Oliveira, C. (1973)

OLIVEIRA, César (1973). Imprensa Operária no Portugal Oitocentista (1825-1905).

Autor: OLIVEIRA, César

Ano de publicação/impressão: 1973

Título completo da obra: Imprensa Operária no Portugal Oitocentista: de 1825 a 1905

Tema PRINCIPAL: História do Jornalismo

Local de edição: Lisboa

Editora: Editorial Império

Número de páginas: 31

Cota na Biblioteca Nacional e noutras bibliotecas públicas

Cota na Biblioteca Nacional: P. 218 V.

Esboço biográfico sobre o autor

César Oliveira nasceu em 1947, na Amadora. Era licenciado em Ciências Histórico - Filosóficas, pela Universidade Clássica de Lisboa, onde regressou como professor, entre 1947 e 1988. Foi director do Diário de Lisboa, entre 1975 e 1989. Morreu a 24 de Novembro de 2006 de acidente de avião na América Latina.

Índice da obra

[Não tem índice.]

1. Introdução: p. 5

2. A sociedade portuguesa oitocentista: pp. 6-8

3. O espírito oitocentista, o jornalismo, a política e a questão da liberdade de expressão: pp. 9-12

4. A imprensa operária no Portugal oitocentista: p. 12-19

Bibliografia: p. 19

Anexo I - Quadros Estatísticos: pp. 20-21

Anexo II – Inventários da Imprensa Operária e Popular: pp. 22-26

Anexo III – Distribuição Geográfica dos Periódicos: pp. 27-28

Anexo IV – Criação de Periódicos: pp. 29-30

Resumo da obra (linhas mestras)

Esta obra resulta da tentativa de responder às questões: qual o significado, como se articulou, e qual a importância da imprensa operária no Portugal oitocentista?

Segundo o autor, como ainda não era possível precisar a trajectória evolutiva da sociedade oitocentista em Portugal, este livro é meramente uma interpretação possível deste trajecto. Os dados analisados resultam, revela César Oliveira, de um estudo aprofundado da sociedade oitocentista, feito cerca de quatro anos antes do lançamento da obra.

A sociedade Portuguesa do século XIX caracterizava-se, diz o autor, pela “consciência das persistências das relações sociais do antigo regime com um processo lento, complexo e sinuoso de transformações capitalistas” (p.6). Até meados do século XIX, relembra o autor, Portugal era constituído por grupos económico-sociais isolados, cuja informação económica e cultural era trazida através de uma precária rede de navegação costeira. No entanto, com a Regeneração e o Fontismo, consolidou-se o liberalismo e surgiram as redes ferroviárias e rodoviárias que permitiram uma maior circulação de pessoas e ideias, quebrando o isolamento cultural e económico das regiões do interior. A rede ferroviária foi, na opinião do autor, o elemento mais importante na evolução do país, contribuindo para o desenvolvimento comercial, para a implantação de novas indústrias, para a circulação mais rápida do correio, para a integração dos mercados regionais, e principalmente para impulsionar a circulação de ideias. No final do século XIX, relembra César Oliveira, o crescimento urbano, em particular de Lisboa, potenciou as tensões sociais que, agudizadas pela crise económica e financeira, pelas consequências da Conferência de Berlim e do Ultimato Inglês, permitiram o crescimento do Partido Republicano e, finalmente, a queda da Monarquia.

César Oliveira salienta, então, que com o desenvolvimento económico e social e as transformações políticas se assistiu à fundação exponencial de jornais. Relembra, ainda, o autor que a imprensa oitocentista contou com a colaboração da maioria dos políticos, animados pelos ideais liberais e pelo clima de relativa liberdade de expressão. O artigo político e os jornais políticos tornaram-se, assim, elementos identitários da imprensa da época. Mas, uma vez que a rede de transportes era fraca, lembra também o autor, grande parte dos periódicos tinham um período de vida muito curto e a sua circulação restringia-se às urbes onde eram publicados, em especial em Lisboa e Porto, onde o número de analfabetos era menor.

César Oliveira é de opinião que, nessa época, a revista Panorama, generalizou o gosto pela leitura e fomentou o espírito da “Ilustração”. Os folhetos volantes, por seu turno, tornaram-se uma importante forma de difusão e discussão de temas polémicos.

Continuando o seu diagnóstico sobre as condições que permitiram o desenvolvimento do jornalismo no século XIX, César Oliveira recorda o desenvolvimento da via ferroviária, veículo que trazia da Europa as grandes ideias inovadoras, bem como a introdução do telégrafo, que acentuou a rapidez da informação. Segundo o autor, a imprensa promoveu, em consequência, o interesse de Portugal pela Europa. Por essa altura, salienta, igualmente, César Oliveira, os jornalistas tornaram-se “praticamente” profissionais e os jornais começaram a ser geridos como empresas. O sucesso comercial e a concorrência ganharam peso no mundo jornalístico e criaram condições para a crescente inclusão de publicidade nos periódicos.

