Reis, F. (1943)

REIS, Fernanda (1943). O Jornalismo Colonial na Metrópole.

Autor: REIS, Fernanda

Ano de elaboração (caso não coincida com ano de publicação): 1943

Ano de publicação/impressão: 1943

Título completo da obra: O Jornalismo Colonial na Metrópole

Tema principal: Conjuntura jornalística

Local de edição: Lisboa

Editora (ou tipografia, caso não exista editora): Agência Geral das Colónias

Número de páginas: 21

Cota na Biblioteca Nacional e eventualmente noutras bibliotecas públicas

Biblioteca: Biblioteca Nacional

Cotas: L.13142//3V.

Biblioteca: Biblioteca Pública Municipal do Porto

Cotas: I3-1-69(32)

Esboço biográfico sobre o autor ou autores (nascimento, morte, profissão, etc.)A autora era jornalista.

Índice da obra [Não tem índice]1. Problemas relacionados com o carácter industrial do jornalismo português, incluindo a subserviência aos proprietários e a busca do lucro: pp. 7-9

2. Inexistência de jornalismo sobre as colónias (“jornalismo colonial”) na metrópole: pp. 9

3. Possibilidades do jornalismo colonial na metrópole: pp. 9-21

Resumo da obra (linhas mestras)Esta obra é a versão escrita de uma conferência da jornalista Fernanda Reis sobre o jornalismo colonial, constituindo a separata do nº 220 do Boletim Geral das Colónias.Diz Fernanda Reis que, ao tempo, não existia, em Portugal, aquilo a que poderia chamar “jornalismo colonial” (p. 5).

A autora sustenta, a propósito, que o jornalismo português, apesar de não ter a magnitude de outros jornalismos, não deixa de possuir os mesmos defeitos, incluindo aqueles que António Sardinha, citado por Fernanda Reis, classificou como sendo os da “industrialização da inteligência”. Este conceito, na versão do seu proponente, traduz a ideia de que a imprensa é movida por uma finalidade comercial, pelo que não se interessa por temas que não despertem a curiosidade do público (p. 6)

De facto, continua Fernanda Reis, a preocupação das vendas leva a que muitas vezes se dediquem “largos espaços” a “assuntos de carácter obscuro tratados com um sentido oportunista sob o imperativo daquilo a que, em gíria das redacções, se chama «vender mais papel»”. (p. 6)

Diz a autora que, assim, progressivamente, se vai atrofiando o sentido e a finalidade da imprensa – divulgar cultura, informar com verdade e ponderação, esclarecer e orientar. De facto, a imprensa industrializada daria, para Fernanda Reis, relevo a uma única preocupação: provocar a venda de maior número de exemplares e satisfazer a curiosidade, muitas vezes mórbida, dos leitores e obter, graças ao aumento das tiragens e da circulação, um aumento da publicidade comercial (p. 6).

Sustentando a sua afirmação, para a autora bastaria dar uma vista de olhos pelos jornais de então (1943) para se perceber a “desoladora falta de substância”, a “alarmante abundância de matéria puramente especulativa” e os “largos espaços absorvidos pelos serviços”, as “notícias insignificantes, de interesse restrito às camadas menos instruídas da população” e ainda a “abundância de reportagens fúteis e aborrecidas” (p.7).

Segundo Fernanda Reis, a culpa da situação que relata não é dos jornalistas, porque ela reconhece que os jornalistas portugueses têm “talento”. Faltar-lhes-ia, isso sim, “oportunidade de o exteriorizar”, uma vez que o jornalista português estaria, na maioria dos casos, e como realça Fernanda Reis, “submetido a um regime de amanuensado tristonho, lançado para a indiferença apática da burocracia” que lhe travaria “qualquer iniciativa”. Como disse Mestre Agostinho Campos, citado pela autora, sobre as redacções, estas ter-se-iam, então, transformado em “catacumbas de talentos assassinados pelo mercantilismo do papel impresso”.

Fernanda Reis realça, também, a falta de imparcialidade dos jornais, primeiramente submetidos à vontade particular dos donos e só depois buscando ser órgãos “de um pensamento ou de um objectivo colectivo” (p. 8). Esta falta de organização impedia, para ela, a afirmação do jornalismo colonial na metrópole, ou seja, impedia que os jornais da metrópole dessem mais informações, e mais relevantes, sobre o que se passava nas então colónias portuguesas.

Na opinião de Fernanda Reis, o jornalismo colonial não era, de todo, inviável. Aliás, a existência de um Império Português seria, para ela, uma boa razão para o seu estabelecimento. Mas a falta de atenção da Metrópole sobre o que se passava nas colónias seria gritante, sendo comuns, segundo a autora, encontrarem-se nos jornais de Angola e Moçambique amargas queixas a respeito do silêncio dos grandes jornais metropolitanos. A esta situação acresceria ainda o facto de, em consonância com Fernanda Reis, os assuntos coloniais serem tratados com pouco rigor e de forma, por vezes, demasiado sensacionalista.

