever a obra não é destacar o ensino do jornalismo. Segundo o autor, há quem defenda que o jornalista nasce feito e há quem pense que o jornalista se faz através do ensino, como nas outras profissões. Todavia, Marques Gastão não deixa de expressar a sua convicção segundo a qual os jornalistas comuns, mesmo quando ensinados, não chegam a ser autênticos, pois estes últimos têm qualidades que os jornalistas comuns não possuem.

O autor admite que pode parecer contraditório, mas recorda, mais uma vez, o próprio Pulitzer, que defendia o ensino universitário do jornalismo mas que se questionava sobre se todas as condições necessárias para ser jornalista podiam ser aprendidas, visto que várias delas tinham de ser qualidades intrínsecas. “O jornalismo não é uma profissão que se aprende como as outras profissões, pois é preciso improvisar, arrojo e audácia”, escreve Marques Gastão. Para o autor, o jornalista não pode ser uma pessoa indiferente ao que se passa à sua volta, “tem de ser dinâmico, extrovertido e apaixonado pelo que faz”. Desta forma, “não se faz um jornalista como se faz um engenheiro ou doutor”. Desse modo, o autor questiona: “se o jornalista autêntico tiver todos os requisitos de Pulitzer, para que precisa do ensino?”

Marques Gastão afirma que há jornalistas que marcaram o seu lugar no mundo jornalístico sem o ensino universitário. Mas, aqueles que estudam e desde cedo não mostram qualquer valor intrínseco para a profissão, irão falhar no futuro. Para o autor, apesar das escolas de jornalismo que existem na América e na Europa, o estudo não passa de exercícios de redacção, faltando muita prática a quem sai de lá formado.

Gastão relembra também a forte competição que existe no jornalismo, de onde pode surgir o melhor, mas também o pior, criticando “a ânsia das novidades especulativas” que provocam o aumento das tiragens, o industrialismo jornalístico que se sobrepõe ao idealismo.

Passando, seguidamente, às relações entre jornalismo e literatura, tema que dá mote ao título da obra, Gastão defende que, no essencial, o jornalista precisa de ser capaz de expor ao leitor notícias de forma concisa, clara, veemente, pitoresca e exacta, para serem entendidas e compreendidas sem erros, mas, apesar de tudo, o acto de criação do enunciado jornalístico é um acto de criação. O autor cita mesmo António Olinto, que afirmava que o jornalismo tem as mesmas oportunidades para criar obras de arte, como as outras artes.

Para António Olinto, os poetas e escritores valorizam a sua criação acima de tudo, ignorando a possibilidade que o jornalista também tem para criar, até porque a matéria-prima do trabalho do jornalista é a mesma que o poeta e o escritor usam – a palavra. O jornalismo, para Gastão, pode ser uma espécie de literatura diária.

Marques Gastão considera que a única ingratidão para o jornalista é a falta de permanência da notícia, pois esta, ao longo do tempo, tende a perder a sua força, pelo desvanecimento do seu carácter de novidade: “O que pode torturar o jornalista é a permanência. Ligado ao tempo que flui, à notícia que, um dia depois, é capaz de perder a força, sente-se preso ao imediato, à transitoriedade. É preciso, contudo, que ele compreenda o que é Notícia. No plano mais alto, notícia (…) é tudo o que insuflando-se nas palavras, busca uma comunicação”. Assim, o importante no trabalho do jornalista seria, para o autor, que as notícias que faz tenham algo de intemporal, para terem sempre a mesma força.

Para Gastão, a grande diferença entre a literatura diária e a literatura de sempre está na reacção do leitor. A literatura diária, própria do jornalismo, dá lugar a uma reacção imediata; a literatura de sempre gera a sedução da posteridade.

Apesar de tudo, Marques Gastão também acredita que as circunstâncias profissionais e os objectivos informativos dos meios jornalísticos limitam artisticamente o jornalista. Ainda assim, diagnostica que determinados jornalistas cultivam a técnica vocabular e um estilo, enquanto outros não o fazem. Seria errado, portanto, dizer-se que o jornalista não pode ser um artista, até porque “nem todos os poetas escrevem poesia”.