Por volta de 1880, “começa a difusão da imprensa periódica pelo interior (…). Este fenómeno da imprensa regional prolonga-se até ao findar do último quartel do século XX. Só a grande imprensa e a sua circulação rápida obrigaram ao declínio da imprensa regional, ao mesmo tempo que desaparecia a vida política localizada. À medida que o final do século se aproximava, alargava-se o leque da temática e das especialidades [dos jornais]”, continua o autor, evidenciado que a imprensa não cresceu só em quantidade mas também em diversidade, revelando-se um educador cultural e um elo de ligação entre as sociedades urbanas e sociedades não-urbanas. O autor reconhece, assim, à imprensa oitocentista uma influência “considerável” (p. 12) em Portugal, potenciada, inclusivamente, pela diminuição do analfabetismo, pese embora o facto de, em média, existir um número de jornal para cada quarenta habitantes em meados do último quartel do século XIX.

Foi nesse contexto que, segundo o autor, a imprensa operária se desenvolveu, inicialmente de forma tímida, até porque foi lentamente que os trabalhadores portugueses se começaram a associar em sindicatos e outras entidades. A extinção das corporações, em 1834, sublinha César Oliveira, facultou, nesse contexto, “a entrada dos trabalhadores no mercado de trabalho, como verdadeira mercadoria livre de limitações” (p. 13). Por outro lado, evoca o autor, a implantação geográfica da imprensa operária limitou-se, essencialmente, ao litoral urbanizado e industrializado. É ilustrativo verificar, ao analisar os quadros 1 e 2 da página 14 e o Anexo I, que o rápido crescimento da imprensa acompanha o crescimento urbano, nomeadamente da população lisboeta.

Entre 1850-1905, a imprensa operária, segundo o autor, pode dividir-se em dois grandes grupos: a imprensa ligada às diferentes associações profissionais e a imprensa de doutrinação e formação. Contudo, ambos os tipos de imprensa se transformavam e remodelavam consoante as mutações do movimento operário.

O autor, seguidamente, esquematiza as principais fases do movimento operário português, inserindo neles a imprensa operária:

A) 1850-1871: Período de associativismo mutualista português.

Neste período, existiram 24 periódicos operários de curta duração, maioritariamente semanais ou mensais. Segundo o autor, o Eco dos Operários foi o mais importante e influente jornal operário da época.

Na imprensa do operariado, os principais temas eram a doutrina e teorias socialistas, as reclamações por parte de grupos profissionais, as colaborações literárias, os discursos e comentários relativos ao Governo, etc.

B) 1871-1877: Da colaboração à luta de classes.

Neste período, em que se fundaram onze jornais operários, a imprensa operária adquire maioritariamente uma feição socialista, impulsionada, inclusivamente, pela fundação do Partido Socialista, em 1875, que publicava O Protesto, em Lisboa, e O Operário, no Porto, de cuja fusão emergiu O Protesto Operário.

Nessa época, recorda o autor, o movimento operário português foi transformado pela criação da Aliança da Democracia Socialista e, depois, pela Associação Federativa da Resistência Operária; pelo exemplo da Comuna de Paris e pelas críticas ao liberalismo. O jornal O Pensamento Social, primeiro a lutar assumidamente por uma revolução socialista em Portugal e a divulgar o pensamento marxista e anarquista, foi um dos mais importantes dessa época. Os extremistas socialistas que viam no sufrágio um embuste concentraram-se, por seu turno, em volta de jornais como o Proletariado Militante, mas o grupo que esteve na origem do Partido Socialista, grande parte deles republicanos e ligados à Maçonaria, opôs-se, segundo o autor, à luta de classes e propôs, ao invés, uma “aliança de classes” contra a Monarquia, sendo as suas posições ecoadas por O Protesto, O Operário, O Protesto Operário e A Voz do Operário.

Pelo final desse período, o Partido Socialista, onde se digladiavam facções, que procurava captar votos no mesmo espaço do Partido Republicano e cujos apoiantes maioritariamente não tinham direito de voto, entrou em crise.

C) 1877-1906: Período da ascensão do anarco-comunismo e de reactivação das associações de classe (legalizadas em 1896)

Neste período assiste-se a uma grande expansão da imprensa operária, tendo-se, inclusivamente, assistido não só à criação de jornais operários fora do litoral mais urbanizado e industrializado (a partir de 1900) mas também à criação de jornais operários católicos, que competiam com os jornais de orientação socialista e marxista. No entanto, a acção dos jornais socialistas e anarquistas foi refreada por uma lei de 13 de Fevereiro de 1896, que proibia a propaganda anarquista e comunista sob pena de degredo para Timor.

César Oliveira evoca, nesse contexto, o jornal A Revolução Social, fundado em 1877, no Porto. Os seus ideais eram a “recusa da luta política e da legalidade dos meios de acção e a recusa de submissão a toda a autoridade” (p. 18) e tinha como lema “Comunismo e Anarquia”. Era marcadamente internacionalista, tendo publicado numerosas traduções e desenvolvido campanhas de apoio a anarquistas estrangeiros. Extinguiu-se em 1891, mas a sua orientação foi prosseguida em jornais como A Revolta, O Germinal, O Agitador e A Obra.

Em 1908 criou-se o primeiro jornal diário operário português: A Greve. Por esta altura, explica César Oliveira, há uma aliança entre os anarquistas e os sindicalistas revolucionários que, embora conflituosa, contribuiu para “o desaparecimento do Partido Socialista da actividade junto dos trabalhadores e produziu, após a implantação da República, um espantoso surto da imprensa operária.” (p. 19)

Nome completo do autor da ficha bibliográfica: Carolina Cardoso Pinto Ferreira da Silva/Jorge Pedro Sousa

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