Fernanda Reis fala de alguns exemplos, como a errada localização do rio Cuanza na União Sul-Africana ou ainda de uma notícia absurda construída a partir de um take de uma agência noticiosa. O take dizia: “Autoridades vão empreender campanha tendente defender população malefícios “tsé-tsé” ponto Chegará breve brigada sanitária”. A notícia construída a partir do take afirmava: “As autoridades estão alarmadas com as ferozes manadas de “tsé-tsé que atacam as populações indígenas. Os ferozes animais, cujos malefícios atingem sérias proporções, vão ser combatidos com energia. Está prestes a chegar aqui uma brigada de experimentados caçadores que, a expensas do Estado, vão proceder a batidas nos matagais até exterminar as terríveis manadas de feras.” (p. 10)

Segundo Fernanda Reis, o jornalismo colonial, isto é, o jornalismo sobre as então colónias protuguesas, deveria ser um jornalismo de divulgação e orientação, ou seja, teria de ter uma função de utilidade pública, contribuindo para o bem da comunidade, do progresso moral, intelectual e social da nação. A sua missão teria de ser exercida livre de influências e de sugestões que não fossem exclusivamente as ditadas pelos interesses nacionais (p. 12). De qualquer modo, e de acordo com Fernanda Reis, antes de mais o jornalismo, colonial ou não, teria de ser sinónimo de compreensão. Por isso, a autora recorda uma frase de Pedro Mayer Garção num texto publicado no Diário de Lisboa: “o pensamento de todo o jornal, por mais elevada ou pragmática que seja a missão que se imponha, consiste evidentemente em ser compreendido para o público a que se destina.” (p. 13).

Assim sendo, segundo Fernanda Reis, quanto à linguagem, o jornalismo colonial deveria empregar um vocabulário simples e correcto, de modo a conseguir “incidir nas camadas populares” e em todos aqueles que poderiam vir a desempenhar uma missão no Império Português a qualquer altura. Os assuntos deveriam, no entanto, ir de encontro à preferência dos leitores, sem descurar do seu objectivo básico de ensinar (p. 14).

Cultivar, ensinar, cimentar uma consciência, fortalecer as energias intuitivas, atrair a juventude para os temas imperiais sem correr o risco de fatigar com exposições desusadas e enfadonhas, eis o que o jornalismo colonial, na óptica de Fernanda Reis, poderia fazer, com uma organização cuidadosa e um claro sentido do sistema a empregar e dos objectivos a atingir.

A encerrar o texto, e a conferência, Fernanda Reis relembra que o povo português “procura obter conhecimentos, deseja cultivar-se e não se fatiga em ler, (…) porque quer saber” devendo, portanto, o jornalismo colonial ir de encontro a esse desejo, constituindo, ainda, uma poderosa arma de cooperação para o Estado (p. 19).

Nome da autora da ficha bibliográfica: Juliana Ribeiro

E-mail: julianaribeiro86@gmail.com

SEGUNDA FICHA

Autor: REIS, Fernanda

Ano de elaboração (caso não coincida com ano de publicação): 1943

Ano de publicação/impressão: 1943

Título completo da obra: O Jornalismo Colonial na Metrópole

Tema principal: Conjuntura Jornalística

Local de edição: Lisboa

Editora (ou tipografia, caso não exista editora): Agência Geral das Colónias (Separata do Nº 220 do Boletim Geral das Colónias)

Número de páginas: 22

Cota na Biblioteca Nacional e eventualmente noutras bibliotecas públicas

Biblioteca: Nacional

Cotas: L.13142//3V

Biblioteca: Municipal do Porto Cotas: I3–1–69 (32)

Esboço biográfico sobre o autor ou autores (nascimento, morte, profissão, etc.)A autora era jornalista

Resumo da obra (linhas mestras) O livro “O jornalismo colonial na metrópole” aborda a falta de um jornalismo colonial na metrópole. A autora começa por expor esse assunto ao mesmo tempo que se compromete a revelar o/os culpado/os, eliminar o problema e demonstrar o que poderá ser o jornalismo colonial na metrópole.Para clarificar a sua opinião, Fernanda Reis decide caracterizar o jornalismo português. Este tem, essencialmente, uma finalidade comercial, usando, se necessário, “todos os motivos susceptíveis de aguçar a curiosidade das multidões”, para aumentar as tiragens, a venda e, assim, aumentar as receitas. Isto “atrofia (…) o sentido da verdadeira e nobre finalidade da imprensa – divulgar cultura, informar a verdade com verdade e ponderação, esclarecer e orientar”.

O facto é que Fernanda Reis detecta no jornalismo português uma falta de matéria verdadeiramente jornalística e uma grande quantidade de matéria especulativa. Mas não culpa, por tal, os jornalistas nacionais. Na sua opinião, estes desejam “servir os altos objectivos da nação”. No entanto, a industrialização impõe-lhes “regras”. Os jornalistas portugueses, para ela, não escrevem o que pensam. Escrevem aquilo que os donos das empresas industriais querem e/ou pensam. Assim sendo, conclui que a industrialização interfere com a produção jornalística.