O autor cita, mais uma vez, Olinto, que afirmava que “os jornalistas, poetas e escritores colocam a sua arte num lugar pior que numa organização – ao serviço de uma ortodoxia”, mas para todos, o que importa é a permanência e importância da linguagem.

Marques Gastão defende, assim, em tese, que o trabalho de opinião elaborado por um jornalista pode ser elaborado com arte. Neste caso, o jornalista, enquanto homem com opinião, deve mostrar as coisas como são, mas também fazer as pessoas pensarem. Tanto o jornal como os romances são reflexões sobre a sociedade.

A reportagem, segundo Gastão, também permite a expressão jornalística com arte. A propósito, faz novo paralelo com a literatura. O autor socorre-se, neste ponto, mais uma vez de Olinto, que no seu livro O Sentido da Reportagem explica que embora uma reportagem ou uma notícia façam reviver momentos do quotidiano, com sentido no imediato, uma obra literária pode também morrer com o tempo. Assim, para Gastão, um verdadeiro jornalista consegue fixar a notícia no tempo, tal como um escritor fixa a sua obra. Foi assim, naturalmente, que surgiram os livros de viagem elaborados por jornalistas, explica o autor.

Marques Gastão considera que o jornalista deve contemplar as situações e senti-las da mesma forma que as pessoas sentem. A partir daí, precisa de transformar essas sensações em palavras de uso diário. No entanto, seguindo as regras, não pode transpor para o seu texto as suas emoções, como o escritor faz, o que não o impede de redigir com arte. Aliás, para Marques Gastão nem todos os jornalistas estão viciados na rotina, pelo que as emoções, muitas vezes, aparecem mais sinceras e profundas no texto jornalístico do que num romance. Marques Gastão afirma, porém, que o jornalismo, para assumir uma forma mais literária, sujeita-se à descrição e narração, mas não pode fugir da realidade, ao contrário da ficção.

De acordo com as regras, o jornalista que escreve tenta colocar o leitor numa posição “visual” para compreender o acontecimento. Tem de questionar: “Que coisa aconteceu? Quem provocou a coisa acontecida? Onde foi? Porquê? Para quê?” São estas, segundo Gastão, citando Olinto, as perguntas que têm de ser respondidas na notícia. Uma obra literária não necessita de responder a estas questões todas.

Para Marques Gastão, a reportagem é também um conto, recolhendo factos e pessoas, de incidências boas ou más, para criar no seu próprio enredo, o que a torna próxima da literatura. Todas as reportagens são, para Gastão, contos que o jornalista escreve mas com dados actuais e factuais. O contorno literário e artístico na reportagem obtém-se, diz Gastão, através da utilização de uma linguagem pessoal pelo jornalista. Inclusivamente, o autor recorda que o hábito da reportagem contribuiu para muitos jornalistas poderem escrever jornais.

Realçando pontos cruciais da teoria do jornalismo (relação entre jornalismo e realidade, valores, ética, pressão do tempo e do espaço, constrangimentos organizacionais, rotinas e “vícios profissionais”…), Marques Gastão conclui que, face ao que foi dito, devem acabar os preconceitos contra os jornais e jornalistas capazes de redigir com arte sem fugir aos factos: “o que certos preconceitos procuram anular no jornalista ou no escritor de jornal não é a essência do jornalismo. O que se torna necessário para nós, jornalistas ou escritores de jornal, é que precisamos de manter uma permanente vigilância sobre nós mesmos; sobre o modo como se aproxima da realidade, sobre o seu senso de valores, como sobre a sua mistura de resistência e adaptação à pressão do tempo, do espaço e do público. (…) Gostaríamos, de resto, que alguns dos que combatem o jornalismo e os jornalistas e até aqueles que negam ao jornalismo a classificação de Obra de Arte, eles que não são Escritores de Jornal (…) se vissem dentro da fogueira onde arderam também Jack London, Chersterton, Hemmingway e tantos mais” (p. 32).

Nome completo do autor da ficha bibliográfica: Rita Daniela Alves Pereira

E-mail: ritapereira87@gmail.com