Por outro lado, diz Fernanda Reis, o conteúdo da produção destes jornalistas é influenciado pelas amizades ou inimizades pessoais dos responsáveis pelas redacções e dos grandes senhores das empresas.

E conclui, também, que a organização da imprensa portuguesa explica, em parte, a ausência de um jornalismo colonial.

A partir daqui, Fernanda Reis questiona a viabilidade de se criar um jornalismo de feição colonial na capital portuguesa. Ela considera uma hipótese exequível desde que se evitem “os interesses, as vaidades, os planos gananciosos, as especulações grosseiras” e se lute contra a rotina. E classifica tudo com uma “questão de perseverança, de inteligência e de dedicação”.

A autora refere, de seguida, que nos jornais de Angola e Moçambique se encontram “queixas” relativamente ao silêncio dos jornais metropolitanos sobre os problemas coloniais, ou então, “ironias” a propósito dos erros cometidos pela imprensa da Metrópole a respeito de assuntos das colónias.

Afirmada a viabilidade da criação de um jornalismo colonial na metrópole, Fernanda Reis procura justificar a importância deste. O jornalismo colonial na metrópole é, segundo ela, “indispensável para o esclarecimento e orientação da nossa opinião pública, a respeito das coisas imperiais”. E a autora acrescenta que o público metropolitano se interessa pelas coisas coloniais. Assim sendo, estas duas premissas servem de base para o êxito do jornalismo colonial.

De seguida, Fernanda Reis, diz-nos como é que o jornalismo colonial deverá ser: “um jornalismo de divulgação e de orientação”, onde se divulgue tudo quanto um português deva saber sobre o Império e onde se oriente a mentalidade metropolitana para uma compreensão racional do que se passa com as gentes da colónia.

Este jornalismo deverá ter uma função de utilidade pública, ou seja, zelar pelo “bem da comunidade, do progresso moral, intelectual e social da nação” e nunca ficar à mercê do industrialismo. E o jornalismo colonial na metrópole deverá ser exercido, defendendo os interesses nacionais e não interesses particulares, por quem só se preocupe em servir o Império.

Após esta reflexão, Fernanda Reis admite, em hipótese, que se decidira fundar um jornal de feição colonial na metrópole. De seguida exemplifica como o suposto jornal deveria ser.

Primeiramente, refere a quem se destinaria: principalmente às camadas populares, mas sem esquecer todas as outras. Só assim se poderia falar em generalização. Como se dedica ao grande público, o jornalismo colonial na metrópole deverá ser “simples, atraente, servido por uma forma literária correcta e facilmente assimilável”, não entrando em temas muito complexos que requeiram conhecimentos prévios. Isto não significa que se vá pelo caminho da superficialidade, muito pelo contrário. Os moldes simples e de forma acessível não são incompatíveis com a profundidade dos temas e com a excelência de quem escreve.

De seguida, a autora indica os alicerces que o jornalismo colonial na metrópole deveria ter para singrar: uma “capacidade de sugestão pela prosa e pela imagem, simplicidade de forma, cuidadosa selecção dos assuntos, perfeito sentido de oportunidade, aspecto gráfico atraente, preço acessível de cada exemplar”.

Depois de “imaginado” o jornal colonial na metrópole, Fernanda Reis fala de algumas publicações onde se fala das colónias. Mas estas publicações (revistas e livros), segundo a autora, estão longe de substituir o jornal, pois o seu preço e o seu cunho científico afastam-nas do povo. O jornalismo colonial na metrópole, para ela, é essencial e insubstituível, porque só ele poderá “ensinar, cultivar, alimentar uma consciência, fortalecer as energias intuitivas, atrair a juventude para os temas imperiais sem correr o risco de a fatigar com exposições desusadas e massudas”.

Já perto do final da sua exposição, Fernanda Reis fala de uma outra missão do jornalismo colonial na metrópole: permitir a todos os portugueses, da metrópole ou que vivam no ultramar, incluindo os jovens, a discussão sobre temas do Império. A experiência dos mais velhos aliar-se-ia à energia dos mais novos, permitindo não só a aproximação de gerações, mas também um conhecimento mais profundo das causas coloniais, para todos.

Concluindo, Fernanda Reis reitera a ideia de que o povo português gosta de ler, gosta de saber. E, acerca dos temas imperiais não tem onde ir buscar esse conhecimento. O jornalismo colonial na metrópole iria consolidar a mentalidade imperial dos portugueses e revelar o amor de cada um para com o Império.

Em 1943, Fernanda Reis afirmou que “o jornalismo colonial na metrópole virá a ser uma realidade”.

Autor (nome completo): Patrícia Oliveira Teixeira

E-mail: tichasd@hotmail.com